Cada vez mais presente nas capas de revistas, em passarelas de moda, reality shows, palcos e até em bonecas, o vitiligo tem ganhado cada vez mais conscientização da população mundial. Além do polêmico ídolo Michael Jackson, famosos como a modelo canadense Winnie Harlow (foto), os atores Steve Martin, Thomas Lennon e Jon Hamm sofrem com a doença, que no Brasil atinge personalidades como a modelo Luiza Brunet, os atores Matheus Solano e Igor Angelkorte, a blogueira Sophia Alckmin e a ex-BBB Natália Deodato, só para citar alguns.
Até crianças podem ser atingidas pelo vitiligo, que não escolhe sexo, idade ou classe social. Apesar disso, ainda há muito preconceito e desconhecimento sobre uma doença que atinge até 2% da população mundial e cerca de 1 milhão de brasileiros. Tem gente que, por mais absoluta ignorância, ainda acha que vitiligo pega.
Para descontruir mitos como este, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o Dia Mundial do Vitiligo, comemorado no dia 25 de junho. O objetivo é conscientizar e combater o preconceito causado pela doença dermatológica que afeta a qualidade de vida de até 1% da população mundial. Estima-se que hoje o vitiligo acometa mais de 150 milhões de pessoas no mundo e mais de um milhão de pessoas no Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
A luta diária de quem convive com a doença está mais ligada ao impacto emocional causado pela aparência do que às limitações físicas e demais restrições, como ocorre em outras patologias. Por isso, o impacto psicossocial do vitiligo também é uma preocupação importante.
“Mesmo sendo uma doença benigna e não contagiosa, as lesões provocadas pelo vitiligo geram um impacto significante na qualidade de vida e na autoestima do paciente. Geralmente, há um impacto psicológico, profissional e social na vida do paciente”, afirma a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Por isso, especialistas aproveitam a data para ajudar a derrubar mitos e reduzir os estigmas, explicando sobre as principais causas, sintomas, cuidados e tratamentos disponíveis e impactos dessa condição na vida dos pacientes.
Vitiligo: Especialista esclarecem as principais dúvidas
O Portal ViDA & Ação reuniu informações e dicas dos médicos dermatologistas Camila Reis, professora do curso de Medicina da Faculdade Pitágoras; Eduardo Rebechi e Flavia Souza Vago, da Meu Doutor Novamed, além de Gislaine Sales, Amilton Macedo e Paola Pomerantzeff. Confira:
O que é vitiligo?
Caracterizado pelo surgimento de manchas brancas na pele de diferentes tamanhos e formatos, o vitiligo é uma doença de origem genética e autoimune. É causada pela perda de coloração local e a perda ou diminuição das células que são responsáveis pela formação da melanina, que é o pigmento que dá cor à pele.
Por se tratar de uma alteração na coloração da pele em virtude da destruição dos melanócitos, que são as células responsáveis por ativar a melanina, o vitiligo se caracteriza pelo surgimento de lesões cutâneas de hipopigmentação, ou seja, manchas com diminuição ou ausência de melanócitos – células responsáveis pela formação da melanina/pigmento.
O que causa o vitiligo?
O vitiligo é uma doença genética e autoimune, mas nem todos os motivos que desencadeiam a autoimunidade já foram esclarecidos. A doença não possui uma única causa determinada. Segundo Flavia Souza Vago, trata-se de um distúrbio multifatorial, que pode ser motivado por questões genéticas, ambientais e imunológicas, entre outras.
“Além dos fenômenos autoimunes, que parecem estar relacionados ao desenvolvimento do vitiligo, alterações ou traumas emocionais podem estar entre os fatores que desencadeiam ou agravam a doença”, ressalta a especialista.
Essa doença vem de família?
Ainda que o vitiligo possa ser provocado por diversos fatores, Eduardo Rebechi aponta o peso da genética no desenvolvimento de casos. Pessoas que possuem histórico de vitiligo na família têm mais chance de sofrer com a doença.
“A influência genética no surgimento do vitiligo já foi bastante comprovada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o histórico familiar está presente em cerca de 30% dos casos”.
Por ser uma doença que tem a genética como um dos seus fatores, não tem como evitar o aparecimento de sintomas quando se tem casos na família. “O que deve ser feito é observar e, se houver aparecimento de lesões suspeitas, procurar um médico dermatologista para que haja o início do tratamento e as orientações necessárias”, diz a dermatologista Gislaine Sales, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia.
Sinais e sintomas do vitiligo?
A maioria das pessoas com vitiligo não manifesta qualquer sintoma, além do surgimento das manchas cutâneas acrômicas (sem pigmentaçào), ou seja, manchas brancas de tamanhos variados na pele que se formam devido a diminuição ou ausência de melanina, pigmento produzido pelos melanócitos, nos locais afetados.
Os sintomas vão ser a presença de manchas com redução de pigmentação ou mesmo ausência, com um branco bem marcado em alguns locais da pele e até pêlos podendo deixar fios em couro cabeludo, sobrancelhas ou cílios também com coloração branca.
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem a perda gradual da cor da pele em áreas como mãos, rosto, pés, genitais e articulações. Além disso, algumas pessoas podem apresentar cabelos grisalhos precoces nas áreas afetadas.
Vitiligo dói?
A doença não provoca dores, mas o Dr. Eduardo alerta que algumas pessoas relatam maior sensibilidade nas áreas de hipopigmentação. “São áreas que precisam de reforço no uso de protetor solar, pois estão sem a proteção natural da pele, que é a melanina”.
Tem mais de um tipo de vitiligo?
Devendo ser diagnosticado clinicamente por um dermatologista, o vitiligo pode ser classificado em dois tipos: segmentar ou unilateral e não segmentar ou bilateral. Segundo Dra Paola, o primeiro, que normalmente aparece quando o paciente ainda é jovem, manifesta-se apenas em uma parte do corpo, podendo afetar também a coloração dos pelos e cabelos.
“Já o vitiligo não segmentar ou bilateral é o tipo mais comum da doença e manifesta-se de forma generalizada, geralmente surgindo primeiro nas extremidades do corpo, como mãos e pés. Desenvolve-se em ciclos de perda de cor e estagnação que duram a vida toda e tendem a se tornar maiores com o tempo”, completa a dermatologista.
Como diagnosticar o vitiligo?
Especialista em Medicina Preventiva, Dermatologia e Cosmiatria, Amilton Macedo diz que embora as causas exatas do vitiligo não sejam completamente compreendidas, acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, autoimunes e ambientais.
O diagnóstico é feito com base na aparência das manchas e, em alguns casos, pode ser necessário realizar uma biópsia da pele para confirmar o diagnóstico. “É essencial que os pacientes procurem um dermatologista para obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado, considerando as particularidades de cada caso”, completa.
Vitiligo também dá em criança?
A patologia pode se manifestar em crianças e adultos de duas formas: a segmentar, que atinge um lado do corpo, e a difusa, mais comum. Neste caso, as manchas estão presentes nas extremidades, como mãos e pés, rosto, corpo ou cotovelos. A médica detalha ainda que a causa do vitiligo varia de pessoa para pessoa e os fatores são múltiplos.
Os dermatologistas Flavia Souza Vago e Eduardo Rebechi, que atuam na unidade da Meu Doutor Novamed do bairro de Moema, em São Paulo, ressaltam que a enfermidade compromete de modo semelhante homens e mulheres.
Vitiligo não pega. O que pega é o preconceito
Os especialistas esclarecem que o vitiligo não é contagioso e que o preconceito em torno da doença deve ser eliminado.
“As manchas brancas podem ser localizadas em partes do corpo, ou tomar a pele toda do indivíduo e, embora exista tratamentos que podem minimizar os efeitos, não há cura para a enfermidade”, explica a médica dermatologista Camila Reis, professora do curso de Medicina da Faculdade Pitágoras.
O que isso tem a ver com o estado emocional?
Especialistas ouvidos pelo ViDA & Ação frisam a importância do cuidado com as questões emocionais, visto que o estresse, a ansiedade e a depressão podem desencadear o quadro de vitiligo.
“As causas do vitiligo ainda são desconhecidas, mas já se sabe que fenômenos autoimunes e alterações emocionais, como estresse, são fatores que estão relacionados com a doença, podendo desencadeá-la ou agravá-la”, afirma Dra Paola.
A professora de Dermatologia Camila Reis confirma. “Alterações ou traumas emocionais também podem estar entre os fatores que agravam a doença. Recomenda-se o acompanhamento psicológico, para prevenir o aparecimento de novas lesões e garantir efeitos positivos nos resultados do tratamento”.
Tratamento
Vitiligo não tem cura, mas tem tratamento
Embora não exista cura definitiva para o vitiligo, especialistas afirmam que, dependendo do quadro clínico apresentado pelo paciente, existem opções terapêuticas que podem ajudar a controlar o aumento do tamanho ou a quantidade de lesões, eatabilizando o avanço das manchas e até para repigmentar a pele, melhorando sua aparência geral. Por isso, quanto antes iniciado, melhores serão os resultados.
“Ações terapêuticas podem incluir pomadas de corticoides, imunomoduladores, fototerapias, laser ou técnicas cirúrgicas – como minienxertias autólogas –, bem como o uso de filtro solar e maquiagem estética”, afirma dra Camila Reis.
De toda forma, é importante fazer o acompanhamento com um especialista correto logo após identificar algum sinal. “Existem diversas opções de tratamento para o vitiligo. No entanto, a escolha da ação terapêutica adequada dependerá do quadro clínico de cada paciente”, ressaltam as médicas.
O paciente com vitiligo necessita de cuidados redobrados. “É fundamental sempre acompanhar com o seu dermatologista para a melhor indicação sobre os produtos de beleza a serem utilizados”, frisa a Dra. Flavia.
Quais as novidades no tratamento do vitiligo?
O tratamento pode incluir o uso de medicamentos tópicos, como corticosteróides, imunomoduladores e calcineurina, além de terapias com luz ultravioleta, como a PUVA (psoraleno mais radiação ultravioleta A) e a fototerapia com radiação ultravioleta B banda estreita (UVB-nb). “A fototerapia com radiação UVB-nb é indicada para quase todas as formas de vitiligo, promovendo ótimos resultados”, destaca Dra Paola.
Tecnologias como o laser, bem como técnicas cirúrgicas avançadas como a microenxertia de melanócitos e o transplante de melanócitos podem ser consideradas em casos selecionados. Esses procedimentos têm como objetivo repigmentar as áreas afetadas pelo vitiligo, restaurando a cor da pele.
Também existem medicamentos em fase de pesquisas e/ou estudos que devem surgir em médio prazo, como o creme Opzelura, recém aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que permite a repigmentação das manchas dos pacientes que têm vitiligo.
Nos Estados Unidos, o produto já vem sendo comercializado a cerca de um ano. A previsão é que, somente em 2024, o remédio seja oferecido nas prateleiras das farmácias brasileiras.
A indicação inicial é para uso em paciente a partir de 12 anos e os efeitos colaterais constatados até agora são pouco relevantes e incluem formigamento local e acne, em um número limitado de pacientes.
Se não tratar pode piorar?
“O tratamento do vitiligo é individualizado, dependendo das características de cada paciente, com resultados variáveis. Mas o uso de filtro solar nos locais das lesões é fundamental para todos os casos, uma vez que no local não há o pigmento que ajuda na prevenção do aparecimento de lesões cancerígenas com a exposição à radiação ultravioleta ao longo dos anos”, explica a Dra Camila.
A dermatologista traz um alerta sobre o que deve ser feito pelas pessoas que têm vitiligo. Ela orienta que deve-se ter muito cuidado com o tratamento, pois isso pode acarretar no aparecimento de reações adversas graves.
“O não acompanhamento pode levar ao aumento do tamanho. É importante o tratamento correto e bastante cuidado com receitas milagrosas não médicas, que podem levar ao aparecimento de dermatite de contato, alergias entre outras”, finaliza.
Por tudo isso é imprescindível consultar um dermatologista ao perceber os sintomas da doença. “Os resultados do tratamento podem variar entre cada caso e apenas um profissional qualificado poderá indicar a melhor opção de acordo com as características de cada paciente”, ressalta a Dra Paola.
Quem tem vitiligo deve fazer terapia?
Ainda que não seja uma enfermidade contagiosa, o estigma sobre o vitiligo pode acarretar um impacto emocional negativo, com potencial de agravar a doença e afetar o tratamento. Para esses casos, os dermatologistas indicam o acompanhamento com psicólogos para seus pacientes.
“Muitas pessoas com vitiligo enfrentam desafios emocionais e sociais devido às alterações na aparência da pele. Daí a importância de um suporte psicológico adequado para auxiliar os pacientes a lidarem com as questões emocionais e promover uma autoestima saudável. A conscientização sobre o vitiligo é fundamental para combater o estigma e promover a compreensão e aceitação”, afirma Dr. Amilton Macedo.
PREVENÇÃO
Tem como prevenir o vitiligo?
Quanto à prevenção, não há maneiras conhecidas ou cientificadas comprovadas que ajudem a evitar o surgimento do vitiligo. Porém, pacientes que têm tendência ou já sofrem com a doença devem evitar fatores que possam acelerar o aparecimento de novas lesões ou acentuar as já existentes, como a exposição solar prolongada, ferimentos na pele e estresse.
Como encarar o problema?
Com relação à forma de lidar com a doença, muitos famosos afirmaram cobrir as áreas afetadas com uso de maquiagem, e recentemente muitas campanhas reforçam a importância da autoestima e pregam a aceitação do corpo com vitiligo.
E o papel da alimentação?
Entre os principais cuidados, a Dra. Flavia também destaca o papel da dieta equilibrada: “A alimentação saudável também é uma aliada no combate de doenças, por isso é tão importante optar por alimentos ricos em vitaminas A e betacaroteno”.
4 dicas para a prevenção ao vitiligo
Os dermatologistas Flavia Souza Vago e Eduardo Rebechi, da Meu Doutor Novamed, listam quatro dicas para a prevenção ao vitiligo:
1. Usar cremes hidratantes. Mas, para não piorar o quadro, evitar aqueles à base de ácidos clareadores e hidroquinona – comumente utilizado para o clareamento gradual de manchas;
2. Evitar o uso de roupas apertadas ou que provoquem atrito ou pressão sobre a pele;
3. Diminuir a exposição solar ou tomar os devidos cuidados de proteção nos momentos ao sol;
4. Controlar o estresse.
Com Assessorias