Não são poucos os relatos de pessoas trans que enfrentam inúmeras dificuldades para conseguir vencer na vida, como a falta de apoio familiar, a baixa escolaridade e o preconceito na hora de conseguir um trabalho, sem falar em todos os tipos de violência – física, moral, psicológica, patrimonial. “Já tive que dormir na rua”, conta Isadora Marinho, a Musa Trans da Porto da Pedra, escola de samba de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A modelo de 31 anos aproveitou as comemorações pelo Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, para falar de sua história pessoal de superação. No início de sua transição, com apenas R$ 150 no bolso, Isadora deixou para trás sua cidade natal, Maceió (AL), em busca de um mínimo de dignidade e respeito.

Os primeiros passos foram marcados por inúmeras dificuldades e episódios de preconceito, enquanto enfrentava uma batalha diária pela sobrevivência. Em meio às tentações que a cidade grande oferecia, Isadora resistiu até mesmo à sedução das drogas, mantendo-se firme em seus projetos e sonhos com uma vida mais digna.

Isadora Marinho conta sua trajetória de muita luta e superação (Foto: Ewerton Pereira / CO Assessoria)
Isadora Marinho conta sua trajetória de muita luta e superação (Foto: @lanamarcenesfoto / CO Assessoria)

‘Teve momentos em que desejei não ter nascido’

“Foram tempos difíceis, momentos em que eu desejei não ter nascido. Mas sempre fui uma mulher de fé, algo dentro de mim me impulsionava a seguir em frente, a lutar por algo maior”, compartilha, emocionada,

Superando obstáculos financeiros e muito preconceito, pouco a pouco, Isadora vem conquistando seu espaço e o reconhecimento que tanto almejava, dentre suas conquistas, esse ano ao ser convidada para ocupar o cargo de Musa da Porto da Pedra.

“Às vezes, ainda me pego pensando que tudo isso não passa de um sonho. Parece clichê, mas é a mais pura verdade: quem acredita e se empenha com determinação, sempre alcança! Minha vida mudou radicalmente, e hoje me vejo como a  mulher que sempre almejei ser! A fé, a força e determinação da mulher nordestina me trouxeram aqui”, revela.

Recentemente, Isadora Marinho viralizou ao relembrar a primeira vez em que desfilou na Sapucaí. O Carnaval, para ela, vai além de uma festa, é um espaço inclusivo que acolhe todas as nuances da diversidade.

Ela se prepara para enfrentar a Sapucaí: a escola de São Gonçalo (RJ) será a primeira a entrar na Avenida no domingo, 11 de fevereiro, primeiro dia dos desfiles do Grupo Especial. No Carnaval 2024, a Unidos do Porto da Pedra vai apresentar o enredo “Lunário Perpétuo – A profecia do saber popular”, do carnavalesco Mauro Quintaes.

Irmãs trans reclamam de discriminação em Londres

Suellen e Potyra, irmãs trans que vivem em Londres (Fotos: Instagram @suellencarey.uk / CO – Assessoria)

Mas não é apenas no Brasil que o preconceito e a discriminação atingem a população LGBT. Em Londres, as irmãs Suellen Carey, 36, e Carla Potyra, 39, decidiram romper o silêncio e expor situações de transfobia que vivenciaram desde que se mudaram do Brasil, em busca de respeito e aceitação.

“Decidimos falar agora, durante o mês da visibilidade trans, para destacar as situações que enfrentamos aqui em Londres. Queremos chamar a atenção para a realidade que muitos transgêneros enfrentam diariamente, mesmo em lugares que imaginamos serem mais tolerantes”, revela Suellen.


As irmãs, que nasceram em Belo Horizonte (MG), compartilharam experiências chocantes de discriminação, incluindo um incidente em uma loja de celulares que as levou a chamar a polícia.

“Ficaram nos detratando e xingando, simplesmente porque somos trans. É triste perceber que, mesmo em uma cidade como Londres, ainda enfrentamos atitudes tão discriminatórias”, desabafa Carla.

Outro ponto destacado pelas irmãs é a reação das pessoas ao descobrirem que são irmãs. “É curioso ver a reação das pessoas quando descobrem que somos irmãs. Parece que ainda existe um estigma em torno da ideia de transgêneros formarem laços familiares”, observa Suellen.

Com primeiro ministro de extrema direita, transfobia cresce

O descontentamento das irmãs não se limita apenas às experiências pessoais. Elas apontam para o atual primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, de extrema direita e conservador, como um fator contribuinte para o aumento da transfobia no país desde 2022. “Depois que entrou o primeiro ministro de extrema direita, as pessoas se revelaram mais transfóbicas”, enfatiza Suellen.

A preocupação das irmãs vai além das experiências individuais. Recentemente, um incidente brutal chocou a comunidade trans em Londres, onde uma adolescente de apenas 16 anos foi esfaqueada simplesmente por ser transgênero.

“Isso é inaceitável. A violência contra a comunidade trans está atingindo níveis alarmantes, e é preciso conscientizar as pessoas sobre a gravidade dessa situação”, declara Carla.

Com coragem e determinação, Suellen Carey e Carla Potyra esperam que ao compartilharem suas histórias, possam contribuir para a conscientização e o combate à transfobia, não apenas em Londres, mas em todo o mundo.

Segundo ela, o mês da visibilidade trans serve como um lembrete de que a luta pela igualdade e respeito continua, mesmo em meio aos desafios enfrentados por aqueles que ousam ser autênticos.

Com Assessoria

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