Índice de cobertura vacinal em bebês é o mais baixo em 16 anos

Risco da volta de doenças já erradicadas, como sarampo e polio, não é descartado. Infectologista esclarece dúvidas sobre vacinação e orienta pais e responsáveis a procurarem os postos de vacinação para colocar a caderneta em dia

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Os índices da cobertura vacinal de bebês e crianças tiveram nova queda em 2017 e atingiram o nível mais baixo do país nos últimos 16 anos. O levantamento do Ministério da Saúde identificou que todas as vacinas indicadas para crianças com menos de um ano não alcançaram a meta. O objetivo era imunizar 95% das crianças até dois anos, mas os índices ficaram entre 71% e 84%.

Entre as vacinas importantes que deixaram de ser tomadas pelos bebês estão as que protegem contra poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, varicela, rotavírus e meningite. A melhor cobertura é da vacina BCG, 91% contra a tuberculose, que geralmente é dada nas maternidades.

A recusa vacinal também afeta campanhas regulares do Ministério do Saúde, como a da gripe. Das 9,5 milhões de pessoas que fazem parte do público-alvo da Campanha Nacional de Vacinação contra a influenza, 4,4 milhões são crianças de seis meses a cinco anos. Prorrogada por duas vezes, a campanha termina nesta sexta-feira (22) nos postos de vacinação de todo país.

Os dados causam preocupação aos especialistas que têm identificado o aumento da ocorrência de algumas doenças, como o sarampo e a poliomielite, que assustam a Venezuela. Em Roraima, por exemplo, a preocupação é com o sarampo, principalmente pela chegada de imigrantes venezuelanos. Atualmente há 172 casos confirmados da doença no estado. A Sociedade Brasileira de Pediatria também fez um alerta por causa do surto de poliomielite na Venezuela. No Brasil, a doença está erradicada desde 1990.

“O Ministério da Saúde já lançou um alerta para que todos os estados avaliem as suas coberturas vacinais, porque se nós pararmos de atingir as metas recomendadas pelo Ministério da Saúde e deixarmos as crianças desprotegidas, essas doenças voltarão a acontecer no território nacional”, disse Carla Domingues, coordenadora de Imunizações do Ministério da Saúde.

Entre muitas possíveis justificativas, está o crescimento de movimentos antivacina que ameaça os resultados conquistados nos últimos anos pelas campanhas de imunização, e podem contribuir no retorno de doenças que foram erradicadas ou que já estão controladas no Brasil e no mundo. Em recente bate-papo no Rio, Dráuzio Varella criticou o movimento antivacina. “Esse debate é coisa de gente absolutamente ignorante”, disparou (veja aqui).

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Especialista tira dúvidas sobre vacinação

Para orientar pais e responsáveis pelas crianças, Renata Coutinho, infectologista do Hospital Rios D’Or, esclarece dúvidas sobre vacinação, reforçando a importância de manter o calendário vacinal atualizado.

  • Por que é importante manter a vacinação infantil em dia?

A vacinação é um dos melhores métodos para prevenir as principais doenças infectocontagiosas da infância. E, além de ter benefício individual, existe um grande benefício coletivo, pois diminui a circulação dessas doenças na população em que essas crianças convivem. Tem também outros ganhos, como menor taxa de hospitalização, de óbito, de sequelas, de abstinência no trabalho, porque todas essas doenças acabam afetando, inclusive, a vida econômica dos pais e atividade profissional. Sendo assim, os ganhos acontecem em várias áreas, não só na saúde individual.

  • As vacinas são 100% seguras?

As vacinas têm seus riscos e benefícios, e, neste caso, recomenda-se a comparação entre os riscos da doença e os riscos da vacina. Exemplo, a febre amarela: o risco de ter um evento grave pela vacina é de 1 em 1 milhão de doses; e o risco de ter febre amarela selvagem grave é 10 em 100 casos – e mortalidade é muito alta. Matematicamente, é incomparável o risco da doença selvagem e o risco da vacina. Assim, a vacina tem indicação e em caso de dúvidas, deve-se consultar o médico.

  • Ultimamente, vem crescendo um movimento antivacina, liderado por pais que acreditam que são agressivas à saúde e podem desencadear reações adversas. Tem fundamento o motivo desta relutância?

A vacina é um produto médico imunobiológico dos mais seguros que existem por vários motivos. O principal deles é que ela é usada em larga escala. Em todos os programas de vacinação no mundo, o ideal é que se vacine 100% da população alvo. Então, exige-se um tempo bem extenso de estudo para introduzi-la no mercado. Inclusive, um estudo sobre sua funcionalidade. É preciso que esse produto seja de alta segurança, e, realmente, é.

  • Quais as consequências de não imunizar as crianças?

A principal e mais preocupante é o ressurgimento de doenças erradicadas e aumento da incidência de doenças.

  • As reações das vacinas são menos prejudiciais se comparadas aos efeitos da doença em uma criança não imunizada?

Seguramente. E os pais/responsáveis têm que compreender que algumas doenças são graves e inerentes as condições clínicas das crianças. Ou seja, este é um contra-argumento para aqueles que acreditam que crianças saudáveis e bem nutridas estariam imunes de doenças, não precisando ser vacinadas. O ideal é que esta concepção seja aceita por todos, pois, por exemplo, a pneumococcemia pode matar qualquer criança, inclusive as saudáveis. A gente já passou por experiencia de mães que tinham essa filosofia e mudaram de ideia uma vez que os filhos estavam na UTI com doenças que seriam imunopreviníveis, ou seja, que poderiam ser evitadas com a vacinação.

  • Existe algum fator que impeça a criança de tomar vacina?

Dependendo da vacina, sim. Por exemplo, não devem ser vacinadas crianças que têm comorbidade específica, imunodeficiência, portadora de HIV, transplantado de medula, doença renal crônica e transplantado de órgão sólido. Apesar de ser um procedimento seguro, sempre se coloca na balança riscos e os benefícios. Se o risco da vacina for maior que os benefícios, ela é suspensa, pela segurança do paciente. O médico que acompanha a criança deve ser sempre consultado para uma orientação mais específica e segura.

  • Para quais reações deve-se ligar o alerta de que algo deu errado?

Placas ou pintas no corpo até 24 horas depois a vacinação, convulsão com ou sem febre e alguma dificuldade motora. A criança deve ser encaminhada ao serviço de emergência e/ou ao médico pediatra.

  • Qual o melhor período do dia para vacinar as crianças?

Do ponto de vista prático, o ideal seria pela manhã, pois, assim, teria o dia inteiro para observar. De noite, todos estão dormindo. Mas não é um procedimento que exija o acompanhamento dos pais o dia todo, pois, geralmente, as crianças ficam bem.

  • Criança doente pode tomar vacina?

A contraindicação para vacinar são doenças febris agudas graves. Mas, em caso de dúvida, indica-se buscar orientação do pediatra.

  • Pode tomar mais de uma vacina em um dia?

As que são programadas para serem juntas no calendário não têm interferência de resposta vacinal. Mas, existem outras com indicação de intervalo mínimo de aplicação, exemplo da tríplice viral e febre amarela. Isso tudo é respeitado pelo esquema de vacinação pública, que tenta ao máximo simplificar as vacinações, diminuindo as chances de falha de cobertura e o número de visitas dessa criança nos postos.

Fonte: Ministério da Saúde e Hospital Rio´s Dor, com Redação

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