O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todas as regiões do país, depois do câncer de pele não melanoma. As maiores taxas de incidência e de mortalidade estão nas regiões Sul, Sudeste. Até o final de 2024 são esperados 73.610 novos casos de câncer de mama no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), com risco estimado de 66,54 casos novos a cada 100 mil mulheres.
A estimativa em si é alarmante e, em várias medidas, reflete a desigualdade no acesso aos serviços de saúde e a falta de informação que impactam diretamente o cenário do diagnóstico e o sucesso no tratamento da doença no País. Condição agravante, a pandemia de Covid-19 resultou em queda significativa no rastreamento mamográfico, especialmente no Brasil. Esta realidade mobiliza a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) pela campanha Juntos somos mais fortes #cancerdemamatemcura.
Este Outubro Rosa, especialmente, demonstra um caráter abrangente e inclusivo, com a preocupação de envolver profissionais de saúde, esferas governamentais, empresas e principalmente as famílias brasileiras sobre a necessidade de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama”, afirma o mastologista Tufi Hassan, presidente da SBM.
Impacto da Covid-19: aumento de 26% nos casos graves
Uma das pesquisas, “Covid-19 e o câncer de mama no Brasil”, é o primeiro estudo no País a avaliar individualmente todas as regiões do território nacional, destacando as consequências da pandemia no diagnóstico e tratamento da doença.
O levantamento indica aumento de cerca de 26% nos casos de câncer de mama nos estágios mais graves da doença em função da pandemia. A constatação, segundo o mastologista, revela a necessidade de implementação de um modelo de saúde pública totalmente renovado para o enfrentamento do câncer no Brasil.
Outro estudo, também relacionado à Covid-19, comprova que a condição socieconômica das mulheres no País foi determinante no diagnóstico do câncer de mama antes e depois da pandemia.
A avaliação compara pacientes atendidas pela saúde suplementar, que engloba serviços privados prestados por planos de saúde, e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para espelhar uma situação de contrastes. Com a pandemia, os diagnósticos de estágios avançados da doença entre as usuárias do SUS atingiram 52,04%, contra 36,4% no setor privado.
Discriminação contra mulheres negras no tratamento
Além das disparidades sociais, a Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional do Rio de Janeiro (SBM-RJ) tem unido esforços para destacar uma questão que merece atenção especial: a discriminação enfrentada por mulheres negras e pardas durante o tratamento da doença.
De acordo com Maria Júlia Calas, presidente da SBM-Rio, um levantamento da entidade teve por objetivo entender as experiências de mulheres negras e pardas durante o tratamento e os resultados demonstraram uma realidade preocupante. Das 236 mulheres, 41% se identificaram como pretas ou pardas e destas, cerca de 20% relataram ter sofrido discriminação devido à sua raça ou etnia durante o tratamento.
Esse estudo é de extrema importância, pois precisamos entender o que acontece com cada paciente nessa navegação do diagnóstico ao tratamento. Esses relatos inaceitáveis”, esclarece a mastologista. Por conta disso, a pesquisa ainda permanecerá em andamento para que possa alcançar um número maior de pacientes.
Segundo a médica, outro fator que chamou a atenção foi o fato de que, mesmo entre aquelas que afirmam não terem sentido discriminação, o racismo estrutural pode estar presente de maneiras sutis e prejudiciais. “Numa sociedade como a nossa, como podemos mensurar isso? Por isso temos que continuar ouvindo essas mulheres”, diz.
A presidente destaca ainda que, embora a luta contra o câncer de mama seja desafiadora, é essencial que as mulheres se unam para enfrentar não apenas a doença em si, mas também as desigualdades e preconceitos que possam surgir no processo. “Com a pandemia, detectamos um aumento de 26% nos casos de estágio mais avançado. Isso também tem a ver com acesso”, alerta.
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Inclusão é uma das preocupações da SBM
O mês de outubro se consolidou como o período do ano dedicado à conscientização e prevenção ao câncer de mama. É o momento de disseminar informação qualificada e sensibilizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce, tratamento adequado, apoio emocional para pacientes com câncer de mama, entre outras demandas.
Se a condição socioeconômica, o nível de instrução, gênero e idade, entre outros fatores, são variáveis que influenciam a conscientização sobre a necessidade de rastreamento a partir de exames periódicos, a campanha pretende unir a sua mensagem de esperança da cura com a força da solidariedade em ações conjuntas que representem um futuro com menos casos de câncer de mama no Brasil.
A campanha da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) para este ano também tem a inclusão entre as preocupações primordiais. A iniciativa mostra que há condições que representam desafios tanto para os especialistas de saúde quanto para os pacientes.
O mastologista Tufi Hassan destaca ainda os casos de surdez em que a paciente, por falta de uma comunicação eficaz, deixa de usufruir plenamente de informações importantes sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama.
Para a presidente da SBM-Rio, o Outubro Rosa é um momento de solidariedade e conscientização, portanto propício para abordar temas que precisam de atenção de todos. “A SBM-Rio está comprometida em garantir que todas as mulheres, independentemente de sua raça ou orientação sexual, recebam o apoio e o tratamento de que precisam”, afirma Maria Júlia.
Abandono da família durante o tratamento: ‘A cura depende também de afeto’
De acordo com o presidente da SBM, é fundamental também ampliar, dentro e fora de casa, o apoio às mulheres em sua difícil jornada contra a doença. Por isso, na campanha Juntos somos mais fortes #cancerdemamatemcura, Hassan enfatiza a importância do núcleo familiar no acompanhamento da paciente e no apoio durante o tratamento.
Não há uma estatística sobre abandono de pacientes diagnosticadas com câncer de mama, mas sabemos que é uma realidade. Neste sentido, o Outubro Rosa chama à reflexão e à iniciativa no momento em que as mulheres estão mais fragilizadas e necessitadas da presença de suas famílias. A cura depende também de afeto”, finaliza.
Casos mais graves em mais velhas e aumento de casos em mais jovens
Um levantamento, também validado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, revela aumento do número de casos graves da doença entre mulheres com 70 anos de idade ou mais. Outro levantamento aponta uma situação contrastante, e não menos preocupante com relação ao “rejuvenescimento” da doença, com maior incidência do câncer de mama entre pacientes mais jovens. Segundo dados analisados pela SBM, há crescimento de população abaixo de 49 anos com diagnóstico de câncer de mama no Brasil.
No primeiro estudo, com mulheres acima de 70 anos, a redução do rastreamento para câncer de mama no SUS é flagrante. No segundo, com pacientes jovens, o obstáculo no diagnóstico precisa ser transposto com urgência, uma vez que a mamografia é recomendada apenas após os 50 anos pelos serviços de saúde. Segundo a SBM, o grupo a partir de 40 anos deveria ser estratégico para as políticas de saúde voltadas ao diagnóstico precoce e tratamento mais eficaz.
Sobre o exame de mamografia, principal método de rastreamento de câncer, a SBM vem encaminhando discussões na esfera federal a respeito da necessidade de documentar em filme impresso e específico todos os exames realizados no SUS e na saúde suplementar, o que infelizmente não acontece em grande parte do Brasil, atrasando ainda mais os diagnósticos e inícios de tratamentos de pacientes.
Leis dos 30 e 60 dias
A determinação que prevê o diagnóstico do câncer de mama no prazo inferior a 30 dias (Lei nº 13.896/2019), e a que indica o início do tratamento em centro especializado em prazo igual ou inferior a 60 dias (Lei nº 12.732/2012), são acompanhadas com atenção pela SBM.
O não cumprimento da legislação, de acordo com levantamento inédito obtido pela entidade, realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), faz com que a maioria das mulheres participantes do estudo leve mais de quatro semanas em cada etapa de exame e igual período para iniciar o tratamento.
O “medo”, para mais de 80% das entrevistadas, é fator preponderante que dificulta a primeira consulta médica, após a mulher perceber uma anormalidade na mama, a realização da mamografia ou ultrassom e a biópsia mamária.
Testes genéticos para detectar o fator hereditário
Especialistas apontam que os fatores de risco que merecem atenção são: idade acima de 50 anos associados a condições hormonais ou reprodutivas, como nuliparidade, gravidez tardia, menos amamentação; obesidade, excesso de ingestão de bebidas alcoólicas, inatividade física; as radiações, além de condições genéticas e hereditárias.
Entre muitas ações importantes, e com a perspectiva de assegurar em lei a realização de exames nos casos da doença associados a causas hereditárias, a SBM propõe que os testes genéticos para prevenção, diagnóstico e tratamento dos cânceres de mama e ovário no âmbito do SUS sejam feitos em todo o País.
Até agora, somente cinco estados brasileiros dispõem de legislações específicas para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2custeada pelo SUS. O direito já assiste as mulheres no sistema suplementar operado pelos planos de saúde desde 2014.
A Sociedade Brasileira de Mastologia também destaca a importância do Programa de Navegação de Pacientes para melhorar o acesso aos cuidados em oncologia no País. Com a inclusão do navegador nas equipes de saúde, o programa traz inúmeros benefícios.
Os navegadores avaliam e compreendem as necessidades físicas, emocionais, informativas e logísticas da paciente e possibilitam aprimoramentos importantes para os sistemas de saúde oferecidos no País, como a ampliação do rastreamento na atenção primária de saúde, o diagnóstico precoce da doença, a celeridade para início do tratamento, assim como a melhoria da qualidade dos procedimentos, que convergem para a satisfação do paciente a partir da experiência na utilização dos serviços médicos.
Câncer de mama tem cura e prevenção
Também com foco na prevenção primária, a campanha pretende conscientizar a população sobre a necessidade de incluir rotinas para a melhoria da qualidade de vida. “Alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, sem dúvida, figuram no topo da lista”, afirma o mastologista.
Com o lançamento da campanha Juntos somos mais fortes #cancerdemamatemcura, a SBM, segundo Tufi Hassan, reforça a mensagem de que a doença tem cura. “E indica que podemos alcançá-la por meio de avanços médicos, detecção precoce da doença e tratamentos eficazes”, completa.
Da mesma forma que no Outubro Rosa, durante todo o ano a SBM contribui para respaldar políticas públicas e iniciativas de prevenção à doença no Brasil.
Uma forma que acreditamos ser bastante assertiva para atingir esses objetivos é a validação sistemática de dados e análises produzidos por pesquisadores de universidades e instituições renomadas no Brasil, assim como por especialistas da SBM”, destaca. “São estudos em publicações como a Nature Cancer, uma das principais revistas científicas do mundo, ratificados pela entidade.”
Agenda Positiva
Maior evento de mastologia do Brasil discute novas diretrizes para o câncer de mama
Dois grandes eventos simultâneos, voltados à atualização médica e às novas pesquisas científicas sobre o câncer de mama, marcam a campanha Outubro Rosa 2023. De 4 a 7 de outubro, especialistas brasileiros e convidados internacionais se reúnem em São Paulo no 25º Congresso Brasileiro e na 19ª Jornada Paulista de Mastologia. Com a organização da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e SBM Regional São Paulo, debates, palestras e discussões destacam, entre outros temas, as novas diretrizes de rastreamento do câncer de mama no Brasil a partir dos 40 anos de idade.
De acordo com os organizadores, a expectativa é reunir 1.500 especialistas. Na quarta-feira (4/10), o evento será on-line, e presencial nos demais dias. “Tanto o congresso quanto a jornada constituem o maior evento de mastologia de 2023”, afirma Tufi Hassan, presidente da SBM. “Vamos contar com convidados internacionais, além dos já renomados professores brasileiros”, destaca.
Presidente do Congresso e também da SBM Regional São Paulo, o mastologista Eduardo Carvalho Pessoa lembra que há 9 anos a Jornada Paulista de Mastologia abre a programação do Outubro Rosa. “Nesta edição, nossos esforços são para promover uma programação científica impecável, com os maiores expoentes estrangeiros e nacionais envolvidos no combate ao câncer de mama”, ressalta Pessoa.
Um dos grandes assuntos do 25º Congresso Brasileiro e da 19ª Jornada Paulista de Mastologia é consenso entre comunidades médicas brasileiras e envolve novas definições para o início do rastreamento do câncer de mama. Diretrizes aprovadas este ano e defendidas pela SBM a partir do “rejuvenescimento” da doença no Brasil indicam o rastreamento já aos 40, e não aos 50 anos de idade, como preconiza o Ministério da Saúde.
Com especialistas dos Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Portugal e França, o evento tem as presenças confirmadas da cirurgiã de mama Judy Boughey, diretora do Escritório de Pesquisa Clínica Cirúrgica da Clínica Mayo, referência mundial em tratamento de câncer, e do cirurgião oncológico Krishna Clough, fundador do Centro de Mama de Paris e um dos pioneiros da oncoplastia mamária.
O site da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) disponibiliza para consulta as principais pesquisas validadas pela entidade. Informações e inscrições: www.mastologia2023.com.br/
Nosso Papo Rosa traz histórias de pacientes com a participação de especialistas
Transmitir um conhecimento que vai muito além do movimento Outubro Rosa. Isso é o que propõe a sétima edição do Nosso Papo Rosa que trará informação de qualidade, embasamento científico e, ao mesmo tempo, uma linguagem simples e objetiva, em uma roda de conversa descontraída entre especialistas da oncologia, nutrição, psicologia e genética.
O evento, com entrada gratuita, será realizado no dia 28 de outubro, no Teatro Prudential (RJ) e tem o intuito de desmistificar os tabus em torno do câncer de mama, doença que é a principal causa de morte desse público no país, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). “Rosa Além do Óbvio” é o tema do evento deste ano e, mais uma vez, será espaço para esclarecer dúvidas sobre a doença para todos os públicos e conscientizar a sociedade.
O projeto de conscientização se transformou em uma missão paras as médicas Maria Julia Calas, ginecologista e mastologista, presidente do Instituto Nosso Papo Rosa e da Sociedade Brasileira de Mastologia do RJ e Sabrina Chagas, oncologista clínica, especialista em cuidados paliativos e medicina integrativa, e vice-presidente do Instituto, idealizadoras e organizadoras do evento muito esperado no Rio de Janeiro.
Preparamos tudo com muito carinho para pacientes, familiares, amigos, profissionais da saúde e interessados em saber mais sobre o câncer de mama. É um bate-papo informal no qual compartilhamos todo o nosso conhecimento e a nossa vivência como médicas e pesquisadoras e, ainda, contamos com o apoio de outros especialistas, afirma Maria Julia.
Participarão da conversa os convidados: Paula Pratti (nutricionista), Silvana Aquino (psicóloga) e Antônio Abilio (geneticista). Serão abordados temas relacionados à prevenção, diagnóstico precoce, rastreamento, sintomas e tratamento do câncer de mama.
Além disso, será aberto espaço para aprofundar o assunto, de acordo com a especialidade, tais como: dieta, alimentação e mitos, a influência da genética, questões raciais e sociais, cuidados paliativos e outros aspectos da doença que possam surgir durante o bate-papo.
A ideia é, em primeiro lugar, acolher os participantes e buscar ampliar o tema, dando oportunidade às pessoas de sanarem suas dúvidas, desfazer mitos e compartilhar dados e estudos científicos, sempre de forma leve e didática”, destaca Sabrina.
Educação: Guia Nosso Papo Rosa
Durante o evento, que já alcançou centenas de pessoas desde a primeira edição (presencialmente e remotamente), os participantes poderão adquirir o livro “Nosso Papo Rosa”, de autoria das doutoras Maria Julia e Sabrina. Um verdadeiro guia sobre câncer de mama.
Acreditamos que o conhecimento pode ajudar o paciente e seus familiares a enfrentarem todos os desafios dessa difícil jornada e a salvar vidas. Essa cartilha foi elaborada para orientar mulheres e homens a respeito da prevenção e da detecção precoce da doença”, enfatiza Sabrina.
O público também pode esperar por muitas surpresas e brindes ao longo do evento. “Prezamos pelo acolhimento, mas principalmente pela informação de qualidade. Desde o início desse projeto, buscamos transformar a vida das pessoas, conscientizando e desfazendo mal-entendidos sobre o câncer de mama, destaca Maria Julia.
Com Assessorias SBM e SBM-Rio