Ruídos, infecções, genética, diabetes e até medicamentos estão entre as principais causas da perda de audição. Mais de 9,7 milhões de brasileiros têm deficiência auditiva, segundo o último censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o total de pessoas surdas em 2015, no Brasil, era de 28 milhões (14%), e 360 milhões em todo o mundo.
De quatro a cada 1.000 nascidos vivos (0,4% dos bebês) têm deficiência auditiva no nasciment e cerca de 9% das crianças, até 31 meses de idade, vão apresentar alguma perda auditiva. Esta prevalência pula para mais de 33% quando considerados indivíduos maiores de 65 anos, o que corresponde a um terço dos idosos, segundo dados da OMS 2012.
Os números chamam atenção neste Dia Nacional do Surdo (26 de setembro), dedicado a conscientizar sobre a inclusão das pessoas com esse tipo de deficiência. Afinal, são milhares pessoas que enfrentam dificuldades para estudar, para trabalhar e até para fazer valer os seus direitos nos órgãos públicos, já que as medidas necessárias para incluir essa comunidade e facilitar a comunicação não são tomadas de forma satisfatória.
Especialistas ouvidos por ViDA & Ação confirmam que a perda auditiva é uma condição natural – perde-se conforme o passar dos anos, mesmo que, em sua maioria, as pessoas a percam ainda durante a idade ativa, por problemas auditivos antes da meia idade. Em geral, no Brasil estima-se que, ao menos, 15 milhões de pessoas já sofrem com algum tipo de perda auditiva ao entrar em contato com barulhos intensos.
Atenção ao uso excessivo de fones
Otorrinolaringologista e mestre em cirurgia clínica, Rita de Cássia explica que uma das causas mais comuns da deficiência auditiva é a exposição prolongada a ruídos. O som alto, com ou sem uso de headphones, pode levar a pessoa a adquirir diversos graus de surdez.
Os fones de ouvido transmitem altos níveis de vibração sonora (decibéis). Cerca de 28,8% de adolescentes brasileiros (os usuários mais frequentes) já possuem zumbidos – uma pressão nos ouvidos que causa uma dificuldade em compreender o que se ouve – em níveis comparados a adultos.
A probabilidade destes, ao entrarem em um contato prolongado com elevados níveis de ruídos, apresentarem problemas auditivos já aos 30 ou 40 anos é enorme”, explica Rita.
Jeanne Oiticica, otorrinolaringologista, otoneurologista e Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, alerta que ouso de fones de ouvido, música ou atividades recreativas com sons em intensidade elevada, acima da recomendada, podem prejudicar a audição quando a pessoa chegar na terceira idade.
Achamos que somos invencíveis quando jovens, que nada nos afeta e que a terceira idade nunca vai chegar. Por isso não vemos a necessidade de tratar conforme orientado pelo médico, pelo tempo que foi prescrito, na quantidade e horário recomendados”, comenta..
Perda auditiva entre idosos
O médico Fayez Bahmad Jr, do Instituto Brasiliense de Otorrinolaringologia (Iborl), ressalta a importância do tratamento da perda auditiva em idosos. Um estudo recente da Revista The Lancet apontou que a surdez é a principal causa de demência nessa faixa etária.
O especialista alerta que depois dos 65 anos, a audição pode apresentar algum grau de diminuição, principalmente em frequências agudas/altas. Esse processo recebe o nome de presbiacusia e pode afetar tanto homens, quanto mulheres.
“Ao sinal de qualquer alteração na audição, o paciente deve procurar um médico otorrinolaringologista para iniciar o tratamento”, pontua. Ele complementa que nos casos de perda auditiva leve a severa é preciso fazer uso de aparelho auditivo. Já a perda de audição neurossensorial profunda bilateral, que é causada por danos no ouvido interno ou no nervo que liga com o cérebro, pode levar à cirurgia de implante coclear.
A prevenção, segundo o especialista é a “fuga” dos ruídos intensos durante a vida ativa, e claro, o tratamento precoce, caso haja algum sintoma. “A perda auditiva em pacientes idosos é muito prevalente e comum e deve ser tratada o quanto antes para melhor adaptação e menor prejuízo social”, destaca Fayez Bahmad Jr.
Dicas para manter a saúde auditiva em dia
– Faça uma consulta ao otorrinolaringologista e o exame de audiometria pelo menos uma vez ao ano;
– Trate adequadamente as infecções de ouvido;
– Procure o especialista ao menor sinal de dor, desconforto ou sensação de ouvido tampado. “Quanto mais cedo diagnosticado o problema, menores as chances de sequelas”, alerta Dra. Jeanne.
- – Para os fones, a solução não é aboli-los, mas usá-los com moderação, sem o exagero no volume do aparelho. O limite auditivo seguro do som contínuo é 80 decibéis.
- – É preciso que se escute o som e, ao mesmo tempo, o que está a sua volta”, orienta a especialista. “O modelo de concha é o mais recomendado para fones, então, opte em usar este”, destaca Rita.
- – Fique atento ao tempo de exposição ao som alto: o ideal é fazer uma pausa de 10 minutos a cada hora de barulho intenso”, finaliza a especialista.
Luta pelos direitos dos surdos
A data criada em 29 de outubro de 2008 tem como principal objetivo gerar reflexão sobre os direitos e inclusão das pessoas com deficiência auditiva. “A comunidade surda no Brasil é muito unida. Eles querem o direito de usar a língua de sinais como primeira língua e não serem excluídos da sociedade por isso. O dia 26 de setembro é um dia de luta pelos seus direitos”, afirma a pedagoga Olga Cristina Rocha, professora de Libras no Centro Universitário IESB e coordenadora do projeto IESB Inclui.
Segundo ela, a comunidade não vê a surdez como uma doença ou uma deficiência, mas como uma característica. “É uma forma de se perceber o mundo sem a audição. Nós, ouvintes, pensamos nas mensagens subjetivas. Se eu faço algo errado, minha mãe pode falar algo como ‘bonito hein?’ com uma certa entonação de voz e eu entendo o recado, a ironia. O surdo, principalmente o congênito, não tem essa capacidade. Ele tem uma visão mais literal”, afirma .
Uma das reivindicações dos surdos é a presença de intérpretes de Libras no serviço público, como em hospitais. A lei 10.436/02, que dispõe sobre Libras, afirma que os serviços públicos de saúde devem garantir tratamento adequado aos Surdos, mas não explicita a necessidade de intérpretes.
“Temos vários casos de surdos que foram para a emergência de um hospital e morreram por não conseguir se comunicar”, conta Olga. “Outra reivindicação é que a educação seja feita em Libras como primeira língua. Mesmo com a presença de um intérprete, a forma como o conteúdo é ensinado não é adequada para surdos, porque depende da oralidade”, continua a professora.
“O surdo não só esbarra na dificuldade de comunicação, como também encontra barreiras para cuidar de si em momentos de dificuldades emocionais e psicológicas. Infelizmente, aqui em Brasília, ainda são poucos os profissionais que atendem esse público”, afirma Patrícia Rodrigues, psicóloga responsável técnica da Clínica de Psicologia do Iesb Oeste.
Libras, uma língua em movimento
No Rio de Janeiro, o Senac RJ promove nesta quarta-feira, na unidade Madureira, uma programação especial em alusão ao Dia Nacional do Surdo. Com o tema“Libras – uma língua em movimento”, o evento terá roda de conversa, palestra e oficina que irão abordar a inclusão do surdo no mercado de trabalho e na sociedade. O evento, das 9h às 12h, é gratuito e aberto ao público, com vagas limitadas. As inscrições podem ser feitas pelo link http://relacionamento.rj.senac.br/forms/index.asp?id=977.
A programação começa com uma roda de conversa sobre “Carreira e mercado de trabalho para a pessoa surda”. Em seguida, a palestra “Mãos que falam” ressalta a importância de se aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A conclusão do evento será a oficina “Expressão facial e corporal e sua relação com Libras”.
O dia 26 de setembro foi escolhido como Dia Nacional do Surdo por ser a data da fundação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES), dedicado à educação de surdos e o ensino bilíngue (libras-português). A disseminação do ensino de Libras, principalmente para ouvintes, é uma forma de inclusão social do surdo, facilitando a sua comunicação com as demais pessoas. Os direitos dos surdos são assegurados pela Lei de Inclusão, que entrou em vigor no dia 6 de julho de 2015, segundo a qual deve ser garantido ao surdo o atendimento em libras em qualquer escola ou órgão público.
O Senac RJ oferece cursos de Libras para estudantes em níveis Básico e Avançado. Os cursos, cada um com 160 horas, são compostos por atividades práticas e teóricas para estimular o processo criativo e a desenvoltura do aluno. Para fazer o curso, os interessados devem ter, pelo menos, o Ensino Fundamental completo e idade mínima de 16 anos.
O mercado de trabalho é amplo para quem domina Libras. Órgãos públicos, empresas de comércio, turismo, instituições de ensino e religiosas disponibilizam vagas para profissionais especializados capazes de interagir, se comunicar e prestar atendimento à pessoa surda.