Divertida Mente 2, filme da Disney Pixar dirigido por Kelsey Mann, estreou nos cinemas no dia 20 de junho, e, recentemente, entrou na lista das dez maiores bilheterias da história da Disney. A obra é uma continuação de Divertida– Mente (2015) e conta a história de Riley, uma menina de 13 anos que passa por uma mudança para uma nova cidade. Durante esse processo, suas emoções, representadas como seres antropomórficos, lutam para manter a harmonia na mente da personagem.
A primeira exibição encantou o público com sua abordagem inovadora sobre as emoções humanas, destacando as aventuras de Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho. Em 2024, a aguardada sequência traz novidades emocionantes. Desta vez, a animação aprofunda-se nas complexidades emocionais enfrentadas durante a puberdade, introduzindo novas emoções – ansiedade, inveja, tédio e vergonha – e explorando a importância da aceitação e da convicção na formação da identidade dos jovens.
Ter convicção significa possuir uma firmeza de propósito e uma clareza interna que nos guia, mesmo em meio a desafios emocionais intensos”, explica a psicóloga clínica Tatiane Paula.
Novas emoções na puberdade
Nesta sequência, o filme introduz novas emoções essenciais para entender a formação da identidade dos jovens: Ansiedade, Inveja, Vergonha e Tédio. De acordo com a especialista, cada uma dessas emoções desempenha um papel importante na fase de transição entre a infância e a adolescência.
– Ansiedade: Representada de maneira que reflete os medos e incertezas típicos da adolescência, Ansiedade surge diante das mudanças corporais, sociais e acadêmicas. O filme aborda como essa emoção pode ser tanto paralisante quanto motivadora, dependendo de como é gerenciada.
– Inveja: Aparece como uma resposta natural ao desejo de se comparar com os outros, algo comum na adolescência. “A inveja pode provocar sentimentos de inferioridade e rivalidade, mas também pode ser um catalisador para a auto-melhoria e a motivação”, destaca Tatiane.
– Vergonha: Esta emoção profunda e muitas vezes silenciosa destaca os momentos em que os personagens se sentem inadequados ou julgados. Vergonha ensina sobre a importância da aceitação e do autorrespeito.
– Tédio: Mostrado como uma emoção que pode levar tanto à estagnação quanto à criatividade, o filme aborda como o tédio pode ser um impulso para explorar novos interesses e habilidades, especialmente em uma fase de vida repleta de mudanças e novas experiências.
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Aceitação das próprias emoções
“Divertida Mente 2″ utiliza uma linguagem acessível para transmitir a complexidade das emoções e o senso de humanidade. O filme enfatiza a importância de trabalhar a aceitação das próprias emoções, das mudanças que vêm com a puberdade e das incertezas da vida.
Aceitação é um componente essencial para a saúde mental e o bem-estar, ensinando que reconhecer e aceitar nossas emoções é o primeiro passo para gerenciá-las de forma eficaz”, observa a psicóloga.
O filme culmina com a personagem principal, Riley, se reconciliando com seu passado, o que lhe permite traçar um futuro mais estável e viver plenamente no presente. A mensagem final do filme, “Cada pedacinho faz ser quem é,” ressoa profundamente, destacando a importância de cada experiência emocional na construção de nossa identidade.
Esta reconciliação simboliza a integração das emoções novas e antigas, mostrando que cada emoção tem seu papel e importância na formação de uma pessoa equilibrada e resiliente”, explica Tatiane.
“Divertida Mente 2″ é mais do que um filme de animação; é uma reflexão poderosa sobre o desenvolvimento emocional e a importância da aceitação e convicção.
Ao abordar novas emoções como Ansiedade, Inveja, Vergonha e Tédio, o filme oferece uma visão clara de como estas emoções moldam nossas vidas e contribuem para nosso crescimento. A mensagem final de que ‘cada pedacinho faz parte de quem somos’ nos lembra da importância de aceitar e integrar todas as partes de nossa experiência emocional, para viver uma vida plena e autêntica”, conclui a especialista.
Ansiedade, vergonha, tédio e inveja: as novas emoções da protagonista
Maria Estela, psicóloga clínica e coordenadora do curso de Psicologia da UniCesumar de Maringá (PR), explica como essas emoções se relacionam com a puberdade. “O filme retrata que as vivências se somam aos poucos para produzir um sentimento estável do eu, e a revolução física e psicológica ocorrida na adolescência é um ponto de inflexão importante no ciclo do desenvolvimento humano, apesar de não ser o único”.
Ainda segundo a coordenadora, o filme baseia-se na psicologia cognitiva, em que as experiências com o ambiente produzem crenças centrais a respeito de si, do mundo e das pessoas, como as convicções do tipo “sou uma pessoa legal” ou “não sou boa o suficiente”, que podem afetar decisões e comportamentos.
Uma contribuição bastante importante do filme, desde sua primeira edição, é esclarecer que todos os sentimentos, inclusive os desagradáveis como a ansiedade ou a tristeza, fazem parte de nós e tem uma função protetiva e de sobrevivência”, conclui.
Maria Estela se aprofunda em cada uma das novas emoções, explicando como elas se manifestam e relacionando-as com a psicologia.
Ansiedade
A ansiedade é retratada como expectativa ou um tipo de medo difuso, que imaginam um futuro incerto, com uma agitação e urgência por lutar ou fugir de ameaças, sejam elas reais ou imaginárias. Estela ainda ressalta a admiração que o personagem “medo” tem pela ansiedade, enfatizando a relação entre as duas emoções.
“Uma outra grande contribuição do filme é apresentar uma estratégia de manejo da ansiedade utilizada pela personagem para se acalmar durante um episódio de pânico. As técnicas de “Grounding” ou “Presentificação”, aliadas à respiração profunda, consistem em focar a atenção nos estímulos do ambiente, tocar algum objeto ou superfície presente, prestar atenção aos ruídos enquanto inspira e expira profundamente, até que o episódio de ansiedade passe”, explica a psicóloga.
Vergonha
Estela diz que a necessidade de aceitação e pertencimento ao grupo vem como uma das prioridades do adolescente na sua jornada de construção do “self”, ou seja, da definição de com quem o jovem quer se parecer ou que tipo de pessoa quer ser. A vergonha se manifesta nessa fase, justamente por ser um período de descobertas, de erros e acertos.
Inveja
A inveja é outro sentimento que pode estar presente em todo ser humano, e sua manifestação pode ser mais intensa a partir da adolescência, uma vez que o adolescente terá maior autonomia para transitar em ambientes fora do contexto familiar e observar e comparar experiências diferentes das próprias”, explica a psicóloga.
Tédio
Com a habituação ao excesso de estímulos da era digital, é comum que o tédio se manifeste na adolescência. “Além disso, o aumento exponencial no gasto de energia da puberdade, os adolescentes apresentam mais sono e necessidade de descanso, o que pode ser interpretado erroneamente como preguiça ou tédio”, conclui Estela.