Muito além da paixão que a liberdade de dirigir sobre duas rodas proporciona, a motocicleta se transformou em veículo de trabalho. Hoje, no Brasil, cerca de 1,5 milhão de brasileiros utilizam a moto com este fim. E o Dia do Motociclista, comemorado em 27 de julho no Brasil, homenageia todos que a compartilham – seja a lazer, seja a serviço. E não apenas os mototaxistas e pilotos de aplicativos que fazem desse um meio de transporte – e ferramenta de trabalho

Equipes de socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) usam a moto como viatura para salvar vidas. As ‘motolâncias’ se destacam pela agilidade com que conseguem chegar às ocorrências ou pela dificuldade de acesso de um grande veículo como as ambulâncias tradicionais. As equipes das motolâncias, motocicletas com material pré-hospitalar clínico e de trauma, têm um papel fundamental nos atendimentos a emergências.

Desde que a frota passou a atuar na cidade do Rio de Janeiro, já são 22.957 atendimentos. Só em 2023, foram 6.510 acionamentos até 26/07. Em todo o ano passado, as equipes foram acionadas para 8.852 ocorrências. Já em 2021, o SAMU registrou 7.595 atendimentos por motolâncias. Em média de atendimentos diários, o movimento em 2023 cresceu 24%, em relação a 2022, e 51%, na comparação com 2021.

“São verdadeiros guerreiros numa corrida pela vida. Com suas motos, conseguem chegar o mais rápido possível às ocorrências e a lugares onde as ambulâncias não passam, como becos e vielas. O número de atendimentos vem crescendo pela dedicação desses profissionais, que merecem todo nosso carinho”, destaca o secretário de Estado de Saúde, Dr. Luizinho.

A cada chamado da central 192, o responsável pelas bases do SAMU analisa se a melhor resposta é enviar uma ambulância, uma motolância, ou os dois veículos.

“Em ocorrências mais graves, onde a velocidade do primeiro atendimento é fundamental para salvar a vida do paciente, a motolância consegue chegar ao local primeiro para que o quadro seja estabilizado. E, na sequência, esse paciente é levado pela ambulância para uma unidade de emergência. É o caso, por exemplo, de uma parada cardiorrespiratória ou um acidente vascular encefálico (AVE)”, explica o coronel Luciano Sarmento, coordenador geral do SAMU Capital.

Atualmente, a frota de motolâncias conta com 30 veículos, divididos em 14 bases: Centro, São Cristóvão, Realengo, Campo Grande, Penha, Copacabana, Botafogo, Jacarepaguá, Parada de Lucas, Barra da Tijuca, Muzema, Quintino, Av. Brasil (Maré) e Ilha do Governador.

“Apesar de sua operação relativamente recente, em 2021, as motolâncias atuaram em situações tristes e históricas, como as chuvas da Região Serrana, levando mantimentos e produtos básicos para moradores de lugares onde ninguém conseguia acessar. Esse foi, sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes da nossa trajetória”, relembra Sarmento.

Quase 70% das mortes no trânsito em 2023 têm motociclistas como vítimas

O Dia do Motociclista foi instituída em 1998 pela Associação Brasileira de Motociclistas (Abram) e também serve como momento de conscientização sobre certos perigos do veículo sobre duas rodas. Dados do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) mostram que o índice de mortes por acidentes de trabalho teve um aumento de 7% em 2022. No total, foram registrados 2.538 mortes e 613 mil acidentes no período analisado. Desses, 24.642 correspondem a acidentes com motos.

Essas informações são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com o levantamento, as profissões mais populares são os motoristas de aplicativos, que correspondem a 61,1% dos profissionais, seguido por entregadores de mercadoria em motocicletas (20,9%) e mototaxistas (14,4%).

O impulsionamento do setor de delivery foi um dos grandes motores para o crescimento de serviços de entregas. No Empregos.com.br, um dos maiores portais de recrutamento e seleção do país, quase 500 vagas estão abertas para motoboys e motoristas entregadores.

Segundo registros da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), nos primeiros dois meses do ano foram registradas nove mortes por acidente de trânsito. Destas, seis correspondem a sinistros com motocicleta – uma taxa de 63,6%.

Atualmente, as lesões de trânsito estão entre as dez maiores causas de morte em países subdesenvolvidos, de acordo com apontamentos do DALY (Disability Adjusted Life Years – Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade).

A utilização de equipamentos como capacetes e luvas são os principais instrumentos para prevenção de acidentes graves. Um monitoramento feito pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), da Prefeitura de São Paulo, aponta que dos 13.171 motociclistas observados na capital paulista, apenas três deles não utilizavam capacete, ou seja, 99,98% estavam regulares. O percentual é semelhante para passageiros que ficam na garupa.

Em 1979, quando o levantamento começou a ser feito na cidade de São Paulo, apenas 11% dos motociclistas pilotavam com o item de proteção na cabeça. Dados da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) apontam que o uso de capacete diminui os riscos de lesões graves na cabeça, no cérebro e no rosto em 72%, além de reduzir a probabilidade de morte em até 40%.

Para Alex Araujo, CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, empresa do segmento de saúde e segurança do trabalho, a informalidade na contratação de motoboys e entregadores é o principal fator para a quantidade de acidentes registrados nos últimos anos.

“Estamos falando de um profissional que, na maioria dos casos, utiliza dos aplicativos de entregas para complementar a renda da família. Hoje, com a instabilidade econômica e as altas taxas de juros, a competitividade aumentou no setor. E com muita mão de obra disponível, as companhias utilizam da informalidade para reduzir custos, não repassando treinamentos, equipamentos e normas indispensáveis para o trânsito”, explica.

De acordo com informações do Sistema Único de Saúde, entre os anos de 2011 e 2021, o número de internações relacionadas a acidentes envolvendo motociclistas contou com um aumento de 55%: antes era 3,9 mil a cada 10 mil cidadãos, e agora esse número subiu para 6,1 mil a cada 10 mil. Isso corresponde a 115,7 mil internações e custos que atingiram os R$ 167 milhões, segundo o Ministério da Saúde. Apenas em 2020, 90 mil internações devido a lesões de trânsito foram registradas.

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número de brasileiros que possuem plano de saúde chegou à marca de 50.6 milhões de beneficiários em maio deste ano. Com isso, motociclistas, quando feridos, possuem melhor acesso a tratamentos de mais qualidade e amparo em caso de acidentes.

Com Assessorias

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