A enxaqueca é uma doença crônica caracterizada pela hiperexcitabilidade do cérebro, que comanda todo o organismo, e tem predisposição genética. Mais de um bilhão de pessoas no mundo todo sofrem com enxaqueca, segundo a Organização Mundial da Saúde. A doença atinge pessoas de todas as idades, mas tem o ápice entre os indivíduos de 30 e 50 anos. As mulheres são as que apresentam dores de cabeça – um dos principais sintomas da enxaqueca – mais fortes e incapacitantes, devido a questões biológicas e hormonais.
A prática de atividade física pode ajudar a melhorar a enxaqueca desde que realizada de maneira monitorada e orientada por um profissional especialista, de forma regular, com condicionamento físico, de maneira progressiva e que não seja no momento da crise.
Caminhadas leves são um bom exemplo de exercício para iniciar e depois evoluir para uma caminhada mais rápida ou até para a corrida. O exercício de maneira regular e orientada é muito importante, inclusive, para a prevenção de crises e controle da doença”, orienta a neurologista Thaís Villa, especialista no diagnóstico e tratamento da enxaqueca.
A médica acrescenta que, em momentos de crise, é indicado que a pessoa com enxaqueca faça repouso, pois a dor pode ser piorada por mínimos movimentos do corpo, ainda mais durante a atividade física. Depois de passada a crise, a orientação é que o paciente retome suas atividades de maneira tranquila, sem exageros, e com orientação.
De acordo com a neurologista, nenhum tipo de treino, de prática esportiva ou atividade física causa enxaqueca, porque essa é uma doença hereditária. O que pode acontecer é a atividade física ser um gatilho desencadeador de crises de enxaqueca, principalmente em pessoas que sofrem com enxaqueca crônica, em que a dor de cabeça leve a moderada acontece em quase todos os dias do mês, então essa pessoa está muito predisposta a ter gatilhos .
É muito importante para as pessoas que têm enxaqueca que evitem se medicar para treinar. Muitos, em vez de controlar a doença enxaqueca, tomam analgésicos para o treino a fim de não ter dor de cabeça. Ou estão sem tratamento e, sempre após o treino, sentem piora da dor de cabeça, recorrendo a analgésicos, anti-inflamatórios ou remédios de crise. O uso excessivo dessas medicações só piora a enxaqueca”, completa Thaís Villa.
Por que a enxaqueca afeta mais as mulheres?
A doença é complexa, de causa hereditária e não tem cura. Mas é possível ter mais qualidade de vida por meio do controle dos sintomas.
A enxaqueca não é uma doença exclusiva das mulheres. Mas são elas que mais sofrem, as mais debilitadas pela doença, que apresentam crises de dor de cabeça – e outros sintomas associados – muito mais severas, duradouras e frequentes. Isso acontece por questões hormonais: a mulher apresenta o estrogênio em grande quantidade, um facilitador das dores no sintoma dor de cabeça.
A explicação é da neurologista Thaís Villa, que há mais de 20 anos dedica sua carreira a cuidar de pacientes com enxaqueca – a grande maioria mulheres. “Essa não é uma doença exclusiva em mulheres, mas são elas que, por apresentarem quadros mais severos de dor de cabeça, acabam procurando mais por atendimento especializado e, consequentemente, são mais diagnosticadas com a enxaqueca”, esclarece a médica.
A doença é caracterizada pela hiperexcitabilidade do cérebro que entra em sofrimento a cada crise de enxaqueca. A causa é hereditária, ou seja, a pessoa nasce com a tendência a ter enxaqueca. E se há uma faixa etária em que as mulheres apresentam crises mais intensas e debilitantes é no período que vai da adolescência até os 50 anos de idade, quando elas estão expostas a níveis de estrogênio mais elevados.
Pois esse período de episódios mais intensos de enxaqueca coincide com a idade fértil da mulher e quando muitas fazem uso da pílula anticoncepcional como método contraceptivo, a maioria com hormônios combinados de estrogênio e progesterona, “uma uma verdadeira ‘bomba’ que aumenta o risco para AVC em 15 vezes”, alerta a neurologista baseada em estudos recentes e complementa: “o quadro pode piorar se a mulher tem enxaqueca com aura (um dos sintomas da doença, manifestada por alterações da visão), faz uso da pílula com hormônios combinados e ainda é fumante. Para elas, as chances de sofrer um AVC é 30 vezes superior”.
Se os números assustam, saiba que também existe uma boa notícia para quem sofre de enxaqueca: é possível controlar as terríveis dores de cabeça, um dos principais sintomas da doença entre inúmeros outros, com tratamento integrado que envolve uma equipe de profissionais de várias especialidades atentos a todas as variáveis dessa doença tão complexa.
Ter acesso ao atendimento multiprofissional e individualizado é muito importante, mas ainda é uma realidade para apenas 3% entre as pessoas que têm a doença. Com o objetivo de oferecer mais qualidade de vida para pacientes com enxaqueca por meio do controle das dores, a Dra Thaís Villa foi pioneira e inaugurou, há 8 anos, o Headache Center Brasil, clínica de tratamento integrado. Atualmente, são 23 profissionais de saúde em 12 especialidades dedicadas a cuidar de pessoas com enxaqueca.
“Existe tratamento eficiente para a enxaqueca e ele deve cuidar do paciente como um ser único, utilizando medicamentos de ponta e métodos não medicamentosos para evitar as crises. Além da consulta com o neurologista especialista, o acompanhamento com o ginecologista irá orientar a mulher a fazer uso do método contraceptivo mais seguro a fim de não agravar ainda mais os sintomas da enxaqueca ou trazer outras complicações. Deixar o vício do tabagismo também não é tarefa fácil, assim como a desintoxicação do organismo por longos períodos utilizando remédios por conta própria e até mesmo da cafeína, que proporcionam ao cérebro a sensação de alívio, mas não tratam a doença”, explica Thaís Villa.
Botox no controle das crises
A toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, é uma das grandes descobertas no tratamento preventivo da enxaqueca crônica, com resultados cientificamente comprovados. A substância bloqueia a liberação de certos neurotransmissores responsáveis por levar a informação da dor ao cérebro. Segundo a neurologista, durante o tratamento com botox foi verificada a ocorrência de menos efeitos colaterais indesejáveis em comparação à medicação via oral, como sonolência, ganho de peso, entre outros.
Outro avanço foi revelado por estudo feito pelos especialistas do Headache Center Brasil que relaciona a utilização do botox no controle da enxaqueca com a diminuição dos “fogachos” (ondas de calor) em mulheres na pré-menopausa.
“A maioria das pacientes apresentaram redução na frequência das dores de cabeça e melhora significativa na intensidade das crises de enxaqueca, voltando a ter mais qualidade de vida. O climatério é uma fase natural da vida da mulher e requer um novo olhar sobre a saúde, principalmente para quem sofre da doença”, acrescenta a médica.