Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro de 2023, apenas para tratar diabetes, o medicamento Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, tem como princípio ativo a tirzepatida, substância que age como um receptor imitando dois hormônios: o GIP e o GLP-1, responsáveis pelo controle glicêmico, que melhoram a liberação de insulina após uma refeição, ou seja, o controle da taxa de açúcar no sangue.

Em segunda opção, a tirzepatida também atua na perda de peso, pois retarda o esvaziamento do estômago, inibindo os sinais de fome e fazendo com que seus usuários sintam-se saciados por mais tempo. Essa substância, aplicada em doses diferentes, apresentou melhores resultados no controle de glicemia e da perda de peso, quando comparado, por exemplo, com o famoso e já utilizado em solo brasileiro, Ozempic.

Um novo estudo clínico conduzido pela farmacêutica Eli Lilly revelou resultados promissores para a tirzepatida, princípio ativo presente nos medicamentos Mounjaro e Zepbound, no tratamento de obesidade e sobrepeso. A pesquisa comparou a tirzepatida com a semaglutida, base do Ozempic e Wegovy, com uma redução 47% maior, especialmente em pacientes que perderam mais de 25% do peso corporal.

Os resultados do estudo SURMOUNT-5, anunciados neste dia 4 de dezembro, revelam que a tirzepatida, princípio ativo dos remédios Zepbound e Mounjaro, foi mais eficaz que a semaglutida, do Wegovy e do Ozempic, da Novo Nordisk, na perda de peso. A pesquisa mostrou que o grupo que utilizou a tirzepatida perdeu, em média, 20,2% do peso corporal, contra 13,7% no grupo que recebeu a semaglutida.

Ambas as substâncias pertencem à classe dos análogos de GLP-1, com a semaglutida atuando como um hormônio da saciedade e a tirzepatida combinando dois hormônios intestinais, potencializando seus efeitos e com benefícios comprovados.

Embora a tirzepatida tenha mostrado superioridade, tanto o Wegovy quanto o Zepbound são aprovados pela Anvisa e possuem espaço no tratamento da obesidade, com eficácia comprovada e oferecendo resultados significativos para diferentes perfis de pacientes.

Após as 72 semanas do estudo, a tirzepatida mostrou-se superior a semaglutida no desfecho primário e em todos os cinco desfechos secundários principais do estudo, que foi realizado com adultos com obesidade ou sobrepeso, sem diabetes, e com pelo menos uma comorbidade relacionada à obesidade”, diz o estudo.

Redução estimada de peso

A redução de peso alcançada com uso do medicamento é baseada na estimativa de regime de tratamento. Essa estimativa representa a eficácia independentemente da adesão ao tratamento randomizado e da iniciação de outros medicamentos antiobesidade (exceto a troca para tirzepatida ou semaglutida que não façam parte do estudo). Essa estimativa assume que os participantes que realizaram procedimentos de perda de peso durante o estudo não obtiveram qualquer benefício do seu tratamento randomizado.

Em um desfecho secundário principal do SURMOUNT-5, 31,6% das pessoas que receberam tirzepatida alcançaram perda de peso corporal de, pelo menos, 25% comparado a 16,1% daqueles que receberam semaglutida. O perfil geral de segurança de tirzepatida no SURMOUNT-5 foi semelhante aos estudos SURMOUNT realizados anteriormente.

Por conta do interesse em torno de medicamentos para o tratamento da obesidade, nós realizamos este estudo para suportar tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes, para que possam tomar as decisões de tratamento mais adequadas e baseadas em evidências científicas “, afirma Leonard Glass, vice-presidente sênior de assuntos médicos globais da área de Cardiometabolismo da Lilly.

Os eventos adversos mais comumente relatados no estudo tanto para tirzepatida quanto para semaglutida foram relacionados ao trato gastrointestinal, e em gravidade foram considerados de leves a moderados. A Lilly ainda informou que continuará a avaliar os resultados do SURMOUNT-5, que serão publicados em um periódico revisado por pares e apresentados em um congresso médico em 2025.

Estamos muito animados com os resultados que mostram como a tirzepatida ajudou os pacientes a alcançarem 47% a mais de perda de peso relativa em comparação a semaglutida. A tirzepatida é uma classe única de medicamentos e é a primeira aprovada pelo FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) com ação dupla nos receptores GIP e GLP-1 para obesidade, e está mudando a forma como milhões de pessoas tratam essa doença crônica”, complementa.

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Um estudo publicado no início do ano na revista Jama (Associação Americana de Medicina, da sigla em inglês) mostrou que o Mounjaro, um remédio injetável de uso semanal, indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, coincidentemente, também se mostrou bastante eficaz contra a obesidade, doença crônica e multifatorial, que precisa de acompanhamento médico.

O ensaio é baseado no programa SURPASS, cujo objetivo foi fazer uma avaliação da eficácia e segurança da tirzepatida, como tratamento para melhorar o controle glicêmico em pessoas com diabetes tipo 2. Ao todo, os pesquisadores concluíram um conjunto de 10 estudos clínicos de fase 3, isto é, a última fase de testes.

Nesse contexto, houve a participação de mais de 19 mil pacientes com diabetes tipo 2 em todo o mundo (com exceção do terceiro ensaio, onde as pessoas não tinham diabetes), incluindo o Brasil, com cerca de 1.500 pacientes, dezenas de médicos e centros clínicos especializados.

Na primeira fase do ensaio 3, os participantes fizeram uma dieta com baixa caloria, atrelada a exercícios físicos por 12 semanas, com acompanhamento. Inicialmente, eles pesavam cerca de 109,5 kg. Ao final desse período, eles perderam, em média, de 6,9% do peso corporal, sem medicação.

Em seguida, na segunda fase do ensaio 3, eles foram divididos em dois grupos: um que usou Mounjaro, com pacientes que chegavam a pesar mais de 107 kg, e outro que recebeu placebo, uma injeção sem efeito algum. Ao final de 72 semanas, os que injetaram a medicação chegaram a perder, em média, 21,1% do peso corporal – ao contrário dos que injetaram placebo, que chegaram a ter um reganho de mais de 14% de peso durante este período.

Risco de reganho de peso após parar o medicamento

Já na última fase, após as 88 semanas de ensaio, os pacientes que continuaram usando a medicação perderam 26,6% do peso corporal. Este medicamento, contudo, atua como complemento à dieta balanceada e atividades físicas regulares. Alessandra Rascovski, endocrinologista e fundadora da Clínica Rascovski, lembra que quem interrompeu o uso do medicamento voltou a ganhar peso, o que mostra a importância do tratamento contínuo para a obesidade, conforme explica 

Quando o paciente chega no peso ideal, a gente tende a achar que devemos parar com a medicação e que o peso não vai voltar, porém, é importante frisar que a obesidade é uma doença onde existe a perda dos controles regulatórios de fome, de saciedade e de queima calórica. Por isso, o paciente tende a ter o reganho de peso novamente, se parar com o remédio”.

Outro ponto importante a ser mencionado é que esse emagrecimento foi atrelado também à mudança no estilo de vida, e não apenas às injeções. Isso significa que só o remédio, sem alimentação adequada e a prática de atividades físicas, não traria o mesmo resultado. De acordo com a médica, mudança no estilo de vida para hábitos mais saudáveis faz bem para qualquer pessoa. “Mas quem é obeso precisa de medicação”, reforça.

Vale dizer que esse medicamento, assim como os demais, também tem efeitos colaterais. Entre eles estão: enjoo, diarreia, tontura, má digestão, refluxo, prisão de ventre e outros eventos adversos gastrointestinais. Mesmo assim, como mostraram os dados, ele atingiu resultados excelentes, até mesmo em comparação com uma cirurgia bariátrica, algo visto pelos especialistas como extremamente promissor.

A aprovação da Anvisa representa um marco na vida de milhares de pacientes com diabetes e também obesidade. A expectativa é que os pacientes atinjam um nível de saúde semelhante aos que não têm essas comorbidades, o que significa que será possível controlar a doença antes mesmo de atingirem estágios mais avançados, por exemplo”, conclui a Dra. Alessandra Rascovski.

Anvisa ainda não aprovou uso da medicação para a obesidade

No Brasil, a tirzepatida foi aprovada para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2 em setembro de 2023. A tirzepatida para o tratamento da obesidade já foi submetida para aprovação regulatória da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a Lilly aguarda sua avaliação.

Luiz Magno, diretor médico sênior da Eli Lilly do Brasil, conta que a empresa aguarda a avaliação regulatória de tirzepatida para o tratamento da obesidade, e os resultados de estudo como o SURMOUNT-5 só reforçam o potencial da molécula para essa indicação.

Temos mais de um bilhão de pessoas que vivem com obesidade no mundo e, no Brasil, um em cada quatro adultos têm obesidade. Essa doença crônica é um grande desafio de saúde pública – temos estudos que mostram mais de 200 complicações relacionadas. Por isso, novos tratamentos com resultados tão positivos são importantes para contribuir para a vida de quem convive com essa doença tão prevalente”, afirma.

Sobre a tirzepatida: entenda os efeitos

A tirzepatida é um duplo agonista dos receptores GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) com administração subcutânea uma vez por semana. A tirzepatida é uma única molécula que ativa os receptores do corpo para GIP e GLP-1, que são hormônios incretínicos naturais.  Tanto os receptores GIP quanto de GLP-1 são encontrados em áreas do cérebro humano importantes para a regulação da fome e apetite.

Tirzepatida reduz a ingestão de calorias, e os efeitos provavelmente são mediados pela influência na fome e apetite. Esse medicamento deve ser usado a partir de recomendação médica e em combinação a mudança de estilo de vida que incluem dieta e exercícios físicos.

Além de demonstrar diminuir a ingestão de alimentos, a tirzepatida atua também na modulação da utilização de gordura no tecido adiposo (tecido gorduroso). Estudos de tirzepatida em doença renal crônica (DRC) e em morbidade/mortalidade na obesidade (MMO) estão em andamento.

A tirzepatida é o único tratamento duplo agonista dos receptores GIP e GLP-1 aprovado pelo FDA – órgão regulatório dos EUA – para reduzir o excesso de peso corporal e para manutenção da redução de peso no longo prazo.

A Lilly submeteu dados com tirzepatida para apneia obstrutiva do sono (AOS) moderada a grave e obesidade e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp) e obesidade ao FDA e outras agências regulatórias globais em 2024. Estudos de tirzepatida em doença renal crônica (DRC) e em morbidade/mortalidade na obesidade (MMO) estão em andamento.

Saiba mais sobre o novo estudo

SURMOUNT-5 (NCT05822830) foi um estudo multicêntrico, randomizado, aberto, de fase 3b que comparou a eficácia e a segurança de tirzepatida com semaglutida em adultos com obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma das seguintes comorbidades: hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono (AOS) ou doença cardiovascular, que não tinham diabetes.

O ensaio randomizou 751 participantes nos Estados Unidos e em Porto Rico em uma proporção de 1:1 para receber a dose máxima tolerada (DMT) de tirzepatida (10 mg ou 15 mg) ou semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg). O objetivo principal do estudo foi avaliar a superioridade de tirzepatida em comparação com semaglutida na mudança percentual do peso corporal em relação ao valor basal ao longo de 72 semanas.

  • Envolveu 751 participantes com obesidade ou sobrepeso e comorbidades (hipertensão, dislipidemia, apneia do sono ou doença cardiovascular).
  • Os voluntários foram divididos em dois grupos e tratados por cerca de 1 ano e 6 meses.
  • Os resultados do estudo mostraram que o grupo tratado com tirzepatida apresentou uma perda média de 20,2% do peso corporal, enquanto o grupo que utilizou semaglutida registrou uma redução média de 13,7% do peso corporal.
  • O objetivo do estudo, segundo Leonard Glass, vice-presidente sênior da Lilly, foi apoiar decisões médicas e oferecer opções mais eficazes para os pacientes.
  • As principais diferenças entre as moléculas estão em sua composição e modo de ação. A semaglutida, presente no Ozempic e no Wegovy, imita o GLP-1, um hormônio que regula a glicemia e a saciedade, promovendo a perda de peso por meio da redução do apetite e da menor ingestão calórica.
  • Já a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro e do Zepbound, combina ações semelhantes ao GLP-1 e ao GIP. Essa combinação não apenas regula a glicemia e prolonga a saciedade, mas também apresenta maior eficácia na perda de peso devido à ação conjunta desses dois hormônios.

Com informações da Eli Lilly do Brasil e Clínica Rascovski

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