O pronunciamento oficial do presidente Jair Bolsonaro convocando a população a deixar o “confinamento obrigatório” e voltar ao trabalho, sob pena de prejuízos incalculáveis à economia, provocou uma série de reações na classe médica. Muitas entidades repudiaram as declarações e manifestaram apoio ao isolamento social como medida eficaz para ajudar a conter o avanço do novo coronavírus no país, como advertem autoridades sanitárias em todo o mundo, inclusive do Ministério da Saúde.
Já na noite de terça, a Associação Médica Brasileira (AMB) – que desde a campanha de 2018 vem se manifestando a favor de Bolsonaro – saiu em defesa do trabalho desenvolvido pelo ministro Luiz Henrique Mandetta no combate ao coronavírus, afirmando que ele tem “atuado de forma precisa e responsável”. “Os transparentes relatos com atualizações constantes sobre a pandemia da Covid-19 nos ajudam a entender o cenário atual, as perspectivas de soluções, e estimula nossa participação colaborativa”, destaca a nota.
O respeito com o qual o Ministério vem tratando os médicos e demais profissionais de saúde, bem como o empenho para resolver questões relevantes à classe, como a disponibilização de EPIs, aumento de respiradores, leitos de UTI, estratégias e logística para o enfrentamento desta pandemia encoraja ainda mais a categoria para avançar na linha de frente e cumprir seu papel, resguardando a segurança de todos e a assistência à população”, ressalta o texto (veja abaixo e a íntegra aqui).
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) pediu que “as medidas divulgadas pelas entidades médicas de todo o mundo, em particular da classe médica e científica brasileira, bem como o Ministério da Saúde, permaneçam sendo seguidas, ou seja, que o isolamento social continue. E informou que “permanecerá cumprindo seu papel de informar a verdade no que diz respeito ao coronavírus e a relação dele com as doenças alérgicas e imunológicas”.
Vivemos em um momento nunca visto antes em tempos recentes, com alertas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organizações das Nações Unidas (ONU) que estamos diante de uma situação “extremamente grave”. Neste momento, qualquer orientação contrária é irresponsável e pode colocar em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas. Portanto, fique em casa!”, diz a nota, assinada por Flavio Sano, presidente da Asbai.
Risco para pacientes que aguardam transplantes
A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) emitiram uma nota conjunta reiterando seu apoio às medidas.
Todos aqueles que podem manter-se em distanciamento social devem fazê-lo, pois estão colaborando para proteger as vidas dos nossos idosos que temos em nosso País e, também, das crianças, jovens e adultos que neste momento estão em tratamento hematológico, oncológico e onco-hematológico, bem como aquelas que aguardam por um transplante de medula óssea ou foram recentemente transplantadas”.
De acordo com a nota, “estes são pacientes que tem seu sistema imune comprometido, devido à sua condição de saúde, o que os torna mais suscetíveis às complicações da Covid-19, tanto quanto idosos, ou pessoas com doenças crônicas como diabetes, hipertensão e tantas outras.
Sem o distanciamento social, esta população estará em maior risco de sofrer os agravos que uma infecção pelo novo coronavírus pode lhes causar. Portanto, reiteramos que as medidas não devem ser flexibilizadas, para que possamos proteger a nossa população, seja qual for a idade”.
E prossegue: “À luz da ciência e também com base nas experiências das medidas de segurança no combate à Covid-19 que países como China e Itália – levando em conta erros e acertos, reiteramos veementemente para manter as orientações de isolamento. Juntos, podemos passar por isso!”.
Advogados da Saúde: ‘despreparo para lidar com a calamidade pública’
A Associação Brasileira de Advogados da Saúde (Abras) foi mais dura: “Como juristas e defensores do direito constitucional fundamental à saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS), consideramos o pronunciamento absolutamente irresponsável por contrariar a todos os protocolos clínicos e científicos reconhecidos e recomendados pela Organização Mundial da Saúde durante a pandemia”, afirma nota oficial assinada pela Abras.
A entidade repudia “a desautorização presidencial a respeito das medidas de prevenção e contenção adotadas pelo nosso Ministério da Saúde e governantes estaduais e municipais ao sugerir a volta às aulas e a infeliz comparação pessoal frente à realidade da maioria dos idosos brasileiros.
Trata-se do interesse coletivo em proteger nossas vidas e a preocupante economia do País ainda não transcende a nossa existência nesse momento crítico que assola o mundo. Lamentavelmente, não é o pronunciamento que esperamos do representante da Nação eleito, que demonstra despreparo para lidar com a situação de calamidade pública que se instalou”, criticou.
A nota ainda manifesta apoio ao trabalho desenvolvido pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “por não medir esforços em respeitar os protocolos clínicos e científicos recomendados pela Organização Mundial de Saúde, por respeitar as nossas autoridades sanitárias e, principalmente, por todos os profissionais da saúde que atuam na linha de frente no combate ao Covid-19”.
Permanecemos solidários à situação e deixamos à disposição nossa Diretoria e membros associados de todo o Brasil para auxiliar a todos os profissionais da saúde em meio aos dilemas que serão enfrentados para a manutenção da ordem, restabelecimento da normalidade e, principalmente, a cura sem colapsarmos os sistemas público e privado. A recomendação permanece para que todos fiquemos em casa e, juntos, combateremos a situação da maneira mais sábia”, conclui a nota.
NOTA DA AMB SOBRE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Crises são caracterizadas por constantes mudanças de cenário. De uma hora para a outra, as variáveis podem se modificar radicalmente, fazendo com que estratégias previamente traçadas possam, com grande volatilidade, se tornar ineficazes. Assim, constitui erro capital, nas crises, sustentar opiniões ou posições que perderam a validade em decorrência da evolução dos fatos. Por isso, o enfrentamento da situação com total transparência torna-se fundamental. É preciso que todos entendam o cenário, as mudanças que nele impactam e, por consequência, a busca de novas estratégias e ações.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde, capitaneado por Luiz Henrique Mandetta, tem atuado de forma precisa e responsável. Os transparentes relatos com atualizações constantes sobre a pandemia da COVID-19 nos ajudam a entender o cenário atual, as perspectivas de soluções, e estimula nossa participação colaborativa.
O respeito com o qual o Ministério vem tratando os médicos e demais profissionais de saúde, bem como o empenho para resolver questões relevantes à classe, como a disponibilização de EPIs, aumento de respiradores, leitos de UTI, estratégias e logística para o enfrentamento desta pandemia encoraja ainda mais a categoria para avançar na linha de frente e cumprir seu papel, resguardando a segurança de todos e a assistência à população.
A incansável luta contra outra praga desta crise, as fakenews, também tem sido louvável. É necessária, uma vez que a propagação de notícias falsas e alarmistas pode criar danos enormes à saúde e ao bem-estar da população. A hora é de união e colaboração e de apoio ao Ministro Mandetta e toda sua equipe ministerial. Precisamos estar atentos, alertas, críticos quando necessário, propositivos na segurança dos médicos e demais profissionais de saúde, mas sempre seremos colaborativos.
Com Assessorias