Você é daqueles que não sai de casa sem o celular, como eu? Ou que vai almoçar com o telefone do lado? A exemplo do videogame, que passa a ser considerado doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cresce a preocupação de especialistas com o vício por smartphones. Pesquisa realizada pela Google e divulgada em 2917 mostrou que 73% dos brasileiros que possuem smartphones têm esse hábito.
Não dá mesmo para ignorar que a tecnologia está entranhada na vida da gente. Seja para consultar informações, conversar com amigos e familiares ou apenas entreter, a internet e os celulares não saem das mãos e mentes das pessoas. A comerciante Cristina Gonçalves, por exemplo, diz se sentir ansiosa e incomodada quando fica longe do celular, pois usa o aparelho para se comunicar com clientes. Apesar de estar ciente do uso excessivo, ela considera o telefone fundamental para o trabalho.
Apesar de o distúrbio ainda não constar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V, estudos recentes apontam que as mudanças causadas no cérebro pelo abuso na utilização da web e Whatsapp são similares aos efeitos de drogas químicas, como o álcool e até a cocaína. “A dependência pela tecnologia é comportamental, as outras são químicas, mas ela causa o mesmo desgaste na ponta do neurônio que as drogas podendo dar a sensação de necessidade e abstinência da dependência química”, explica a psicóloga Edyclaudia Gomes de Sousa, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia e pós graduanda em doenças mentais e atenção psicossocial.
Quando a dependência digital vira doença
Segundo ela, o problema é o usuário conseguir diferenciar a dependência do uso considerado “normal”, já que hoje, a internet e os celulares são ferramentas profissionais e de estudo, alertando ainda para o agravante dos jogos de vida virtual onde se constrói uma vida real/virtual que coloca em questão o que é normal e o que é saudável.
Ainda de acordo com Edyclaudia, a linha que separa o uso do abuso é tênue. Mesmo que se use muito o celular, isso não caracteriza o vício. “Na dependência patológica, o uso excessivo está ligado a um transtorno de ansiedade, como pânico ou fobia social”, afirma a especialista, esclarecendo que o nome que se dá para descrever o medo de ficar sem celular é nomofobia.
“Os principais sintomas da síndrome são angústia e sensação de desconforto quando se está sem o telefone e mudanças comportamentais, como isolamento e falta de interesse em outras atividades. Isso pode indicar que a pessoa está com algum problema que precisa ser investigado”, diz a psicóloga.
Atenção especial aos adolescentes
Edyclaudia Gomes chama atenção para os adolescentes, que além de fazerem uso exagerado do celular também estão sofrendo um comportamento denominado , ou seja, passam a conversar com os amigos ao lado pelo aplicativo, como se não estivessem presentes.
“Chega a ser comum até em crianças muito pequenas, isoladas, com o celular do pai na mão em vez de estar brincando com os colegas e, com o agravante de, muitas vezes, ser cômodo para os pais, babás e cuidadores. Com os adolescentes chega a ser preocupante; tal comportamento interfere no desenvolvimento emocional do indivíduo, o que pode acarretar transtornos na fase adulta” diz à psicóloga.
Ela recomenda que os pais não deem smartphones e tablets para crianças muito novas e, principalmente monitorem como os filhos estão usando a internet e a quantidade de tempo que estão gastando na rede. Apesar de haver por parte do governo e organizações não governamentais projetos para promover a inclusão digital e grupos de suporte emocional para tratamento de dependência digital em
alguns hospitais escolas, o ideal é que junto com os mesmos seja dado um suporte para que a profissionalização não vire vício. “Com a popularização dos smartphones, o problema tende a crescer. Quanto mais interativo é o aparelho, maior o potencial de
dependência”, afirma a psicóloga.
Para não sofrer desse mal, os especialistas recomendam moderação, mesmo que o smartphone ou a internet sejam essenciais para determinadas atividades. E ao sentir qualquer dificuldade em ficar sem a tecnologia, mesmo quando não é realmente necessária, buscar ajuda especializada antes que um problema se torne uma patologia.
Sintomas iniciais que podem levar ao vício
– Preocupação constante com o que acontece na internet quando está offline.
– Necessidade contínua de utilizar a web como forma de obter excitação.
– Irritabilidade quando tenta reduzir o tempo de uso.
– Utilização da internet como forma de fugir de problemas ou aliviar sentimentos de impotência, culpa ansiedade ou depressão.
– Mentir para familiares para encobrir a extensão do envolvimento com as atividades on-line.
– Diminuição ou piora do contato social com amigos e familiares.
– Falta de interesse em atividades fora da rede.
– Comprometimento das atividades profissionais e acadêmicas, como perda do emprego ou não ser aprovado na escola.
– Lesões nas articulações dos dedos causadas pela intensa digitação.
– Automação no comportamento de buscar toda e qualquer resposta nos aparelhos.
– Insegurança quando está sem os aparelhos ou sem bateria.
Fonte: Psicóloga Edyclaudia Gomes de Sousa, com Redação