Numa semana marcada por manifestações em várias cidades brasileiras a favor do projeto de lei que pede o fim da escala 6 x 1, que tramita no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu – durante o encerramento do G20 Social no Rio de Janeiro na tarde deste sábado (16/11) – que a Cúpula do G20 discuta medidas que permitam reduzir o custo de vida e que promovam “jornadas de trabalho mais equilibradas”.
O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas”, disse Lula, sem, contudo, fazer menção ao movimento em favor da redução da escala de trabalho.
O primeiro G20 Social da história da cúpula do grupo das maiores potências mundiais terminou com o pedido de adoção da soberania alimentar para combater a fome – um novo conceito que substitui o termo ‘segurança alimentar’, e o fortalecimento do trabalho decente para combater as desigualdades e a pobreza, sobretudo diante do novo mundo do trabalho dos aplicativos.
Ao receber o documento final elaborado pelos movimentos sociais que participaram do evento, Lula ressaltou que as decisões políticas e econômicas de interesse internacional precisam ter a participação da sociedade de uma forma ampla.
A economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas. Elas não estão só nos escritórios da Bolsa de Nova York ou da de São Paulo, nem só nos gabinetes de Washington, Pequim, Bruxelas ou Brasília. Elas fazem parte do dia a dia de cada um de nós, alargando ou estreitando as nossas possibilidades”.
A declaração final foi elaborada pelas organizações da sociedade civil para ser entregue aos líderes das maiores economias do mundo, que se reunirão na cúpula do G20 no Rio, na segunda e terça-feira, dias 18 e 19 de novembro.
A presidência brasileira do G20 deixará um legado robusto de realizações, mas ainda há muito por fazer para melhorar a vida das pessoas. Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a ‘voz dos mercados’ e a ‘voz das ruas'”, apelou.
De acordo com a Secretaria-Geral da Presidência da República, o evento contou com quase 47 mil inscritos e mais de 15 mil pessoas credenciadas para participar dos debates, que abordaram mais de 300 temas.
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O terceiro pilar do G20
Pela primeira vez na história do G20, a sociedade civil de diversas partes do mundo teve a oportunidade de se reunir para discutir suas demandas e organizar propostas aos líderes dos países que integram o bloco econômico.
Essa conquista foi a linha central do discurso do presidente durante o encerramento do G20 Social. Lula destacou que, de forma inédita, grupos de engajamento puderam interagir com chanceleres, ministros e presidentes de Bancos Centrais das maiores economias do planeta.
Pela primeira vez na trajetória do G20, a sociedade civil de várias partes do mundo, em suas mais diversas formas de organização, se reuniu para formular e apresentar suas demandas”, avaliou.
O presidente disse que o grupo ganhou “um terceiro pilar”, o da participação social e da vontade coletiva, que se somou aos pilares político e financeiro. “Aqui, tomam forma a expressão e a vontade coletiva, motivadas pela busca de um mundo mais democrático, justo e diverso”, afirmou.
E acrescentou: “Espero que esse pilar social do G20 continue nos próximos anos, abrindo cada vez mais nossas discussões para o engajamento da cidadania. Essa cerimônia de encerramento marca o começo de uma nova etapa, que exigirá um trabalho contínuo durante os 365 dias do ano e não só às vésperas das reuniões de líderes.”
Lula afirmou, ainda, que membros do G20 têm “o poder e a responsabilidade” de fazer a diferença, citando como exemplo o fomento ao empreendedorismo e à autonomia econômica feminina; a adoção do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 18 sobre igualdade racial ;e o incentivo à ambição climática alinhada ao objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius (°C).
Mobilização deve ser permanente, diz Lula
Os três eixos propostos pela presidência brasileira ao G20 foram combate à fome e às desigualdades; mudanças climáticas e sustentabilidade; e reforma da governança global receberam propostas da sociedade civil organizada. Os principais destaques foram a soberania alimentar, com produção de alimentos saudáveis; e trabalho decente, como forma de combate às desigualdades,
“A presidência brasileira não teria avançado nas três prioridades que escolheu se não fosse a participação decisiva das organizações e movimentos que integram o G20 Social”, completou Lula, que se comprometeu a levar o documento final do G20 Social para a Cúpula de Líderes. Ele disse que vai trabalhar para que as propostas dos movimentos sociais sejam consideradas nas políticas públicas dos países integrantes do bloco.
Essa foi a primeira vez que o G20 Social foi realizado no contexto do G20. O Brasil ocupa a presidência do bloco, que será passada para a África do Sul ao fim da Cúpula de Líderes. O presidente Lula pediu que o governo sul-africano também realize o G20 Social no próximo ano, para que esse espaço de participação popular nas decisões internacionais se torne permanente.
Ele destacou que a mobilização social permanente será fundamental para:
– impulsionar os trabalhos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e avançar na tributação dos super-ricos;
– garantir o cumprimento das metas de triplicar o uso de energias renováveis e antecipar a neutralidade de emissões;
– levar adiante nosso Chamado à Ação pela Reforma da Governança Global, assegurando instituições multilaterais mais representativas.
‘A participação da sociedade, de forma inédita do G20, por si só, é a coisa mais importante que estamos fazendo aqui. Essa fotografia que o G20 Social está produzindo é algo muito potente e muito forte nesse mosaico de cultura, de línguas, de opiniões que está saindo desse processo. Esse é um protagonismo que o povo exerceu e tomou conta. Convidamos as pessoas e elas vieram com vontade de participar dos debates”, disse.
O presidente se encontrou, neste sábado (16), com o secretário-geral da ONU, António Guterres, no Rio de Janeiro, e defendeu a continuidade do G20 Social nas próximas reuniões anuais do bloco, como uma prática para ouvir as demandas dos movimentos sociais e da sociedade civil. Lula também conversou com Guterres sobre a programação da Cúpula do G20, o andamento da COP29 e as negociações sobre clima e meio ambiente que acontecem em Baku, no Azerbaijão, em paralelo às atividades do G20.
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Lula promete zerar fome no país até fim do mandato
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu neste sábado (16) que, até o fim do mandato, nenhum brasileiro vai passar fome no país. A declaração foi feita no último dia do Festival Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, evento paralelo ao G20 Social, que aconteceu na Praça Mauá, na região central do Rio de Janeiro.
Quero dizer para os milhões de habitantes que passam fome no mundo, para as crianças que não sabem se vai ter alimento. Quero dizer que hoje não tem, mas amanhã vai ter. É preciso coragem para mudar essa história perversa”, disse o presidente.
Ainda segundo Lula, o que falta não é produção de alimentos. “O mundo tem tecnologia e genética para produzir alimentos suficientes. Falta responsabilidade para colocar o pobre no orçamento público e garantir comida. Tiramos 24 milhões de pessoas da fome até agora. E em 2026, não teremos nenhum brasileiro passando fome“.
O evento encerrou a programação do G20 Social, que reuniu durante três dias representantes do governo federal, movimentos sociais e instituições não governamentais. Na segunda (18) e terça-feira (19), acontece a Cúpula do G20, com os líderes dos principais países do mundo. A discussão de iniciativas contra a fome e a pobreza são bandeiras da presidência brasileira do G20.
“Quando colocamos fome para discutir no G20, era para transformar em questão politica. Ela é tratada como uma questão social, apenas um número estatístico para período de eleição e depois é esquecida. Quem tem fome é tratado como invisível no país”, disse o presidente. “Fome não é questão da natureza. Não é questão alheia ao ser humano. Ela é tratada como se não existisse. Mas é responsabilidade de todos nós governantes do planeta”.
O encerramento do festival teve a participação dos artistas Ney Matogrosso, Maria Gadú, Alceu Valença, Fafá de Belém, Jaloo Kleber Lucas, Jovem Dionísio, Tássia Reis, Jota.Pê e Lukinhas.
Da Agência Brasil, com Redação (atualizado em 17/11/24)
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