Fraturas do punho e mão afastam por acidentes de trabalho

12% dos afastamentos por acidentes de trabalho em 2022 foram por fraturas nas mãos e punhos. Médicos comentam riscos e cuidados

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As mãos são instrumentos fundamentais para tudo o que fazemos no dia a dia. Não à toa, é uma das partes do corpo mais impactadas em acidentes de trabalho. Em 2022 os casos de fratura ao nível do punho e da mão representaram 12% do total de afastamentos por acidentes de trabalho no Brasil. Ao todo, o  país teve 612,9 mil acidentes de trabalho – mais de 70 por hora e um por minuto – e 2,5 mil mortes. Isso representa quase quatro vezes a quantidade de acidentes de trânsito com motocicletas registrados no mesmo período.

Os dados foram divulgados em março de 2023 pelo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, que compila informações da Organização Internacional do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho (MPT) e de outros órgãos do governo federal. Os dados apontam que, entre 2012 e 2021, 22.954 pessoas morreram em acidentes de trabalho no Brasil.

Levantamento do Ministério da Previdência Social (MPS) mostra que 8.359 trabalhadores precisaram ser afastados em decorrência de fratura ao nível do punho e da mão; 1.482 por ferimentos nessa região e 538 por traumatismo superficial da área. Os dados representam afastamentos por mais de 15 dias e que, consequentemente, geraram algum benefício de segurados do Regime Geral de Previdência Social (INSS). 

A fratura ao nível do punho e da mão engloba lesões em diversos ossos, mas a gravidade da lesão independe do osso fraturado, como explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), Antonio Tufi Neder Filho.

“As fraturas mais comuns da mão e punho atingem as falanges (ossos que formam os dedos das mãos), metacarpos (cinco ossos de cada mão localizados entre as falanges e o carpo) e o rádio distal (quando a área do rádio próxima ao punho se quebra)”, lista o médico.

O especialista ressalta que os profissionais da indústria e da construção civil estão entre os mais propensos a terem as mãos lesionadas em acidentes de trabalho. “Trabalhadores braçais, que fazem uso de equipamentos que exigem concentração no manuseio, como martelos, máquinas esmagadoras entre outros, estão mais vulneráveis”, diz.

O presidente da SBCM ressalta que as empresas precisam criar ações constantes de prevenção. “As consequências de um acidente grave nas mãos pode resultar na incapacidade de atividades básicas, o que vai impactar em toda a rotina da pessoa”, pontua.

“Além das questões da saúde e da qualidade de vida, que são as mais importantes, quando um funcionário precisa ficar afastado das suas atividades, a empresa precisa resolver várias questões burocrática, além de ter que contratar um funcionário temporário, então, prevenir sempre será melhor do que remediar”, conclui.

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Um grave problema de saúde pública

Além de alto risco de morte, acidentes de trabalho podem causar lesões que deixam sequelas incapacitantes e definitivas (Foto: Envato)

O problema se torna uma questão de saúde pública, colocando os profissionais da saúde diante da tarefa crucial de restabelecer a funcionalidade dos pacientes. Os acidentes laborais acontecem durante a execução de atividades a serviço de uma empresa e resultam em lesões corporais ou perturbações funcionais. Os dedos são a parte do corpo mais atingida, correspondendo a cerca de um quarto das lesões, muitas delas causadas por máquinas e equipamentos.

Segundo a médica Giana Giostri, como as mãos são órgãos funcionais, estão mais suscetíveis a traumas, como fraturas e ferimentos. “A mão possui uma estrutura específica e capacidade única, o que se traduz em complexidade na tarefa de restaurar plenamente sua função após uma lesão”, destaca a ortopedista e cirurgiã da mão dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).

Quedas, lacerações, queimaduras, choques elétricos em geral causados por uso incorreto de máquinas e equipamentos de proteção são os principais acidentes de trabalho que dão entrada nos prontos-socorros em todo o Brasil. No Hospital Universitário Cajuru, que é 100% SUS e referência em trauma, muitos desses pacientes são atendidos pela equipe de ortopedia, traumatologia e cirurgia da mão. Em 2022, foram atendidos pela equipe 30,8 mil pacientes e, nos primeiros sete meses de 2023, já somam mais de 7,6 mil.

“Lesões na mão requerem cirurgias demoradas e complexas, seguidas de repouso, imobilização temporária para promover cicatrização e período mais longo para restaurar a funcionalidade”, explica Giana Giostri.

Sentindo na pele

Acidentes de trabalho e lesões por esforço repetitivo geram custos para o Instituto Nacional do Seguro Social. O INSS é responsável por administrar a prestação de benefícios como auxílio-doença acidentário, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e pensão por morte. Os custos são altos e, apenas em 2021, foram pagos R$ 14,5 bilhões em benefícios de natureza acidentária.

O número contabilizado pelo INSS, não inclui trabalhadores informais, como é o caso do construtor Sandro José dos Santos Pinto, de 48 anos, que fraturou as mãos e o fêmur durante o seu trabalho que realiza de forma autônoma. “Sofri uma queda do andaime e, enquanto passo por essa recuperação lenta, estou sem trabalhar”, conta Sandro.

Além do alto risco de morte, os acidentes de trabalho podem causar lesões que deixam sequelas incapacitantes e definitivas. Para restabelecer a funcionalidade do paciente, a imobilização temporária do membro afetado é importante para a cicatrização das lesões, seguida pelo longo processo de reabilitação que devolve movimentos, força e sensibilidade nas mãos.

“Mesmo uma lesão aparentemente pequena pode acarretar, no mínimo, duas semanas de afastamento do ambiente de trabalho. Em alguns casos, infelizmente, o paciente pode levar mais de um ano para se recuperar completamente, o que pode exigir que a pessoa passe por readaptação de atividades ou fique distante do mercado de trabalho“, detalha a ortopedista e cirurgiã da mão.

Com uma reabilitação longa pela frente, Sandro encara esse processo com paciência, mas está muito ansioso para retornar ao trabalho. Ele conta com o apoio da família, o suporte dos profissionais de saúde e as sessões de fisioterapia para superar os obstáculos e voltar à vida que tinha antes do acidente.

“É uma jornada delicada, mas mantenho a esperança de uma recuperação completa, para que eu possa retomar meu trabalho com segurança”, afirma o paciente. Para evitar acidentes no ambiente de trabalho, Giana ressalta a importância de treinamento qualificado para manuseio de máquinas e uso de equipamentos de proteção.

“A prevenção de acidentes é baseada na constante atenção durante as atividades no trabalho. Sendo a mão um órgão efetor de nosso cérebro, o cuidado com as mãos é essencial para preservar habilidades e garantir a continuidade de nossas funções”, conclui.

Com Assessorias 

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