Em 2023, no Brasil, apenas 50% das mulheres fazem uso de algum tratamento na menopausa. Apesar da segurança cientificamente comprovada da terapia de reposição hormonal (TRH), muitas mulheres ainda resistem ao método durante o climatério. Elas têm dúvidas sobre como a TRH na menopausa pode afetar o risco de desenvolver câncer de mama.

No entanto, a relação entre a TRH e este problema é mais complexa do que se pensa. “O medo de aumentar os riscos de câncer de mama devido à TRH é comum entre as pacientes, porém, essa relação não é uma regra”,  diz Alexandra Ongaratto, médica ginecologista endócrina e diretora técnica do Instituto GRIS.

Segundo ela, a terapia hormonal não deve ser evitada apenas pelo temor de desenvolver câncer de mama. Porém, ao iniciar qualquer tratamento hormonal, a paciente deve antes passar por uma avaliação criteriosa, considerando a saúde mamária anterior, riscos individuais e familiares, bem como a condição de saúde geral.

“É fundamental compreender que, principalmente para uma paciente saudável que está passando pela transição menopausal e sofrendo com sintomas que afetam sua qualidade de vida, a terapia hormonal pode oferecer benefícios significativos”, enfatiza.

Preferência por hormônios naturais

A escolha adequada do tipo de hormônio utilizado é crucial para garantir a segurança da TRH. Dá-se preferência aos hormônios “naturais”, que têm uma estrutura molecular semelhante aos hormônios produzidos pelo corpo ou que eram produzidos antes da menopausa – o que minimiza os riscos associados ao tratamento.

A administração de TRH em pequenas doses é outra medida que pode ser adotada para maximizar os benefícios e minimizar os riscos. Menos hormônio é necessário para alcançar os resultados desejados, reduzindo, assim, qualquer aumento potencial no risco de câncer de mama.

Porém, cada pessoa é única, e este tratamento deve ser adaptado às suas necessidades individuais. A individualização do tratamento leva em consideração fatores como histórico de saúde, sintomas da menopausa e riscos específicos da paciente, garantindo maior segurança.

A médica explica que a relação entre a terapia hormonal na menopausa e o câncer de mama não é uma sentença única e definitiva. A avaliação cuidadosa, a escolha criteriosa dos hormônios, doses ultra baixas e a individualização da terapia são passos essenciais para garantir que os benefícios do método possam ser aproveitados sem um aumento significativo no risco de desenvolver esse tumor maligno.

“Cada mulher deve discutir suas preocupações e opções com seu médico para tomar decisões informadas sobre seu tratamento na menopausa. Acima de tudo, incentivamos a conscientização não apenas sobre o câncer de mama, mas também sobre as opções disponíveis para o bem-estar das mulheres durante essa fase da vida”, ressalta a especialista.

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Contraindicação após câncer de mama

Estudos clínicos e pesquisas indicam que a TRH pode aumentar o risco de recorrência do câncer de mama em mulheres que já passaram por essa experiência. Esse novo entendimento tem levado médicos a considerar cuidadosamente as opções de tratamento para os sintomas da menopausa em sobreviventes dessa condição, priorizando alternativas mais seguras e personalizadas.

Embora a menopausa possa ser uma fase desafiadora, a comunidade médica está se dedicando a encontrar abordagens alternativas que ofereçam alívio dos sintomas climatéricos sem comprometer a segurança das pacientes.

“É essencial que as mulheres que passaram por essa jornada conversem abertamente com seus médicos e considerem opções de tratamento que sejam mais adequadas ao seu histórico e às suas necessidades individuais”, encerra Alexandra.

A médica lembra que, além da consideração da terapia de reposição hormonal, a prevenção do câncer de mama depende de práticas regulares de autocuidado e exames médicos. O autoexame das mamas é uma ferramenta simples e eficaz que todas as mulheres podem incorporar em sua rotina, além do acompanhamento médico contínuo.

Exames de mamografia e ultrassonografia também desempenham um papel crucial na detecção precoce da doença. “Tudo isso é uma parte fundamental na luta contra o câncer de mama”, finaliza a médica.

Menopausa x obesidade: reposição hormonal pode ser contraindicada

A obesidade pode interferir na idade de início da menopausa, porém não há um padrão bem estabelecido, já que o estilo de vida, tabagismo e história familiar também podem influenciar.

A endocrinologista Lorena Lima Amato conta que já há estudos demonstrando que as mulheres com obesidade têm mais sintomas de fogachos e alterações de humor e maior índice de depressão.

A associação entre menopausa versus obesidade pode trazer outras doenças associadas, como explica a endocrinologista: “A obesidade aumenta o risco de 13 tipos de câncer, dentre eles o de mama e de endométrio, que são os que ficam em maior evidência com a terapia de reposição hormonal”.

Dra. Lorena conta ainda que a obesidade pode levar a um maior risco nas terapias hormonais na menopausa. “O risco cardiovascular e de câncer é agravado em mulheres com obesidade e que fazem reposição hormonal. Em algumas situações, dependendo do risco cardiovascular e/ou outras complicações, opta-se por não indicar a reposição hormonal”, detalha a médica.

As novas medicações para tratar obesidade não influenciam no controle dos sintomas da menopausa. “Na verdade, se você pensar que a obesidade piora os sintomas da menopausa, controlando-se a obesidade, é possível que alguns sintomas da menopausa diminuam, mas ainda teria que ter um estudo mais detalhado para confirmar a associação do tratamento medicamentoso com a melhora dos sintomas”, finaliza Dra. Lorena Amato.

Terapia hormonal não é para todas as mulheres

O momento ideal para iniciar a terapia é a partir de 10 anos até a última menstruação. É importante que a paciente realize acompanhamento médico para avaliar os benefícios em comparação com os riscos do tratamento.

Apesar das vantagens, a terapia hormonal não é para todos. Mulheres que tiveram ou têm alguma dessas condições, não podem se submeter ao tratamento:

• Câncer de mama;

• Câncer do endométrio;

• Sangramento vaginal sem causa aparente;

• Doença cardíaca ou infarto;

• Acidente Vascular Cerebral;

• Histórico de tromboembolismo ou doença hepática grave.

“Dependendo do caso, é possível prescrever o uso de antidepressivos, que reduzem as ondas de calor, para quem não pode realizar a terapia hormonal. Cremes vaginais com hormônio, hidratantes e lubrificantes também ajudam nos sintomas vaginais”, orienta o profissional.

Maior proteção para a saúde do coração, diz médica

Defensora da reposição hormonal como um dos principais métodos para se contar na menopausa, a médica ginecologista Beatriz Tupinambá diz que “criou-se uma cultura de que hormônio faz mal, fazendo com que muitas mulheres por medo ou falta de conhecimento, não se beneficiem com os resultados da reposição hormonal”.

Especialista em Ciência da Longevidade Humana e Modulação Hormonal e professora de pós-graduação em Ginecologia da Unirio, ela diz que as mulheres em tratamento adequado nesta fase têm maior proteção cardíaca e cerebral, e apresentam menores chances de desenvolver Alzheimer, hipertensão e diabetes.

Dra Beatriz reafirma que, para resultados mais eficientes e satisfatórios, o ideal é que o tratamento inicie ainda no climatério, quando pode tratar os sintomas da fase e prevenir os efeitos da falta do estrogênio. Ainda segundo ela, especialistas indicam a terapia combinada, que integra estrogênio e progesterona, para reduzir o mal-estar e prevenir o câncer do endométrio.

“O coração, por exemplo, tem mais de 500 mil receptores para hormônios sexuais. Quando você faz reposição hormonal você tem uma proteção cardíaca e cerebral, e diminui a chance de ter doenças como Alzheimer, hipertensão e diabetes. Com a reposição você vive mais e melhor”, afirma.

Com Assessorias

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