juventude – que tem seu dia mundial lembrado neste sábado (12 de agosto) – é um período marcado por descobertas, transformações e experiências diversas. Preocupações e cuidados permeiam essa fase da vida, especialmente em relação a cuidados com a saúde sexual e a prevenção de drogas. Mas a saúde bucal também deve ocupar um lugar importante na lista de prioridades, afinal, um sorriso bonito e saudável ajuda a manter a autoestima, fundamental em qualquer momento da vida, mas especialmente quando se é mais jovem.

Uma forma de expressão utilizada pelos adolescentes é a colocação de piercings dentro da cavidade oral ou nos lábios. Neste contexto, o cirurgião-dentista deve informar sobre as implicações importantes que poderão ocorrer caso a pessoa opte pela utilização do adorno. Entre elas, as mais comuns são a retração gengival; o acúmulo de biofilme (placa bacteriana) e a formação de cálculo salivar ao redor do piercing, com a possibilidade de contaminação por fungos.

“Pode ocorrer ainda a fratura de dentes devido ao contato com o piercing; o aumento da salivação, possibilitando o aparecimento da queilite angular (boqueira); a língua bífida – o piercing lingual pode rasgar o órgão e levar ao Carcinoma Bucal (câncer), devido ao atrito constante do piercing com a mucosa bucal”, afirma segundo a cirurgiã-dentista Miriam Abdo de Camargo Pinheiro,  membro da Câmara Técnica de Ortodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).

A especialista considera desafiador, mas extremamente importante, o papel do cirurgião-dentista junto aos adolescentes, uma vez que o paciente jovem pode encontrar no profissional alguém que o acolha e oriente nessa fase de grandes descobertas, dúvidas e incertezas.

“O ortodontista pode se tornar um orientador, um profissional com quem ele tira dúvidas e até direciona para tratamentos multidisciplinares que atenda às suas demandas para vida. Trata-se de um olhar carinhoso, muito além dos dentes”, finaliza a profissional.

Jovem negra com piercing na boca (Foto: Freepik)

Boca é porta de entrada para doenças sexualmente transmissíveis

O beijo está entre as descobertas mais agradáveis da juventude. De acordo com a Dra. Miriam, cabe ao cirurgião-dentista, nesse momento de vivenciar o primeiro beijo, fornecer a informação de que a boca pode ser a entrada para doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo ela, a gengivite, por exemplo, teve sua incidência aumentada pelo ato de “ficar”, pois beijar na boca de várias pessoas aumenta em quatero vezes o risco de contrair a bactéria causadora da cárie e outras doenças como a mononucleose (doença do beijo) e o herpes. Por isso, reforçar a importância de manter uma higienização adequada, sem inflamação da gengiva, com uma alimentação equilibrada, é fundamental.

“É importante que os adolescentes, nessa fase de descobertas sobre o sexo, estejam também cientes de que o HPV (vírus do papiloma humano), que é um dos responsáveis pelo aparecimento de câncer de boca e de orofaringe, também pode ser transmitido através do sexo oral desprotegido. Cabe a nós, cirurgiões-dentistas, orientarmos a importância do uso de preservativos, bem como das vacinas para prevenir o HPV”, ressalta.

Gravidez na adolescência – Dra. Mirian destaca outro momento delicado, que é a gravidez na adolescência. Segundo ela, a gestação na adolescência requer cuidados especiais, uma vez que as alterações hormonais do período levam às respostas inflamatórias, predispondo a gestante à gengivite e à periodontite, com processos infecciosos que podem levar ao parto prematuro e ao nascimento de bebês com baixo peso. “É muito importante que a gestante faça o acompanhamento por meio também do pré-natal odontológico”, pontua.

Alerta sobre riscos do uso de drogas para a saúde da boca

É na adolescência que muitos garotos e garotas se deparam com a experiência do uso de drogas. Geralmente, a autoestima desses jovens é baixa e a falta de cuidados pessoais, incluindo a higiene bucal, vem associada. Nesse contexto, Miriam Abdo de Camargo Pinheiro destaca que o papel do cirurgião-dentista é importante no sentido de reconhecer e alertar o jovem sobre as implicações que esses hábitos podem trazer à sua cavidade oral:

*  Maconha: a mais comum entre os adolescentes, provoca a xerostomia (baixa produção de saliva – boca seca), que facilita a predisposição à cárie e às infecções por fungos “sapinho” (cândida albicans). Além disso, os jovens costumam relatar que, após o uso da maconha, quando já está passando seu efeito, é comum ter uma fome exacerbada (a famosa “larica”), que geralmente traz o anseio por alimentos ricos em carboidratos. Associada à falta da salivação adequada e à falta de higienização adequada, é uma porta aberta e facilitadora para o aparecimento da cárie, gengivite e demais doenças oportunistas.

*  Cocaína: a sua inalação pode provocar a necrose do assoalho respiratório, que faz comunicação com o teto da cavidade oral. Outra forma de utilização da cocaína é o esfregaço da mesma na gengiva para potencializar o efeito e a rapidez de absorção da droga, o que pode provocar a irritação da mucosa bucal, podendo levar à necrose dos tecidos gengivais, assim como o desgaste das superfícies dentárias friccionadas com a droga.

*  Crack: a utilização do crack leva à ocorrência de lábios secos e queimados, necrose da gengiva e da mucosa oral, grande retração gengival e necrose óssea, aparecimento de cáries severas que podem evoluir para tratamentos de canal, e até a perda dos dentes, em um total abandono de si.

Anorexia ou bulimia colocam a saúde bucal também em risco

As mudanças físicas, emocionais e sociais são comuns na adolescência. Os hábitos alimentares, por sua vez, também se modificam frente a uma agenda cheia de compromissos, tempo escasso para uma criteriosa higienização bucal, falta de uma supervisão assistida pelos pais ou responsáveis e, muitas vezes, uma alimentação desequilibrada com excesso de alimentos ricos em carboidratos e açúcares, como doces, refrigerantes, isotônicos e energéticos.

Tais hábitos vão propiciar a formação de cárie, inflamação da gengiva (gengivite) e erosão ácida do esmalte dentário, levando a dor, sangramento da gengiva, alteração da cor dos dentes, desgaste da superfície dentária e mau hálito, como lembra Miriam Abdo de Camargo Pinheiro.

“Nessa fase da adolescência, a aceitação em um grupo e a preocupação extrema com a estética podem levar a hábitos nutricionais inadequados, podendo desenvolver a anorexia ou a bulimia, ambos altamente prejudiciais para sua saúde como um todo. A privação alimentar leva a uma deficiência nutricional que, além de prejudicar o desenvolvimento da sua massa muscular, afetará diretamente sua saúde bucal”, alerta a especialista.

Dra. Miriam explica que, na anorexia, a perda grave dos nutrientes importantes para o desenvolvimento levará ao surgimento da gengivite, com sangramento gengival espontâneo, podendo evoluir para uma periodontite (quando a inflamação atinge o osso e o ligamento periodontal que “prende” o dente no osso), podendo ocorrer a perda dentária.

Já no quadro de bulimia, o ato de provocar o vômito após a alimentação pode levar a um desgaste severo dos dentes (aumento dos níveis de desmineralização), aumento da incidência de cárie por conta dos ácidos estomacais, além da queilite angular (proliferação de fungos nos cantos da boca) devido à queda da imunidade e diminuição da formação da saliva. Com isso, a halitose se instala, podendo haver alteração no paladar.

Leia mais

Hepatites virais: por que as doenças são conhecidas por letras?
Cigarro prejudica a saúde bucal: saiba como o dentista pode ajudar
Como tratar a depressão e o amor próprio já no início da juventude

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

7 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *