Incluído neste ano de 2022 no Código Internacional de Doenças (CID 11) da Organização Mundial de Saúde (OMS), o lipedema é uma doença crônica do tecido adiposo que pode estar associada a comprometimento vascular. Possui características hereditárias em mais de 60% dos casos e pode estar relacionada a mutações genéticas. A campanha Junho Roxo é dedicada à conscientização da doença, que atinge mais de 10% das mulheres, sendo rara no sexo masculino.

O lipedema se caracteriza pelo acúmulo de gordura nos braços, coxas e pernas e é comum surgir na adolescência, gravidez ou menopausa. Os sintomas, além da gordura localizada, são equimose (roxinhos) nas áreas afetadas, sensibilidade e dor ao toque, sensação de peso e cansaço nas pernas, fadiga e pode até comprometer a mobilidade.

Com diferentes graus e estágios, o problema pode causar dor, hematomas e ainda afetar diretamente a autoestima da paciente. A equipe do Instituto Amato – especializado no tratamento da doença – explica que o aspecto psicológico do lipedema é muito impactante.

“Como muitas vezes essas mulheres recebem inicialmente apenas o diagnóstico de obesidade, embora cheguem a perder peso, continuam com a desproporção no corpo e sofrem física e emocionalmente. Por isso, essas pacientes precisam de acolhimento”, comentam os especialistas Dr. Fernando e Dr. Alexandre Amato.

Exame diagnóstico

O primeiro protocolo ultrassonográfico do mundo para diagnosticar lipedema foi criado por Alexandre Campos Moraes Amato, angiologista e cirurgião vascular da equipe do Instituto Amato. “É uma doença que frequentemente é confundida com linfedema, doença que acomete o sistema linfático, e, geralmente esses pacientes possuem alterações vasculares como insuficiência venosa, apresentando varizes”, comenta.

O diagnóstico de lipedema atualmente é clínico, e depende de uma boa anamnese (conversa com o paciente) e exame físico. Exames  como ultrassom e ressonância magnética podem complementar o exame físico, auxiliando o diagnóstico e tratamento, porém não existem protocolos direcionados para essa patologia. Por isso, muitas vezes, as alterações, por serem mínimas, não são caracterizadas e mencionadas nos laudos.

“Por provocar reação inflamatória em células de gordura na região das pernas, a mulher pode apresentar hematomas por qualquer movimento mais brusco. Além disso, as principais características são dores frequentes na região, quadril, braços e antebraços mais grossos e desproporcionais em comparação ao restante do corpo”, explica a médica ndocrinologista Lorena Amato, que acompanha pacientes com lipedema.

Tratamento

A boa notícia é que após o diagnóstico é possível tratar e controlar a doença. Atualmente, há dois tipos de tratamento para o Lipedema: o clínico – com técnicas que amenizam a dor (por meio de dietas anti-inflamatórias e exercícios físicos), e o cirúrgico, que remove as células de gordura. Assim como em outras doenças crônicas, o lipedema tem tratamento e é feito por uma equipe multidisciplinar, exigindo da paciente uma mudança de estilo de vida com alimentação saudável, atividade física e apoio emocional.

“O tratamento cirúrgico deve ser a última opção, mas, muitas vezes, acaba sendo o primeiro recurso procurado. Somente após tentar o tratamento clínico por um tempo, e de preferência apresentando alguma melhora, mesmo que parcial, deve ser indicado a lipoaspiração para o tratamento do lipedema”, comenta Fernando Amato, cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

Dr. Amato explica que um dos fatores mais importantes para a lipoaspiração de lipedema é a segurança. “É preciso respeitar os limites de gordura a serem retirados durante a cirurgia, que devem ser entre 5% a 7% do peso corporal do paciente”, detalha o especialista.

Mudança no estilo de vida

Assim como em outras doenças crônicas, o lipedema tem tratamento e é feito por uma equipe multidisciplinar, exigindo da paciente uma mudança de estilo de vida com alimentação saudável, atividade física e apoio emocional.

“Dieta balanceada e personalizada, tentando identificar e restringir alimentos que podem ter características proinflamatórias para aquele indivíduo, piorando o quadro do lipedema, além de tratar a obesidade quando presente.”, orienta a endocrinologista Lorena Amato, que acompanha pacientes com lipedema.

Ela explica que o tratamento endócrino envolve investigação de doenças endocrinológicas com exames hormonais, mudança e melhora do estilo de vida, principalmente com melhora da alimentação e prática de atividade física, sendo nesses casos mais indicados exercícios aquáticos, como natação e hidroginástica.

Quando é indicada a lipoaspiração

Além de dieta balanceada e exercícios físicos, roupas de compressão e drenagem linfática ajudam bastante, mas, em alguns casos é indicada uma lipoaspiração, feita em parceria entre um cirurgião plástico e um vascular.

Para Fernando Amato, cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o tratamento cirúrgico deve ser a última opção, mas, muitas vezes, acaba sendo o primeiro recurso procurado. “Somente após tentar o tratamento clínico por um tempo, e de preferência apresentando alguma melhora, mesmo que parcial, deve ser indicado a lipoaspiração para o tratamento do lipedema”, comenta.

Dr. Amato explica que um dos fatores mais importantes para a lipoaspiração de lipedema é a segurança. “É preciso respeitar os limites de gordura a serem retirados durante a cirurgia, que devem ser entre 5% a 7% do peso corporal do paciente”, detalha o especialista.

Lipedema: precisamos falar sobre isso

Por Alexandre Amato*  

Junho é o mês de conscientização do lipedema, doença muito comum, porém, deixada em segundo plano nos cuidados com a saúde da mulher – uma patologia quase que exclusivamente feminina, atualmente atinge mais de 11% das mulheres em todo o mundo.  

E o que exatamente é lipedema? Tão pouco mencionado na mídia e com pouca fama, o lipedema é uma patologia crônica do tecido adiposo e linfático. Bem diferente de uma “gordurinha sobrando”, é um tumor de gordura que atinge extremidades inferiores do corpo, como pernas, joelhos e coxas – raramente ele surge também nos braços.

Como uma resposta à profusão dos hormônios femininos, principalmente na puberdade, gravidez e menopausa – quando há grande quantidade de hormônios em ação – o corpo desenvolve células de gordura doente. 

Por ser resultado de uma condição genética, com incidência familiar entre 16% a 45%, muitas mulheres acreditam que se trate de uma questão de composição corporal, aceitando o problema como característica da família.

Como os nódulos de lipedema são muito sensíveis ao toque, causando hematomas frequentes nas pernas, muitas mulheres, mesmo com muita dor, não se dão conta de que podem buscar ajuda e um tratamento adequado. Além disso, o lipedema também pode ser responsável por cansaço em excesso – principalmente se a mulher passar muito tempo em pé – e, com o tempo, pode levar a uma redução considerável da mobilidade. Aqui é onde começa o grande problema. 

Diagnóstico difícil

Embora o diagnóstico precoce seja essencial para o tratamento desta patologia, que já não é de fácil diagnose, nem todos os médicos têm familiaridade com a doença. Muitos confundem lipedema com linfedema e obesidade. Por isso, a conscientização é tão importante e procurar um especialista no assunto é essencial.

O lipedema é uma gordura doente, que não é eliminada mesmo com dieta e exercícios físicos, sendo essa a principal diferença entre a doença e a simples obesidade. 

Precisamos falar mais sobre este tema e orientar as pessoas na busca adequada por tratamento. Afinal, esta é a única saída para a qualidade de vida da paciente, considerando que até o momento não há cura identificada e, em se tratando de uma doença genética, não há nenhum tratamento que exclua do corpo o gene causador do problema. 

Como tratar

Existem duas principais formas de se tratar o lipedema. A primeira, que é o tratamento clínico, envolve a prática diária de exercícios físicos, a adoção de uma alimentação saudável, o uso de roupas de compressão e drenagem linfática e eventual uso de medicamentos, a depender do caso.

Outra forma de lidar com a patologia é via procedimento cirúrgico, com lipoaspiração, que nada mais é do que a retirada da gordura doente em excesso da região dos membros inferiores. A cirurgia, no entanto, não elimina a doença por completo. Além disso, há um limite de gordura a ser aspirado e o resultado do procedimento varia de acordo com cada paciente.

Desta forma, o tratamento cirúrgico não deve ser a única opção de tratamento indicada ou escolhida pela paciente, que precisa associar o procedimento à adoção de práticas saudáveis no dia a dia e ao tratamento clínico, porque o lipedema frequentemente volta quando não se tem esses cuidados. 

Assim, a mulher deve fazer uma escolha bem pensada, sabendo dos resultados esperados de cada procedimento aos quais ela, em parceria com seu médico de confiança, opte por se submeter, permanecendo sempre ciente de que nenhum deles é definitivo. O tratamento é eficaz para evitar a progressão da doença e ajuda a manter a qualidade de vida da paciente. 

* Alexandre Amato é cirurgião vascular, especialista em lipedema e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro, a Unisa 

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