Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os acidentes causaram mais de 145 mil mortes nas Américas em 2021, representando 12% das fatalidades no trânsito naquele ano em todo o mundo, e continuam sendo a principal causa de morte de crianças e jovens entre 5 e 29 anos. O Brasil possui uma das maiores taxas de mortalidade no trânsito nas Américas, de 15,7 por 100 mil habitantes, com pedestres, ciclistas e motociclistas representando cerca de 60% de todas as mortes.
Apesar de a taxa de mortes no trânsito ter diminuído 9,37% na década até 2021 — número superior à queda global de 5% —, ainda não é o suficiente para atingir a meta de reduzir pela metade as mortes até 2030. A segurança viária continua sendo um grande desafio, gerando um grande impacto social e econômico, com custo estimado em cerca de 5% do PIB. De acordo com o Banco Mundial, os custos decorrentes dos acidentes representam entre 3% e 6% do PIB da América Latina.
Um relatório de 2019, encomendado pela Bloomberg Philanthropies, revelou que mais de 25 mil vidas poderiam ser salvas e mais de 170 mil ferimentos graves evitados até 2030 se os regulamentos de segurança viária das Nações Unidas fossem adotados por quatro países-chave da região: Argentina, Chile, México e Brasil.
Todos os anos perdemos 1,19 milhão de vidas nas estradas do mundo — o equivalente à população de cidades como Campinas (Brasil), Monterrey (México), ou Cidade da Guatemala. Isso é uma loucura, porque sabemos como impedir esse massacre” afirmou o Enviado Especial da ONU para a Segurança Viária, Jean Todt.
Meta do Brasil é reduzir pela metade as mortes até 2028
O país adotou o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (2019–2028), com a meta de reduzir pela metade as mortes até 2028. Aqui, há legislação sobre uso de capacetes, dispositivos de retenção infantil, controle de velocidade, direção sob efeito de álcool/drogas, uso de celular ao volante, entre outros.
No entanto, ainda há falhas na fiscalização, especialmente no uso de cinto de segurança por passageiros no banco traseiro. Embora haja inspeções obrigatórias de veículos, diversos requisitos modernos de segurança (como freios ABS, controle eletrônico de estabilidade, proteção a pedestres etc.) ainda não são obrigatórios.
O aumento notável de óbitos entre motociclistas exige mais esforços na fiscalização do uso adequado de capacetes — conforme as normas da ONU (como a ECE-22.05)”, alerta Jean Todt, durante o lançamento de uma campanha global da ONU pela segurança no trânsito nesta sexta (27) em São Paulo.
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Campanha #FaçaUmaEscolhaSegura
A campanha #FaçaUmaEscolhaSegura busca promover a segurança no trânsito e criar ruas seguras, inclusivas e sustentáveis em todo o mundo. Entre as celebridades que apoiam a campanha na América Latina estão o jogador de futebol Ousmane Dembélé, o piloto de F1 Charles Leclerc, o tenista Novak Djokovic, a cantora Kylie Minogue, o motociclista Marc Márquez, a supermodelo Naomi Campbell e os atores Patrick Dempsey e Michael Fassbender.
Graças ao apoio do Comitê Olímpico Internacional, campeões latino-americanos dos Jogos Olímpicos de 2024 também aderiram à campanha, como Rebeca Andrade (ouro, ginástica artística), Juan-Manuel Celaya (México, prata, saltos ornamentais), Adriana Ruano (Guatemala, ouro, no tiro ao alvo), Atheyna Bylon (Panamá, prata, boxe) e Ángel Barajas (Colômbia, prata, ginástica).
Campanha #FaçaUmaEscolhaSegura visa apoiar o cumprimento da meta da Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021–2030) de reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2030.
Década de Ação pela Segurança no Trânsito
A campanha #FaçaUmaEscolhaSegura enfatiza a urgência de medidas mais eficazes para promover a segurança no trânsito e visa apoiar o cumprimento da Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021–2030) de reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2030. Além do reforço da fiscalização, a ONU propõe mais investimento em educação e transporte público para construir um sistema de mobilidade mais seguro e eficiente.
Também fazem parte de um conjunto de soluções a melhoria da infraestrutura rodoviária e da segurança veicular, a criação de ciclovias e passagens seguras para pedestres — especialmente nos arredores de escolas — e melhorias no atendimento pós-acidente. Além disso, é essencial mobilizar a liderança política para aumentar o financiamento para ações efetivas.
A América Latina, sendo uma das regiões mais urbanizadas do mundo, precisa urgentemente repensar sua mobilidade e investir em segurança viária”, alerta a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU). Com esta campanha, apelamos por ação urgente para garantir estradas seguras para todas as pessoas, em todo o continente.
O projeto “Melhoria da Prevenção de Acidentes nas Rodovias Federais no Brasil”, implementado pelo Fundo de Segurança Viária da ONU (UNRSF) em parceria com o Governo Federal apoia o desenvolvimento de um sistema interoperável de coleta e análise de dados de trânsito, permitindo medidas corretivas eficazes.
O Enviado Especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Segurança Viária, Jean Todt, visita a América Latina de 23 a 27 de junho, para lançar a campanha. Durante a visita que inclui, além do Brasil, o México, Guatemala, Panamá, Colômbia, o alto funcionário das Nações Unidas se reunirá com autoridades governamentais, líderes dos setores público e privado, membros da sociedade civil, e representantes da comunidade diplomática, para promover iniciativas de segurança no trânsito e defender medidas mais eficazes.
A missão segue a adoção de uma nova resolução da ONU sobre segurança viária na 4ª Conferência Ministerial Global sobre Segurança no Trânsito, realizada em Marrakech, Marrocos, no início deste ano (18 e 19 de fevereiro).
Geração que Move já impactou mais de 500 mil pessoas
Desde 2020, o Fundo das Nações Unidas para a Infância no Brasil (Unicef) e a Fundação Abertis mantêm uma aliança estratégica que visa fortalecer e expandir o trabalho e garantir os direitos de crianças e adolescentes à mobilidade urbana segura e protegida.
O foco principal da parceria é a iniciativa “Geração que Move“, que, ao longo de quatro edições, proporcionou um espaço de diálogo e engajamento, incentivando a participação ativa de adolescentes e jovens na criação de alternativas de transporte sustentáveis e inclusivas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
O projeto se alinha ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11e prevê ações de influência no desenvolvimento de políticas públicas sobre mobilidade segura por meio do engajamento com gestores públicos e campanhas de comunicação.
De acordo com a chefe do escritório do Unicef no Rio de Janeiro, Flavia Antunes Michaud, a mobilidade segura e sustentável é um direito fundamental para crianças e adolescentes, permitindo que explorem seu potencial e participem plenamente da vida em suas cidades.
Estamos comprometidos em construir ambientes urbanos onde cada criança possa se mover com segurança, acessando educação, saúde e lazer. Nos últimos anos, impactamos mais de 500 mil pessoas com nossas campanhas, engajamos mais de 5.000 adolescentes e jovens em atividades, e capacitamos mais de 1 mil profissionais em prevenção de violência e segurança viária, além de formular e compartilhar recomendações para o desenvolvimento de políticas públicas com participação de adolescentes e engajar candidatos nas eleições de 2024″, acrescenta.
Em 2025, o UNICEF continua com esforços para promover uma mobilidade mais segura e sustentável para crianças e adolescentes. Neste ano, a instituição participou da cocriação do Plano de Segurança Viária para o Estado de São Paulo,construiu uma rede de jovens para defender políticas públicas, e promoveu diálogos sobre o impacto da violência armada na mobilidade urbana, especialmente no Rio de Janeiro. Durante a Semana Global de Segurança Rodoviária, Maio Amarelo no Brasil, engajou mais de 300 mil pessoas por meio de ativações digitais. Mais uma ação acontecerá em setembro, durante a Semana Nacional da Mobilidade.
Da ONU, com Redação