Recentemente, em entrevista, Mariana Rios revelou que, após um período estressante, sofreu com uma crise de zumbido nos ouvidos e tontura. Ao consultar um médico, a atriz de 39 anos foi informada que sofria de uma condição conhecida como Doença de Menière. Então, afinal, o estresse pode causar zumbido e tontura?
Não podemos afirmar que o estresse e a ansiedade, isoladamente, sejam causa da tontura e do zumbido. No entanto, com certeza agravam os problemas e são agravados por eles, já que pacientes com zumbido e tontura não tratadas podem ter piora do quadro de saúde mental”, diz Nathália Prudencio, médica otorrinolaringologista e especialista em tontura e zumbido.
Segundo ela, o que sabemos é que o estresse crônico, a maior demanda emocional e a ansiedade podem funcionar como gatilhos ou piorar a percepção do sintoma, principalmente em doenças crônicas causadoras de tontura, como a Doença de Ménière, além de outras condições como a TPPP (Vertigem Fóbica) e a Enxaqueca Vestibular.
Ainda de acordo com a médica, as alterações que observamos durante períodos de alto estresse ou crises de ansiedade, como inquietação, apreensão, palpitação e respiração acelerada, são decorrentes de uma grande liberação de adrenalina no organismo.
Em alguns casos, o aumento da frequência cardíaca e a hiperventilação podem diminuir o fluxo sanguíneo no cérebro e provocar tonturas ou sensação de atordoamento. Quando o sintoma é persistente, porém, é provável que exista alguma anormalidade no sistema vestibular ― responsável por regular o nosso equilíbrio, a nossa coordenação e a nossa orientação espacial ―, ou problemas hormonais e metabólicos associados”, explica a otoneurologista.
No entanto, a tontura sim pode gerar ansiedade ou estresse, especialmente no início do quadro, devido ao seu caráter imprevisível, segundo a Dra. Nathália. De acordo com a otoneurologista, não há dúvidas de que, nos tempos atuais, há maior demanda emocional e temas como ansiedade e estresse estão em alta nas discussões acadêmicas, na mídia, na internet e nas conversas do dia a dia.
As emoções são também uma expressão da nossa fisiologia e já sabemos que a sobrecarga no trabalho, nos estudos e nas relações, por exemplo, pode gerar efeitos diversos na saúde. Mas no caso da tontura e do zumbido, precisamos identificar a real causa para tratar tontura e zumbido de maneira assertiva. E, claro, a ansiedade também deverá ser tratada, pois ela é um agravante”, conta a médica.
Segundo a médica, essa relação entre ansiedade e zumbido é muito comum e pode dar algumas pistas sobre o quadro do paciente e, principalmente, sobre como ele se relaciona com o zumbido. “Sabemos, hoje, que apenas um, em cada dez pacientes, apresenta o zumbido como um incômodo importante. Nessas pessoas, o sintoma pode ser um fator determinante para o surgimento ou agravamento de transtornos do humor, como a ansiedade e a depressão”.
Por outro lado, observamos também que períodos de maior estresse ou demanda emocional podem influenciar a maneira como o paciente vivencia o sintoma. Nesses momentos, as pessoas tendem a atribuir maior atenção ao som e aos seus impactos no dia a dia”, diz a Dra. Nathália.
Não são os fatores emocionais, isoladamente, que desencadeiam esse quadro. Na maioria das vezes, há vários outros fatores envolvidos e o fator emocional acaba funcionando como um gatilho para aparecimento do zumbido no ouvido no paciente, que já tinha outros motivos para tê-lo”, destaca a médica.
Quando analisamos a relação entre zumbido no ouvido e ansiedade, o que mais nos preocupa são os impactos do sintoma na saúde mental do paciente e não o oposto. A maioria das pessoas que apresentam o zumbido tendem a se habituar ao sintoma e não o percebem como um incômodo importante.
Para a minoria que sofre com a presença do som, porém, o zumbido pode afetar significativamente sua qualidade de vida. Se comparamos um grupo de pessoas sem zumbido com um grupo de pessoas que têm o sintoma, observamos uma prevalência maior de transtornos de humor entre aqueles que apresentam o zumbido”, diz a médica.
Vários outros fatores podem causar o zumbido
Ela acrescenta que o zumbido também pode ser desencadeado por: infecções; transtornos do labirinto; cerume impactado; medicamentos; alterações vasculares; e desordens funcionais.
Infelizmente, muitas pessoas sofrem com esse sintomas e atrás da tontura existem mais de 40 doenças. Nem tudo é labirintite”, diz o neurologista Saulo Nader, o Doutor Tontura, especializado em tontura, vertigens e desequilibrios
Segundo ele, a Doença de Menière é uma condição bastante complexa, pois além de crises de “labirintite” (crises de vertigem, na qual a pessoa sente tudo girando ou balançando intensamente, com muita náusea e desequilíbrio). gera zumbido crônico no ouvido e perda de audição ao longo da vida. “Ela ocorre por uma espécie de “pressão alta” no labirinto, o que pode ser controlado, em parte, por remédios”, afirma.
De acordo com a médica, pacientes cujo zumbido está relacionado à disfunção da articulação temporomandibular (que controla o movimento de abrir e fechar a boca), por exemplo, podem experimentar uma piora do sintoma em momentos de tensão, pois esse estado pode gerar maior apertamento dentário e contraturas musculares próximas ao ouvido.
Pessoas com mordida errada, bruxismo ou que realizaram procedimentos dentários também podem apresentar zumbido no ouvido pelo mesmo motivo. Na maior parte dos casos, o que observamos é que os fatores emocionais influenciam diretamente a percepção do paciente sobre o zumbido e as características do zumbido em si, como o aumento da intensidade do som”, explica.
Então, o que fazer?
Primeiro, é necessário entender que esses sintomas precisam ser investigados por um médico otorrinolaringologista ou um otoneurologista (otorrino especialista em zumbido e tontura) para obter um diagnóstico confiável. “Existem vários tratamentos, de acordo com a causa, que podem melhorar os sintomas. No caso da ansiedade, o acompanhamento psicológico também pode ajudar e diminuir o peso desse agravante”, finaliza a médica otoneurologista.
As medicações hoje existentes para Menière evitam as crises de vertigem, mas infelizmente não esta comprovado que elas protegem a audição a longo prazo. Outro desafio, é o zumbido – em muitos casos ele persiste. Uma reabilitação fisioterápica própria pra zumbido e um aparelho chamado Estimulação Magnética Transcraniana podem auxiliar muito no zumbido”, afirma o Doutor Zumbido.
Primeiro neurologista brasileiro membro oficial da Bárány Society, uma prestigiada sociedade científica internacional, sediada na Suécia, Nader é também é coordenador do departamento de vertigem da Academia Brasileira de Neurologia e segue nessa mesma luta aqui no país. O @doutortontura conta com uma base sólida de 141 mil seguidores, demonstrando seu alcance e influência nesta rede, além dos 1,5 milhões de seguidores no Youtube.
“Há uma nova esperança que vem sendo estudada – a medicação ebselen promete reverter um pouco da perda auditiva, reduzir o zumbido e proteger a audição ao longo do tempo – resultados desse estudo estavam previstos para 2024 mas por enquanto ainda não foram publicados. O ebselen poderia ser uma opção para complementar o tratamento com o do Mariana Rios e de todas as pessoas que sofrem de Menière, caso ele mostre sucesso no estudo”.
Com Assessorias