O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, encerrando a década mais quente, com os mares mais quentes já documentados na História do planeta. A Terra registrou a temperatura média global mais alta já documentada, superando pela primeira vez um aumento de 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, deixando para trás o Acordo de Paris.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a temperatura média global no ano passado foi de, aproximadamente, 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. Esse aumento na temperatura, apesar de parecer pequeno, tem colaborado para o aumento significativo da frequência e intensidade de eventos extremos climáticos, como incêndios florestais, tempestades e secas históricas, incluindo, por exemplo, as inundações no Rio Grande do Sul e, mais recentemente, os incêndios devastadores em Los Angeles (EUA).
Nunca houve tanto em jogo. Nosso mundo está em perigo e estamos nos aproximando rapidamente de pontos de não-retorno climáticos perigosos, além dos quais os principais ecossistemas podem nunca mais serem capazes de se recuperar”, afirma Kirsten Schuijt, diretora-geral da WWF Internacional.
Neste sábado, 22 de março, o mundo inteiro é mais uma vez convidado a participar do maior movimento ambiental global – a Hora do Planeta. Em sua 19ª edição e com o tema a “Maior Hora para a Terra”, a ação do WWF é um ato de esperança e inspiração em prol do planeta e deve reunir milhões de pessoas em mais de 180 países e territórios. O Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor participará de novo da iniciativa e terá a iluminação desligada às 20h30 (horário de Brasília).
A Hora do Planeta é um lembrete poderoso da urgência de agir enquanto ainda podemos. “Não se trata apenas de desligar as luzes: trata-se de ligar um movimento global pela mudança. Ao envolver indivíduos, comunidades e empresas, podemos criar uma força coletiva que impulsiona o impacto real e inspira esperança por um futuro sustentável”, destacou Kirsten Schuijt.
O momento é celebrado todos os anos por milhões de pessoas em todos os países, servindo como um poderoso alerta sobre a importância do nosso planeta, a necessidade de protegê-lo e o pouco tempo que temos para fazer isso. “O Cristo Redentor convida todos mais uma vez a refletir sobre o que têm feito pelo meio ambiente, pela sociedade, pelo desenvolvimento sustentável”, destaca o reitor do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, Padre Omar.
Dedique uma hora ao planeta
Especialista alerta sobre a intensificação do efeito estufa e a necessidade de ações sustentáveis para frear a crise climática
Desde sua criação em 2007, a Hora do Planeta é conhecida por seu momento de “luzes apagadas”. Atualmente, porém, não são só marcos e edificações em todo o mundo que se apagam: pessoas ao redor do globo são convidadas a se desligar simbolicamente de seu dia a dia e a “Dedicar uma Hora ao Planeta”, investindo 60 minutos em algo positivo para o nosso planeta. Em 2024, mais de 1,5 milhão de horas foram doadas por apoiadores em todo o mundo. Todo mundo pode registrar sua ação no site Dedique Uma Hora.
Por meio do banco de horas, a Hora do Planeta convida todos, em todos os lugares, a encontrar as maneiras mais agradáveis de doar uma hora pela Terra. Seja cozinhando uma refeição sustentável em casa, assistindo a um documentário sobre a natureza, fazendo uma caminhada consciente pela floresta para aproveitar a natureza e sentir a terra, ou participando de uma busca em casa para identificar e trocar produtos não-sustentáveis por alternativas ecológicas – há inúmeras opções para escolher. O banco de horas fornece uma lista de atividades e eventos com base nos interesses e preferências de estilo de vida dos participantes, desde comida e condicionamento físico até arte e entretenimento.
Diante de tantos desafios ambientais e das mudanças climáticas extremas, o ato de apagar as luzes e dedicar 60 minutos a alguma atividade que reverta em favor do nosso planeta é mais que uma ação de engajamento e de conscientização das pessoas. Ele é um exercício de amor. Por isso, convidamos toda a sociedade – indivíduos, empresas, organizações da sociedade civil, órgãos públicos e pontos turísticos – a participarem da Hora do Planeta, dedicando um pouco do seu dia para cuidar do nosso bem mais precioso, o planeta Terra”, diz Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas do WWF-Brasil.
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O aumento das temperaturas globais tem sido um dos principais desafios ambientais da atualidade. A intensificação do efeito estufa, provocado pela emissão excessiva de gases como dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH₄), tem elevado gradativamente a temperatura média do planeta.
Alguns fatores contribuem para esse fenômeno e os impactos que ele gera na sociedade. De acordo com o geólogo Rodrigo Salvetti, professor do curso de ciências biológicas do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP), o efeito estufa é um processo natural que permite a manutenção da temperatura terrestre.
No entanto, atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a agricultura intensiva, tem elevado a concentração desses gases na atmosfera, intensificando o efeito estufa e provocando o aquecimento global. “Esse aumento de temperatura altera diretamente os padrões climáticos e potencializa os eventos extremos, como ondas de calor, secas e chuvas torrenciais”, explica o professor.
Os impactos vão além do meio ambiente. Segundo o geólogo, a exposição prolongada ao calor excessivo pode agravar doenças cardiovasculares e respiratórias, causar insolação, além de afetar a regulação térmica do corpo humano, principalmente em idosos e crianças. “O estresse térmico sobrecarrega o organismo e pode levar a complicações graves, elevando a demanda por serviços de saúde e aumentando os custos do sistema público”, alerta.
A economia também sente os reflexos das mudanças climáticas. O aumento das temperaturas afeta a produtividade agrícola, eleva os custos de irrigação e expõe a infraestrutura urbana a danos causados por eventos climáticos extremos. Além disso, o calor excessivo reduz a eficiência dos trabalhadores, impactando diretamente a produção e a economia.
Diante desse cenário, Salvetti reforça a necessidade de adotar práticas sustentáveis para conter os impactos das mudanças climáticas. Entre as soluções apontadas estão a transição para energias renováveis, a implementação de políticas públicas voltadas à redução de emissões de carbono, o incentivo ao reflorestamento e a criação de cidades mais verdes e resilientes. “Ações coletivas e individuais são essenciais para enfrentarmos esse desafio global. O futuro do planeta depende das decisões que tomarmos hoje”, conclui.
Mais informações: horadoplaneta.org.br
Palavra de Especialista
Economia circular no enfrentamento da emergência climática
Por Edson Grandisoli*
A estabilização e redução da temperatura do planeta, na busca por estabilidade climática, pode ser considerado o principal desafio socioambiental da atualidade, e requer mudanças sistêmicas e orquestradas em todos os setores das sociedades rapidamente.
Um dos caminhos apontados por diferentes especialistas é repensarmos e reorganizarmos globalmente o modelo linear de economia, pautado no trinômio “extrair, produzir e descartar” – que já provou sua insustentabilidade socioambiental -, considerando um modelo no qual o reaproveitamento de materiais e a regeneração se colocam como principais objetivos. Estamos falando aqui da Economia Circular.
A economia circular é um modelo econômico que estimula a reestruturação de todo o sistema atual de extração, produção, consumo e descarte, buscando:
- maximizar o uso eficiente de recursos;
- minimizar o desperdício;
- criar design para a reciclabilidade, reparabilidade e reaproveitamento;
- buscar a redução do consumo e o consumo consciente;
- reduzir a quantidade de resíduos e
- estimular o uso de energias renováveis em todos os segmentos.
Essa abordagem holística reduz a pressão sobre os ecossistemas e age diretamente para o enfrentamento da emergência climática, pois colabora para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A complexidade e escala do desafio climático demandam, portanto, ações urgentes e que envolvam (e garantam participação) todos os setores das sociedades.
Ou seja, colaboração, diálogo, corresponsabilização e criatividade são essenciais para as mudanças que todos precisamos no presente para o futuro. E a economia circular tem se mostrado como um caminho prático, possível e necessário para aliar o desenvolvimento socioeconômico à manutenção da qualidade do clima do planeta.
*Edson Grandisoli é coordenador pedagógico do Movimento Circular, é Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP).
Com Assessorias