Nos últimos dias, muito se falou sobre a Mpox, mas pouco sobre o papel dos olhos na disseminação do vírus. Estudos recentes, como o publicado no International Journal of Infectious Diseasesm demonstram que o vírus da Mpox pode persistir nos olhos mesmo após o fim dos sintomas sistêmicos da doença.
No estudo, foi detectada a presença de vírus replicante em amostras oculares por até 145 dias após o início das lesões cutâneas, o que representa um risco contínuo de transmissão, o que revela que os olhos podem atuar como uma espécie de “reservatório do vírus”.
É muito importante reforçar o potencial risco de transmissão da Mpox através da secreção ocular, mesmo após a melhora das lesões de pele“, diz a médica Luciana Peixoto Finamo, oftalmologista da Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha, que participou ativamente de dois estudos que mostram que a Mpox pode causar infecção ocular longa e que os olhos podem servir de reservatório para o vírus da doença.
Segundo ela, “o olho é um órgão de privilégio imunológico”, o que significa que ele possui barreiras que limitam a resposta do sistema imunológico. “No entanto, essa característica também pode permitir que vírus, como o da Mpox, escapem do sistema imunológico e permaneçam ativos por longos períodos”, explica.
Em 2022, o Grupo Fleury publicou um estudo no Journal of the American Medical Association (JAMA) sobre uma manifestação oftalmológica rara em paciente com Mpox. Esse caso envolveu comprometimento grave da córnea e úvea, apresentando ceratite e uveíte ( inflamação intraocular). A publicação já sinalizava sobre a doença ocular de gravidade e prolongada, sendo o primeiro estudo da literatura mundial com essa descrição.
Esses achados reforçam a necessidade de atenção dos profissionais de oftalmologia e infectologia para o manejo adequado dessas complicações oftalmológicas raras, mas graves, associadas à Mpox. Esse é um alerta não só para a população, mas para a classe médica, que tem recebido pouca informação sobre a relação da Mpox com os olhos”, afirma a médica.

Sintomas semelhantes aos da conjuntivite

Segundo Dra Luciana, os sintomas nos olhos são muito parecidos com os de conjuntivite: ficam avermelhados, com secreção e tendem a coçar, podendo evoluir para lesões de córnea e até em alguns casos evoluir para inflamação intraocular (uveite).
Isso torna fundamental o acompanhamento oftalmológico adequado dos pacientes, já que o envolvimento ocular pode ser uma via de transmissão prolongada, especialmente por secreções oculares”, afirma a médica.
Outro ponto de destaque é que o estudo mostrou que a doença ocular também ocorreu em pessoas imunocompetentes, que não vivem com o vírus do HIV e em indivíduos que tiveram doença sistêmica de pouca gravidade.

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Diferença entre emergência de saúde pública e pandemia

Nas últimas semanas, a atenção global voltou-se para o vírus Mpox (anteriormente conhecido como varíola dos macacos) após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar novamente o vírus como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Essa decisão foi motivada pela rápida disseminação da variante 1B, mais contagiosa, na República Democrática do Congo, e pela confirmação de casos na Europa.

Antes de mais nada, é importante entender a diferença entre uma emergência de saúde pública e uma pandemia. A emergência de saúde pública de importância internacional é um mecanismo da OMS para alertar sobre crises de saúde que exigem atenção global, mas que ainda não se tornaram pandemias. Uma pandemia, por outro lado, é uma epidemia que se espalha por múltiplos continentes, afetando uma grande parte da população mundial.

A diferença entre uma emergência de saúde pública e uma pandemia deve ser compreendida para que possamos responder adequadamente a cada situação”, afirma alerta Marco César, diretor clínico da Salus Imunizações.

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O clado 2 do Mpox: uma ameaça potencial

O vírus Mpox é dividido em diferentes clados, ou seja, versões genéticas que evoluíram de forma independente. O clado 1, originado na África Ocidental, foi responsável pelo surto na Europa em 2022, mas não causou uma pandemia global significativa. Já o clado 2, proveniente da África Central, é mais transmissível e perigoso.

Ainda que não haja indícios de que a variante mais grave do vírus Mpox tenha chegado ao Brasil, a vigilância contínua e a preparação são essenciais para evitar um surto no país. “Embora o Brasil esteja atualmente em um nível 1 de emergência para a Mpox, conforme a ministra da Saúde, Nísia Trindade, é crucial que a população permaneça vigilante.

O clado 2 tem se espalhado rapidamente por países da África Central, como a República Democrática do Congo, Uganda e Ruanda. O risco de sua introdução no Brasil, devido ao tráfego internacional, não pode ser ignorado. É vital que estejamos prontos para identificar e isolar rapidamente quaisquer casos suspeitos.”

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Transmissão e sintomas da Mpox

Mpox faz parte da família dos poxvírus, a mesma que inclui o vírus da varíola humana, erradicado em 1980. O vírus é transmitido principalmente por contato direto com lesões na pele, fluídos corporais ou objetos contaminados. Não é uma doença sexualmente transmissível, mas pode ser transmitida por contato próximo durante atividades sexuais.

Os sintomas incluem:

– Erupções cutâneas ou lesões que evoluem de manchas vermelhas para bolhas cheias de pus.

– Febre, dor de cabeça e dores musculares.

– Gânglios linfáticos inchados.

– Fraqueza e mal-estar geral.

Embora a maioria dos casos de Mpox seja leve, a doença pode ser severa em pessoas imunocomprometidas, crianças e idosos. O isolamento de pacientes é fundamental para evitar a disseminação. É crucial que a população siga as orientações das autoridades de saúde e busque atendimento médico imediato em caso de sintomas compatíveis com a Mpox”, explica Dr. Marco.

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Medidas de prevenção e vacinação

O Brasil está tomando medidas preventivas, incluindo a vacinação de profissionais de saúde que lidam diretamente com casos suspeitos de Mpox. Com a recente declaração de emergência, o Ministério da Saúde está negociando a compra de mais doses da vacina Jynneos para proteger a população em caso de um surto maior.  prioridade é garantir que as vacinas estejam disponíveis para aqueles que mais precisam, especialmente em um cenário de emergência

De acordo com o médico, a vacinação contra a varíola oferece proteção cruzada contra o Mpox, e essa estratégia tem sido essencial para controlar o número de casos. Atualmente, existem duas vacinas disponíveis no mercado: a Jynneos, que é mais segura e recomendada para a maioria das pessoas, e a ACAM 2000, que possui mais contraindicações”.

A calma e a informação são nossas melhores aliadas para enfrentar essa possível ameaça à saúde pública. Mantenha-se informado e siga as recomendações de saúde pública para garantir sua segurança e a de sua comunidade”, completa o médico.

Com assessorias

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