Pessoas que convivem com doenças pulmonares muitas vezes dependem de equipamentos para obter o oxigênio necessário para a vida. Mas manter esses equipamentos ligados durante todo o dia gera altos custos com energia elétrica. Era o caso de Marinna Lucia Poço Gonsales Conegundes, que sofreu um grave AVC há cerca de três anos, ficou internada por dois meses e desde então precisa de atenção especial.
As sequelas do AVC trouxeram complicações pulmonares para Marinna. Por isso, ela depende do concentrador de oxigênio para respirar. Suas irmãs, Carmen e Edna, que vivem com ela e proporcionam esses cuidados, acabavam gastando demais com energia elétrica. Mas esta realidade mudou. As irmãs receberam uma mensagem informando que Marinna havia sido inscrita no programa de concessão de placa solar pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
“A instalação da placa solar funciona mesmo, porque o custo da minha irmã com energia era de mais de R$ 300 e baixou pela metade depois que recebemos os painéis”, conta Carmen.
O projeto “Sol-Ar, sol para respirar: energia solar fotovoltaica para eletrodependentes” foi idealizado e executado pela Abraf – Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Arterial e Doenças Correlatas, para dar suporte a famílias que necessitam utilizar concentrador de oxigênio em seu lar. A iniciativa prevê instalar placas fotovoltaicas nas residências de pessoas que vivem com doenças pulmonares.
“Sabemos que a oxigenioterapia domiciliar é um tratamento fundamental para muitos pacientes e que o impacto financeiro, devido ao aumento no valor da conta de energia, acarreta dificuldades para muitas famílias”, explica Flávia Lima, presidente da Abraf.
Pacientes com hipertensão pulmonar, asma grave e DPOC
Seis pacientes eletrodependentes que usam oxigênio suplementar ao menos 12 horas por dia já receberam a instalação gratuita de placas solares em suas residências, nas regiões atendidas pela Enel: São Paulo, Santo André e Rio Grande da Serra.
Também foram beneficiadas pessoas que têm hipertensão pulmonar, asma grave e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Um dos beneficiados é Walmir Lahós Moscardi, de 65 anos, que tem DPOC.
“Se o aparelho de oxigênio ficar ligado direto, 24 horas por dia, a conta de energia seria impagável. Agora a conta baixou bastante. O equipamento ajuda muito e a energia solar mais ainda”, afirma.
Ele sempre trabalhou como autônomo, seja como motorista de caminhão seja como empresário. Em suas palavras, se não fosse o cigarro e o fôlego, teria uma “saúde de ferro”.
Edital que previa beneficiar 50 pessoas foi afetado pela pandemia
O Sol-Ar foi contemplado em edital de seleção de projetos sociais através do Programa Luz Solidária, da Enel, em 2020. A proposta foi selecionada entre projetos de geração de renda, qualificação, direitos humanos ou meio ambiente.
Segundo Flávia, a Abraf abriu inscrições em 2020 para pessoas interessadas em participar do projeto. Além disso, foi feita uma cooperação com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP) para identificação de usuários de Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada (ODP) elegíveis para beneficiarem-se de instalação gratuita de módulos fotovoltaicos (placas solares).
Mas o contexto da pandemia atrasou a execução do projeto. Entre o período da submissão da proposta à Enel e a execução do projeto, nos anos de 2021 e 2022, o valor das placas solares sofreu um aumento significativo, o que reduziu a possibilidade de instalação no número previsto de residências.
Se a previsão era beneficiar 50 pessoas (10 pacientes eletrodependentes e 40 familiares), a Abraf pôde beneficiar 30 pessoas (6 pacientes eletrodependentes e cerca de 24 familiares).
O projeto foi realizado em várias etapas: análise socioeconômica de despesa energética domiciliar, contratação do fornecedor com proposta de melhor custo-benefício, parceria com a SMS-SP, vistorias técnicas de residências para avaliar as condições estruturais para instalação das placas solares, seleção dos locais que atendessem a todas as condições, desenvolvimento dos projetos, documentação e homologação junto a concessionária e conexão do sistema a rede de distribuição.
“Vamos continuar lutando para que projetos como o Sol-Ar sejam replicados pelo Brasil. Precisamos também defender políticas públicas que atendam às necessidades de quem precisa de energia elétrica para respirar”, diz Flávia.
Saiba mais detalhes do projeto no site da Abraf.