Comemorado em 13 de abril, o Dia do Beijo é uma data que celebra uma das formas mais universais de carinho e conexão, que une pessoas ao redor do mundo. Porém, além de um símbolo de afeto, pode também representar um risco à saúde, especialmente quando há lesões na boca ou sintomas visíveis de infecções.
O ato de beijar envolve fatores importantes para a saúde bucal. Para além da estética ou da aparência dos dentes, o beijo pode ser uma via de transmissão de doenças e também um reflexo direto da rotina de cuidados com a boca. Apesar dos inúmeros benefícios, é importante lembrar que algumas infecções podem ser transmitidas pela saliva.
Poucos se lembram, mas a boca é um ambiente propício para a proliferação de bactérias e vírus, e o beijo pode ser um transmissor de diversas doenças. Por isso, o ato de beijar exige atenção quando o assunto é a saúde bucal. Neste Dia do Beijo, Vida e Ação ouviu diversos especialistas para dar orientações sobre os cuidados necessários para evitar complicações.
Se estamos falando de um beijo, com letras maiúsculas, demorado e com troca de secreções, várias infecções podem ser transmitidas. Isso inclui doenças como a mononucleose, influenza e outras infecções respiratórias, que são transmitidas pela via respiratória, ou seja, pela saliva”, explica André Costa Beber, coordenador do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
O especialista também aborda o risco relacionado ao famoso “selinho”, mais comum entre os jovens. “O risco de transmissão é bem menor nesse tipo de beijo, mas ainda assim pode haver transmissão de doenças da pele dos lábios, como o herpes labial, além de verrugas causadas pelo HPV“, diz.
Portanto, é importante lembrar que, embora seja um gesto de carinho e afeto, também exige cuidados para evitar a transmissão de doenças. “Seja por um beijo demorado ou um simples “selinho”, a higiene e a atenção a lesões e sintomas são fundamentais para a prevenção. Afinal, a saúde também faz parte do cuidado com quem se ama”, conclui o médico dermatologista.
Especialistas alertam sobre a ‘Doença do Beijo’
Por ser uma área com mucosa, a boca é a porta de entrada para uma série de infecções. E o beijo é o veículo perfeito para isso. A mais famosa dessas patologias é a que ficou conhecida como “doença do beijo”, embora o nome oficial seja mononucleose. O contato próximo e o compartilhamento de copos e garrafas aumentam as chances de exposição ao vírus.
Ela é causada pelo vírus Epstein-Barr e pode ser transmitida por meio da saliva. Alguns dos sintomas são tosse, gânglios linfáticos inchados, cansaço, dor de garganta, perda de apetite, inflamação do fígado e hipertrofia do baço”, detalha o o infectologista e professor de Medicina da Universidade Positivo (UP), Marcelo Ducroquet.
A mononucleose infecciosa costuma dar sinais dias após a infecção. Os casos mais comuns surgem entre o público adolescente, que geralmente nunca teve contato com o vírus. A maior parte das pessoas que contrai essa doença tem entre 15 e 25 anos e, uma vez que isso acontece, o vírus fica no organismo para o resto da vida.
Os sintomas são dor de garganta, fadiga, mal-estar, febre, prurido e inchaço dos gânglios. Em casos mais graves, a pessoa infectada pode desenvolver dor nas articulações e na barriga, além de manchas pelo corpo. Mas a doença do beijo pode ser assintomática e confundida com doenças respiratórias.
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Resfriados e gripes
Mas essa não é a única infecção transmitida pelo beijo. Uma série de doenças infecciosas podem ser transmitidas neste ato. E o mais preocupante é que várias dessas infecções não apresentam sintomas, enquanto outras são transmissíveis mesmo sem eles.
É necessário estar atento aos sinais e à saúde. O beijo pode transmitir não só a mononucleose, mas outras infecções virais e bacterianas. Caso haja sintomas nos dias seguintes como febre, cansaço excessivo e dores de garganta, cabeça e musculares, busque orientação médica”, explica Dayanna Quintanilha, especialista em Clínica Médica e mestre em ciências da saúde da Afya.
Segundo Marcelo Ducroquet, a mais comum das doenças transmitidas pelo beijo é o resfriado, que todo mundo tem uma, duas ou três vezes por ano.
Um pouco mais grave do que isso, também uma doença respiratória, é a influenza. Essa, temos uma vez a cada cinco ou dez anos, se não tomar a vacina. Dependendo da condição prévia da pessoa, ela pode parar no hospital ou até morrer. Por isso é importante manter a vacina da influenza em dia”, alerta.
Herpes, citomegalovírus e HPV
Além das questões respiratórias, há outros tipos de enfermidades transmitidas pela saliva. O herpes simplex, por exemplo, também é um risco. Quem tem herpes labial costuma apresentar bolhas nos lábios que podem ser muito dolorosas. Elas desaparecem e reaparecem com alguma frequência e, embora alguns medicamentos ajudem a controlar o incômodo, o problema não tem cura.
Outra infecção com transmissão via oral é o citomegalovírus, com sintomas como ínguas pelo corpo e febre. “Não são doenças muito graves, mas, uma vez infectado, não há cura e você pode passar a ser um transmissor. Até por isso esses vírus têm alta circulação, porque não podem ser eliminados do organismo e, muitas vezes, são transmitidos mesmo quando o portador não apresenta sintomas”, explica.
A preocupação maior deve ser sempre com as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a candidíase oral e o vírus HPV, que pode levar a graves infecções e causar diversos tipos de câncer – o principal deles é o câncer de colo do útero, além do câncer de pênis, anal e de garganta. Por isso, essas doenças sim, podem ser prevenidas com o uso correto de preservativos,
Algumas dessas doenças não têm tratamento e tendem a passar sem interferência médica. Portanto, os medicamentos usados geralmente são apenas para aliviar os sintomas”, afirma explica Alexandre Ravani, dentista e CEO da PróRir, rede de clínicas odontológicas.
Impetigo bacteriano
Além das ISTs, o beijo pode agravar ou até mesmo transmitir outras condições dermatológicas, como o impetigo bacteriano. “O impetigo, que é uma infecção bacteriana comum na região perioral, pode ser facilmente transmitido pelo beijo. Se houver vesículas ou crostas na região, é essencial evitar o contato até que a lesão esteja completamente curada”, explica Dr. Beber.
O especialista alerta ainda sobre os cuidados que devem ser tomados ao beijar alguém quando há lesões visíveis na boca, como feridas, aftas ou herpes labial. “A presença de lesões nos lábios, mesmo que pequenas, favorece tanto a transmissão quanto o contágio de doenças. Essas lesões expõem os micro-organismos, tornando o ato de beijar um caminho para a transmissão”, afirma.
É preciso de cuidados extras ao beijar crianças, bebês ou pessoas imunodeprimidas. “O herpes labial pode causar doenças graves nesses indivíduos, como a meningite herpética, ou até mesmo transmitir infecções oculares graves, como a ceratoconjuntivite herpética, que pode levar à perda da visão”, diz o médico dermatologista.
Ele também destaca outros cuidados relacionados ao uso de medicamentos, que podem influenciar a saúde da pele e aumentar o risco de complicações.
Tratamentos como isotretinoína para acne podem causar ressecamento nos lábios, tornando-os mais suscetíveis ao herpes labial. Além disso, terapias como peelings profundos ou laser podem desencadear surtos de herpes. Nesses casos, é importante seguir as orientações médicas e usar lubrificantes labiais para proteger a pele”, recomenda.
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Por isso, o melhor remédio é sempre a prevenção. deve-se evitar esse contato com pessoas desconhecidas ou que estejam com sintomas como febre, dor no corpo ou feridas na boca. Mas, segundo o infectologista Marcelo Ducroquet, para se proteger, não basta contar com a boa higiene bucal alheia ou mesmo caprichar na escovação e fio dental.
A maior parte dessas doenças não é visível e não há como saber quem tem e quem não tem. É importante observar se a pessoa que você vai beijar não tem, por exemplo, uma lesão na boca, que é comum no caso de herpes, mas, no geral, quem beija desconhecidos não tem meios práticos para evitar pegar essas doenças”, esclarece Ducroquet.
Confira as recomendações do dentista Alexandre Ravani e do infectologista Leonardo Ruffing, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP),
- Evite beijar pessoas desconhecidas ou que você sabe que estão doentes.
- Mantenha uma boa higiene bucal, escovando os dentes pelo menos três vezes ao dia e usando o fio dental;
- Lave as mãos com frequência;
- Antes de tocar rosto e olhos, higienize bem as mãos;
- Evite compartilhar copos e talheres;
- Mantenha os ambientes bem ventilados;
- Vacine-se contra a gripe;
- Tenha uma alimentação equilibrada;
- Realize exames de rotina.
Ravani ainda ressalta a importância de visitar o dentista regularmente. “Ao menos uma vez por ano ou sempre que sentir algum desconforto. Se sua saúde bucal está em dia, então escolha um bom parceiro, beije muito e seja feliz”, finaliza o CEO da PróRir.
Com Assessorias