Além do câncer no pulmão, os usuários do cigarro eletrônico podem apresentar tumores cervicais, leucemia, câncer de pele e tireoide. É o que aponta pesquisa publicada no World Journal of Oncology, que cruzou dados sobre o histórico de câncer e de consumo do vape (nome em inglês utilizado para o dispositivo).

“Os jovens estão usando de forma perigosa, achando que não faz mal. Mas é bom lembrar que o cigarro eletrônico tem nicotina e outros poluentes, e em geral quem usa, fuma muito mais que um cigarro comum”, destaca Dorival De Carlucci Jr., cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital São Luiz Morumbi, da Rede D’Or na zona Sul da capital paulista, que conta com uma unidade da Oncologia D’Or.

O alerta acontece neste Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço (27/7), que buscam promover a conscientização sobre o enfrentamento da doença. A data, declarada pela Federação Internacional das Sociedades de Oncologia de Cabeça e Pescoço, é o ponto alto da campanha Julho Verde, que tem o objetivo de ressaltar a importância do diagnóstico precoce e conscientizar sobre os diferentes tipos de câncer e tratamentos.

Câncer de cabeça e pescoço” é uma forma genérica de se referir aos tumores malignos que podem aparecer na boca, língua, palato mole e duro, gengivas, amígdalas, faringe, orofaringe, nasofaringe, laringe (onde estão as cordas vocais), esôfago, tireoide, seios nasais, vias nasais e glândulas salivares,, além de bochechas, nariz e o próprio pescoço.

Má higiene bucal pode levar a câncer de cabeça e pescoço

Dados de um estudo conduzido por Nayara Fernanda Pereira, pesquisadora da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) em 2019, revelou que a má higiene oral pode aumentar em até quatro vezes o desenvolvimento do tumor de pescoço, boca e cabeça. Especialistas advertem que a falta da higienização bucal correta contribui para inflamações na cavidade oral, estimulando o surgimento de focos infecciosos e o excesso de bactérias.

A especialista aponta os principais sintomas dos tipos de câncer que afetam a cavidade oral: aftas que demoram para cicatrizar, manchas vermelhas ou brancas nas gengivas, línguas, lábios ou garganta, dificuldades para engolir ou fazer movimentos mastigatórios e rouquidão persistente. Também fazem parte dos sinais: mau hálito, dentes amolecidos, nódulos e inchaços, que representam um estágio avançado.

“A ausência de uma limpeza eficiente em toda a boca pode acabar sendo um gatilho para o início de algumas enfermidades, pois as infecções costumam ocasionar a diminuição da imunidade. Mas o diagnóstico só deve ser feito por um profissional da área por meio de exames clínicos e laboratoriais”, esclarece Letícia Rigo, consultora da GUM®, marca especialista em produtos para cuidados bucais.

Além do dentista, é preciso procurar um oncologista

De acordo com a consultora, quando descoberto no início, o câncer tem alta probabilidade de remissão. “O acompanhamento periódico ao dentista é capaz de antecipar o diagnóstico, sendo a melhor forma de prevenção. Além de ser o responsável pelos cuidados bucais ideais para cada pessoa, ninguém melhor do que esse profissional para identificar os sintomas, solicitar exames e iniciar o tratamento o quanto antes”, destaca.

Independentemente do tipo do câncer, pacientes oncológicos também devem procurar um dentista logo após serem diagnosticados. “A quimioterapia causa grande impacto na saúde dos dentes e, por isso, a consulta deve ocorrer antes do tratamento ser iniciado. Serão analisados focos de infecções, problemas na gengiva, cáries e até a salivação do paciente”.

Por fim, Letícia reforça que, “além de boa higiene bucal, cuidados simples como reforçar as consultas regulares com o cirurgião dentista, evitar o fumo, consumo de bebidas alcoólicas e manter uma alimentação saudável, são práticas essenciais para evitar a doença. Essas ações são indispensáveis, já que auxiliam a controlar as atividades inflamatórias do organismo”, conclui.

1,5 milhão de casos no mundo e 460 mil mortes

Mais de 1,5 milhão de casos são registrados anualmente em todo mundo e o número de mortes anuais atinge o entorno de 460 mil pessoas, de acordo com levantamento da IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde). Nos Estados Unidos, o câncer de cabeça e pescoço corresponde a 4% de todos os cânceres, abrangendo uma série de tumores que podem se desenvolver em diversas áreas vitais dessa região.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registra cerca de 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço a cada ano. Esses tumores estão entre os tipos de câncer mais comuns no Brasil e correspondem a 3% de todos os tipos de câncer e é o quinto entre os homens, com cerca de 10 mil mortes por ano no país.

Individualmente, o câncer de cavidade oral atinge duas vezes mais os homens do que mulheres, e o de laringe chega ser cinco vezes mais incidente na população masculina. Estima-se que 60% dos casos possuem diagnóstico tardio, o que impacta negativamente na sobrevida do paciente. A boa notícia é que quando descoberto no começo, a chance de cura chega a 90%.

Leia mais

Julho Verde: “O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê”
Julho Verde: como prevenir e tratar o câncer de cabeça e pescoço
8 em 10 casos de câncer de boca são diagnosticados em fase avançada

sinais e sintomas

É importante ficar atento aos principais sintomas: aparecimento de nódulo no pescoço, lesões na cavidade oral que persistem por mais de 15 dias, manchas na língua, gengivas e céu da boca, nódulos no pescoço, manchas brancas ou avermelhadas na boca, ferida que não cicatriza, dor de garganta, rouquidão persistente ou alterações na voz por mais de 15 dias e dificuldade ou dor para engolir ou respirar, dor no ouvido e dores de cabeça e tosses.

O diagnóstico precoce é essencial para proporcionar melhores intervenções e abordagens terapêuticas, pois a complexidade do tratamento aumenta no estágio avançado. Detectá-lo em fase inicial, por exemplo, permite tratamentos menos agressivos e maior possibilidade de sucesso, levando aumento da sobrevida do paciente.

Fatores de risco

Hábitos de risco como o consumo excessivo de tabaco e bebidas alcoólicas podem contribuir para o surgimento do câncer, bem como o papilomavírus humano tipo 16 (HPV-16), que é considerada uma causa suficiente, mas não necessária, do câncer da boca, da língua e da orofaringe. Pessoas que já tiveram o câncer na ‘cabeça e pescoço’ também apresentam pré-disposição elevada para desenvolver um segundo tumor nas regiões no futuro. 

Câncer de tireoide: Dieta pobre em iodo, radioterapia em baixas doses (principalmente na infância), histórico familiar, obesidade, tabagismo, poluentes ambientais.

Câncer de laringe: Consumo de tabaco (cigarros, charutos, cachimbos, narguilés), consumo excessivo de bebidas alcoólicas e excesso de gordura corporal.

Prevenção do câncer de cabeça e pescoço

– Pare de fumar cigarro comum ou eletrônico;

– Mantenha a higiene bucal em dia;

– Em casos com fatores de risco, faça acompanhamento regular para detectar precocemente e investigar alguma lesão suspeita;

– Evite o consumo excessivo de bebidas alcoólicas;

– Procure manter uma alimentação saudável e pratique atividade física.

Com informações do Hospital São Luiz Morumbi, Gum e Stryker

Leia ainda

Câncer de cabeça e pescoço pode ser confundido com amigdalite
Casos avançados de câncer de cabeça e pescoço crescem na pandemia
Consumo de álcool e fumo na pandemia acende alerta para câncer
Shares:

Posts Relacionados

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *