O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica caracterizada por desafios na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. Esse transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta de diferentes formas e apresenta variados níveis de suporte necessário. Algumas crianças conseguem levar uma vida independente, enquanto outras necessitam de acompanhamento constante para atividades do dia a dia.

O autismo não tem cura, mas o tratamento pode reduzir significativamente os desafios enfrentados pelos indivíduos dentro do espectro. Embora não tenha cura, intervenções precoces e adequadas podem ajudar no desenvolvimento e na autonomia das pessoas autistas.

Uma delas é a Análise do Comportamento Aplicada (ABA),  uma abordagem baseada em evidências científicas que busca promover a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e de comunicação, adaptando-se às necessidades individuais de cada paciente.

Segundo Juliana Moura, psicóloga especializada em ABA para autismo, essa intervenção pode trazer resultados significativos na autonomia e na qualidade de vida das pessoas autistas. “A terapia ABA é uma ferramenta essencial para ajudar pessoas autistas a desenvolverem habilidades sociais, de comunicação e autonomia, promovendo mais qualidade de vida”, afirma a psicóloga.

As intervenções em ABA têm como principal objetivo ampliar o repertório de comportamentos dos indivíduos e reduzir a frequência ou intensidade de comportamentos desafiadores. Por meio de técnicas que promovem o aprendizado de novas habilidades, a abordagem contribui para o desenvolvimento da comunicação, da autonomia e da socialização. Cada plano é adaptado de forma personalizada, respeitando as necessidades e o ritmo de cada pessoa.

As intervenções precisam de uma avaliação criteriosa, com protocolos reconhecidos nacional e internacionalmente. Essa análise abrange todos os domínios do desenvolvimento e inclui a coleta de dados para entender os fatores que influenciam o comportamento, ajudando a ajustar o plano de intervenção e encontrar estratégias para lidar com comportamentos desafiadores”, ressalta Juliana.

Cada paciente é único

A psicóloga ainda destaca que durante as intervenções em ABA, cada criança recebe um Plano Terapêutico Individualizado (PTI), criado após uma avaliação criteriosa para definir metas de ensino adaptadas à sua realidade, aplicadas em casa, no consultório e em outras terapias.

Por ser uma ciência — e não um método fixo — a ABA considera a singularidade de cada indivíduo. O plano, elaborado por um Supervisor Analista do Comportamento, é acompanhado por mensurações contínuas para garantir o progresso, podendo ser aplicado por profissionais capacitados e pelos próprios pais.

A ciência ABA não é só para o tratamento dos autistas. Todos os indivíduos podem e devem se beneficiar com essa tão renomada ciência que está presente em todos os contextos a fim de promover a modificação do comportamento, seja no esporte, na economia, na escola, e na vida de qualquer indivíduo”, destaca Juliana.

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Diagnóstico precoce é fundamental para qualidade de vida

O diagnóstico precoce e o acesso a terapias adequadas são essenciais para garantir melhor qualidade de vida de pacientes autistas. “A neuroplasticidade cerebral é mais intensa nos primeiros anos de vida. Isso significa que intervenções terapêuticas aplicadas precocemente têm um impacto muito maior no desenvolvimento da criança, ajudando-a a desenvolver habilidades sociais e comunicativas”, explica a fonoaudióloga Juliana Gomes, especialista em comunicação alternativa e linguagem infantil e CEO da Clínica Life.

De acordo com Juliana Gomes, os primeiros sinais do autismo podem ser observados ainda nos primeiros anos de vida. Entre os principais indicativos estão:

  • Dificuldades na comunicação: atraso na fala, repetição de frases sem contexto e dificuldade em iniciar ou manter conversas;
  • Baixa interação social: pouco interesse em brincadeiras com outras crianças, falta de reciprocidade emocional e dificuldade em interpretar expressões faciais;
  • Comportamentos repetitivos: balançar o corpo, bater as mãos, alinhar objetos obsessivamente ou insistência em rotinas rígidas;
  • Hipersensibilidade sensorial: reações exageradas a sons, luzes, cheiros e/ou texturas de roupas e alimentos.

O caminho entre a suspeita e o diagnóstico pode ser longo e desafiador para as famílias. Além da aceitação da condição, muitos pais enfrentam dificuldades para encontrar profissionais especializados e acessar terapias multidisciplinares, como fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional.

O processo de adaptação exige muito da família. É um período de aprendizado, em que os pais precisam entender as necessidades específicas da criança e buscar suporte adequado”, ressalta Juliana Gomes. O acompanhamento contínuo é essencial, pois o TEA pode se manifestar de maneiras diferentes ao longo da vida, exigindo ajustes nas estratégias terapêuticas.

Tratamento e suporte multidisciplinar

Embora o autismo não tenha cura, o tratamento adequado pode proporcionar avanços significativos. “Quanto mais cedo as crianças forem estimuladas, maiores serão as chances de desenvolverem autonomia e habilidades essenciais para sua vida cotidiana”, conclui Juliana. Entre as abordagens mais comuns estão:

  • Terapia fonoaudiológica: auxilia no desenvolvimento da fala e comunicação;
  • Psicoterapia: trabalha habilidades sociais e emocionais;
  • Terapia ocupacional: ajuda na autonomia e adaptação sensorial;
  • Acompanhamento neuropediátrico: avalia a necessidade de medicações e orientações específicas.

Abril Azul conscientiza sobre autismo

Para ampliar o debate sobre o TEA e garantir que crianças e adultos dentro do espectro tenham acesso ao diagnóstico e tratamento adequados, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado desde 2007.  O Abril Azul foi estabelecido pela ONU com o objetivo de conscientizar a população sobre o autismo, envolver a comunidade, trazer visibilidade e buscar uma sociedade mais consciente, menos preconceituosa e mais inclusiva.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas são autistas no mundo. A prevalência global é de um caso para cada 44 nascimentos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. No Brasil, enquanto os dados do Censo 2022 ainda não são divulgados pelo IBGE, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas tenham TEA.

Com Assessorias

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