Aplicativo popular entre adolescentes, o Discord virou um território sem lei, onde predadores estão à caça de menores de idade. Neste domingo (25/6), o programa Fantástico, da TV Globo, mostrou como chantagistas usaram o app para ameaçar jovens e adolescentes, muitas vezes menores de idade, para cumprirem desafios na frente das câmeras. Caso contrário, fotos íntimas delas seriam expostas para todos.
Há também outras práticas mais sádicas. Os criminosos se sentiam seguros pelo suposto anonimato concedido pela Internet e não se importavam revelar comportamentos sádicos e misóginos. A Polícia Federal identificou diversas vítimas e criminosos, realizando a prisão dos infratores. “Eles são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres”, afirma o delegado Fábio Pinheiro Lopes.
“É importante que fique muito claro que não se trata de desafios que estão sendo praticados por adolescentes. Tratam-se de criminosos, a grande maioria maiores de idade, que utilizam a insegurança dessa plataforma em relação a crianças e adolescentes para praticar crimes gravíssimos contra essas meninas”, diz a promotora Maria Fernanda Balsalobra.

Um dos criminosos tem vários aparelhos de armazenamento e revela uma coleção cruel: “backup das vagabundas estupráveis”. Em cada pasta, o nome de uma vítima. São dezenas de meninas violadas, chantageadas, expostas, catalogadas.

Os agressores se sentem protegidos pelo anonimato e se tornam cada vez mais cruéis.

“Ajoelha, se prostra para mim, eu sou a p*** de um deus para você agora. Você é uma vagabunda que merece sofrer mesmo”, diz Izaquiel Tomé dos Santos, conhecido como Dexter, a uma adolescente.

Ele está preso desde abril. Há denúncias de dez vítimas: fotos de meninas nuas, mutiladas com uma dolorosa assinatura, o nome Dexter escrito com lâmina na pele.

À Polícia Federal, Izaquiel admitiu ter chantageado garotas para que elas se mutilassem. “Elas tinham que esconder isso da família, principalmente as lesões que elas mantinham no corpo de cortes”, explica o delegado João Rocha.

Além das dez vítimas localizadas pela PF, o Fantástico encontrou outras cinco.

“A gente espera que os pais conversem preventivamente, busquem se os filhos têm alguma lesão, se ficam muito tempo dentro do quarto. O diálogo é importante”, ressalta o delegado.

Na última sexta-feira (23), a polícia prendeu dois criminosos que agiam na plataforma e identificaram mais um, Carlos Eduardo, conhecido como DPE, que estava foragido, mas foi preso nesta segunda-feira (26), dia seguinte após exibição da reportagem do Fantástico.

Discord, abusadores e a ‘Geração do quarto’

Em abril, uma reportagem do Fantástico mostrou como o Discord era usado como uma ferramenta para envolver jovens em um submundo de violência extrema. Agora, o programa traz uma nova investigação sobre um submundo perverso da plataforma.

O especialista em estudos da criança Hugo Monteiro Ferreira realizou uma pesquisa sobre a atual condição social e emocional de adolescentes e crianças, entrevistando mais de três mil pessoas.

“Eu nominei como geração do quarto”, diz Hugo. “Você tinha um fenômeno que já ocorria, e a pandemia colocou uma tonelada sobre esse fenômeno. Quando eu vou para o mundo da internet, presencio pessoas que querem me manipular, presencio elementos de violência. Eu aprendo a me suicidar, aprendo a atacar escolas, aprendo a como é me autolesionar”.

A jornalista Letícia Oliveira monitora grupos de ódio e violência nas redes sociais há dez anos.

“Cada vez mais, elas vão vendo conteúdo mais extremo e isso acaba levando elas a cometerem atrocidades, porque elas estão tão dessensibilizadas, estão tão acostumadas com a violência. É urgente que a gente entenda o que está acontecendo para tentar mudar isso”.

Discord também é alvo de investigação

Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo investiga o próprio Discord e sua falta de segurança em deixar que crimes sejam cometidos na plataforma sem punições.

“Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataque as vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime”, declara o promotor de Justiça de São Paulo Danilo Orlando.

Em entrevista ao Fantástico, um porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”, mas admitiu que situações assim podem ocorrer, mas que eles trabalham ativamente para remover o conteúdo.

“Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz.

Ainda segundo o funcionário da empresa, “a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis”. “Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”, afirmou.

Mas o que é afinal o Discord e como lidar com ele?

Confira detalhes da plataforma, como funciona e também dicas para usá-la de forma segura – especialmente entre crianças e adolescentes

Especializado em tecnologia, o site Tech Tudo explica que o Discord é uma plataforma de comunicação gratuita bastante usada por gamers para chats de voz. Permite que pessoas se comuniquem em transmissões ao vivo de vídeos. A plataforma oferece chat de voz, texto e vídeo, sendo bastante utilizado por gamers para se comunicar com amigos e outros usuários ao jogar online.

“O aplicativo nasceu no ano de 2015 com o foco absoluto nos gamers. Eventualmente, o Discord mudou um pouco sua abordagem, mantendo o interesse dos gamers, mas abrindo o espaço para outras pessoas que gostariam de um novo espaço para conversar por texto, chamadas de voz e chamadas de vídeo”, explica o site.

“De uma forma geral, o Discord é uma plataforma segura”. “Mas, assim como toda a Internet, é preciso tomar cuidado”, pondera. Segundo o site, existem formas de controlar quem tem acesso a você, além de medidas de segurança envolvendo a própria conta. Ainda assim, é importante tomar alguns cuidados para evitar pessoas mal-intencionadas, assim como em qualquer rede social.

Preste atenção ao conteúdo consumido por seu filho/a

Outro detalhe importante é lembrar aos pais os riscos não apenas do Discord, mas da Internet como um todo. É necessário prestar atenção no que as crianças e adolescentes estão fazendo e o conteúdo que elas estão consumindo dentro de seus quartos enquanto utilizam o computador ou celular.

O diálogo sempre será importante para impedir que os mais jovens acabem sofrendo nas mãos de criminosos na Internet. Portanto, orientações básicas como evitar entrar em servidores desconhecidos, limitar as atividades na plataforma a grupos de amigos ou conhecidos, além de optar por canais oficiais das próprias desenvolvedoras e jogos, podem ajudar.

“É importante ressaltar que o Discord não está livre de vírus e que usuários podem enviar para sua caixa de mensagem links suspeitos de servidores e prometendo alguma recompensa. Caso aconteça com você, não clique no link, bloqueie o autor da mensagem e denuncie para a plataforma. Vale lembrar também que, se você perceber qualquer atividade estranha em seus servidores, como conteúdos inadequados ou até criminosos, não hesite em denunciá-lo também, antes de sair”, recomenda o site especializado.

Com informações do g1, Tech Tudo e Discord

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