Médicos sem Fronteiras pede mais ‘humanidade’ na Faixa de Gaza

Pessoas presas na Faixa de Gaza têm acesso precário à água e estão expostas a bombardeios em todo o território

Destruição na Faixa de Gaza por ataques israelenses (Foto: Mohammed ABED / Médicos sem Fronteiras)
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A organização médico-humanitária internacional  Médicos Sem Fronteiras emitiu nota neste sábado (14) clamando ‘mais humanidade’ por parte das autoridades israelenses em relação ao contra-ataque na Faixa de Gaza, intensificado em resposta aos ataques do grupo terrorista Hamas em Israel. MSF – que mantém cerca de 300 profissionais em Gaza – também fez um apelo por água potável para esta população e diz que já faltam anestésicos e analgésicos nos hospitais.

“Apesar das afirmações israelenses sugerindo que há áreas seguras para a população presa na Faixa de Gaza, as pessoas estão expostas a bombardeios em todo o território, inclusive no sul, para onde dezenas de milhares fugiram após o ultimato imposto por Israel. Como o exército israelense tem bombardeado a Faixa de Gaza sem interrupções por uma semana, estamos pedindo que a humanidade mais elementar seja demonstrada”, diz a MSF.

Para a ONG, “a ordem para que quase 1,1 milhão de pessoas se deslocassem em poucas horas para uma área já superpovoada e com acesso precário a alimentos, água e saúde é tão absurda quanto intolerável”. Na terça-feira (17), a ong declarou estar horrorizada e considerou “absolutamente inaceitável” o bombardeio recente ao hospital Ahli Arab, na cidade de Gaza.

No local, estavam sendo tratados pacientes e também se abrigavam pessoas que ficaram deslocadas devido aos ataques israelenses à Faixa de Gaza. Há relatos sobre centenas de mortos, no que MSF qualificou como “um massacre”. Leia a seguir a íntegra do posicionamento de Médicos Sem Fronteiras:

Estamos horrorizados com o recente bombardeio ao hospital Ahli Arab, na cidade de Gaza, que tratava pacientes e acolhia moradores de Gaza deslocados. Estima-se que centenas de pessoas foram mortas. Isto é um massacre. É absolutamente inaceitável.

“Estávamos operando no hospital, houve uma forte explosão e o teto do centro cirúrgico caiu. Isto é um massacre”, disse o Dr. Ghassan Abu Sittah, médico de MSF em Gaza.

Nada justifica este ataque brutal a um hospital e aos seus muitos pacientes e profissionais de saúde, bem como às pessoas que ali procuravam abrigo. Os hospitais não são um alvo. Este derramamento de sangue deve parar. É hora de dar um basta!

Apelo por água potável para a população da Faixa de Gaza

As equipes do MSF estão observando que a água potável está se tornando escassa no sul da Faixa de Gaza e a dificuldade de obtê-la está aumentando o sofrimento da população. “Médicos Sem Fronteiras (MSF) pede urgentemente a restauração do acesso suficiente e imediato à água potável para a população da Faixa de Gaza”, ressalta.

Ainda segundo a nota, “o corredor humanitário decretado neste sábado (14/10) pelas autoridades israelenses no norte de Gaza e que permaneceu aberto por algumas horas acaba de expirar”.

“Estamos extremamente preocupados com o destino daqueles que não poderão se mover, como os feridos, as pessoas que estão doentes e a equipe médica.  Diante das declarações feitas pelas autoridades militares israelenses, tememos que essas pessoas sejam aniquiladas”, afirma.

MSF está pedindo que haja zonas seguras no norte de Gaza e que sejam estabelecidos cessar-fogo regulares. “Também pedimos que as pessoas tenham a possibilidade de fugir pela passagem de Rafah, sem prejuízo de seu direito de retorno”, destaca. MSF solicitou que seus profissionais palestinos que desejam sair possam ser evacuados.

‘Horror com brutal assassinato em massa de civis’

Na última quinta-feira (12), Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou que os fortes bombardeios levam Gaza à beira da catástrofe e disse estar “horrorizada com o brutal assassinato em massa de civis perpetrado pelo Hamas e com os intensos ataques a Gaza que estão sendo realizados por Israel”.

A ONG informou que tratou centenas de palestinos feridos pela polícia israelense em Jerusalém. E pediu a interrupção imediata do derramamento de sangue, o estabelecimento de espaços e passagens seguros para as pessoas chegarem a eles com urgência.

“As pessoas devem ter acesso seguro a recursos básicos, como alimentos, água e instalações de saúde. Os suprimentos humanitários essenciais, como medicamentos, equipamentos médicos, alimentos, combustível e água, também devem ter permissão para entrar no enclave de Gaza”, diz a nota.

Para facilitar essa entrada, a ONG sugere que a passagem na fronteira de Rafah com o Egito seja aberta e que cessem os bombardeios no local de passagem.

MSF mantém 300 profissionais de saúde em Gaza

Cerca de 2,2 milhões de pessoas estão atualmente presas na Faixa de Gaza, onde bombardeios indiscriminados transformaram uma crise humanitária crônica em uma catástrofe. Mais de 300 profissionais de MSF estão em Gaza. Alguns deles perderam suas casas ou membros da família – tem sido quase impossível para eles se deslocarem.

“Os jatos de combate estão demolindo ruas inteiras, quarteirão por quarteirão. Não há lugar para se esconder, não há tempo para descansar”, diz Matthias Kennes, coordenador-geral de MSF em Gaza.

Segundo ele, alguns lugares estão sendo bombardeados por noites consecutivas. “Sabemos como foi em 2014 e em 2021, quando milhares de pessoas morreram. Cada vez que nossos colegas médicos vão para o trabalho, não sabem se verão suas casas ou suas famílias novamente. Mas eles dizem que desta vez é diferente. Desta vez, após cinco dias, já foram registradas 1.200 mortes. O que as pessoas podem fazer? Para onde elas devem ir?”, questiona.

De acordo com o MSF, milhões de homens, mulheres e crianças estão enfrentando uma punição coletiva na forma de cerco total, bombardeios indiscriminados e ameaça constante de uma batalha terrestre.

“É preciso estabelecer espaços seguros e permitir a entrada de suprimentos humanitários em Gaza. Os feridos e doentes devem receber atendimento médico. As instalações e equipes médicas devem ser protegidas e respeitadas; hospitais e ambulâncias não devem ser alvos”, ressalta.

Para MSF, o cerco imposto pelo governo israelense, incluindo a retenção de alimentos, água, combustível e eletricidade, é inaceitável.

“Após 16 anos de bloqueio militar à Faixa de Gaza, as estruturas médicas já estão enfraquecidas. Esse cerco não dá trégua aos pacientes que se veem em meio aos combates, nem à equipe médica. Ele representa um bloqueio intencional de itens que salvam vidas. A entrada desses suprimentos e da equipe médica principal deve ser facilitada com urgência”.

Hospitais ficam sem anestésicos e analgésicos

Darwin Diaz, coordenador médico de MSF em Gaza, afirma que nos hospitais do Ministério da Saúde, a equipe médica relata que estão ficando sem anestésicos e analgésicos. “Transferimos suprimentos médicos de nossas reservas de emergência de dois meses para o hospital de Al-Awda, e agora usamos três semanas de estoque em três dias”, relata.

De acordo com a ONG, a equipe de MSF, incluindo o pessoal médico, tem sido extremamente limitada em seus movimentos desde sábado anterior, quando começaram os ataques do Hamas em Israrel, dando início ao conflito. “Não conseguimos obter passagem segura para apoiar os colegas médicos palestinos que trabalham dia e noite para tratar os feridos. Homens, mulheres e crianças que não participam das hostilidades não têm um refúgio seguro para onde ir”, afirma.

Ainda segundo a Médicos Sem Fronteiras, seus profissionais “estão testemunhando um nível de destruição que já pode ter excedido as escaladas anteriores”. Dois dos hospitais que MSF apoia, Al Awda e o Hospital Indonésio, sofreram danos em ataques aéreos, enquanto a própria clínica de MSF sofreu alguns danos em uma explosão na segunda-feira (9).

Atendimento a pacientes com queimaduras e traumas

Atualmente, MSF administra de forma autônoma uma clínica da organização, apoia o hospital Al Awda, o hospital Nasser e o Hospital Indonésio em Gaza. No dia 10 de outubro, MSF reabriu uma sala de operações em Al-Shifa, para receber pacientes com queimaduras e traumas.

“Também doamos suprimentos médicos para o hospital Al Shifa e continuaremos oferecendo apoio aos hospitais. Nossas equipes em Jenin, Hebron e Nablus estão avaliando ativamente as necessidades médicas na Cisjordânia, à medida que a violência aumenta. Pelo menos 27 palestinos foram mortos em ataques de colonos e confrontos com o exército israelense”, informa a MSF.

A ONG clama que os civis, a infraestrutura civil e as instalações de saúde sejam protegidos em todos os momentos.

“MSF pede ao governo de Israel que cesse sua campanha de punição coletiva contra toda a Faixa de Gaza. As autoridades e facções israelenses e palestinas devem estabelecer espaços seguros. A entrada de assistência humanitária, alimentos, água, combustível, remédios e equipamentos médicos na Faixa de Gaza deve ser facilitada urgentemente, pois se isso não for feito, mais vidas serão ceifadas”.

Fonte: MSF (atualizado em 17/10/23)

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