Nos últimos anos, observou-se um aumento nos casos de dermatite atópica (DA), uma doença inflamatória e crônica da pele, recidivante e que tem como principal sintoma o prurido, ou seja, coceira que pode surgir em diferentes partes do corpo. Como afeta mais crianças, o aumento na incidência de casos vem preocupando pediatras brasileiros.
No Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia Pediátrica, realizado no final de março, foram apresentados dados que mostram a maior prevalência da doença nos últimos anos. Uma das possibilidades é a relação entre ambiente e alergias. Questões como mudanças climáticas, gases de efeito estufa e maior contentração de poluentes são fatores que podem contribuir para o aumento da doença.
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) lembra que estudos recentes indicam que poluentes ambientais, especialmente microplásticos, desempenham um papel significativo na modificação da barreira cutânea, tornando-a mais permeável e desencadeando respostas inflamatórias que podem agravar essa condição.
Microplásticos, partículas plásticas com menos de 5 milímetros resultantes da degradação de plásticos maiores, estão presentes em nosso ambiente. Eles foram detectados não apenas no solo e na água, mas também no ar que respiramos. Evidências recentes revelaram a presença de microplásticos em locais preocupantes como sangue, leite materno e até mesmo na placenta humana”, conta Márcia Carvalho Mallozi, coordenadora do Departamento Científico de Dermatite Atópica da Asbao.
Além disso, segundo Dra. Mallozi, o expossoma, que é a interação entre o ambiente externo e os fatores internos do corpo humano, incluindo o microbioma da pele, pode alterar os sistemas biológicos.
Um microbioma desequilibrado, onde bactérias benéficas são menores que bactérias potencialmente prejudiciais, pode comprometer a integridade da pele e facilitar o desenvolvimento de condições como a dermatite atópica”, explica o especialista.
A crescente urbanização e industrialização têm intensificado a exposição a vários poluentes, incluindo fumaças industriais e produtos químicos domésticos. O ambiente urbano, somado às alterações climáticas e eventos extremos como tempestades e incêndios florestais, contribui significativamente para a deterioração da qualidade do ar e do ambiente que nos cerca.
Dra. Mallozi comenta ainda que a Amazônia, frequentemente denominada o pulmão do mundo, sofre com queimadas e desmatamento acelerados, agravando ainda mais o impacto da poluição atmosférica. “Esses fatores, combinados, criam um cenário preocupante para a saúde pública, com a dermatite atópica emergindo como uma das doenças mais prevalentes em decorrência dessas mudanças ambientais”, diz a Coordenadora da ASBAI.
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A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é uma condição crônica da pele, caracterizada por ressecamento, coceira intensa e vermelhidão. É comum em crianças (a incidência fica entre 15% e 20%), mas também afeta de 3% a 7% dos adultos globalmente. No Brasil, estima-se que a prevalência siga uma tendência semelhante à média mundial, com uma incidência maior em crianças.
A condição tende a piorar em temperaturas mais baixas. Isso acontece porque as baixas temperaturas reduzem a umidade do ar, ressecando ainda mais a pele e comprometendo sua barreira natural. Resultante de uma combinação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos, o paciente com dermatite atópica apresenta sintomas que geralmente incluem:
- Coceira intensa, quase insuportável
- Pele seca e escamosa, propensa a fissuras
- Inflamação da pele e vermelhidão
- Erupções cutâneas que podem aparecer em qualquer parte do corpo, mas são mais comuns nas dobras dos cotovelos, joelhos e pescoço.
Você sabia…
Urticária, dermatite atópica e outras alergias não são originadas pela emoção, não tem origem psicológica e nem ocorre por estresse. Quem tem urticária crônica, dermatite atópica ou outro tipo de alergia crônica, seja pela coceira ou pelo aspecto das lesões na pele, acaba tendo a insegurança. Não saber quando vai ter uma crise ou não, pode levar a transtornos psicológicos com impacto nos vários aspectos da vida social e afetiva.
Tudo isso junto, em algumas pessoas mais predispostas, pode levar a quadros de depressão e ansiedade por causa do impacto global na qualidade de vida. É importante ressaltar que não são todos os pacientes que terão depressão.