O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum nas mulheres no Brasil e no mundo, e a principal causa de morte entre elas. No entanto, a manifestação não é uniforme, pois a doença engloba uma variedade de subtipos, com características distintas, o que ressalta a importância do conhecimento para o tratamento adequado.
As diferentes categorias da patologia, no entanto, ainda são relativamente desconhecidas pelas pessoas. Embora 69% das mulheres se considerem bem-informadas sobre o câncer de mama, somente 11% sabem apontar o tipo ou estágio do tumor, enquanto 89% delas não possuem o mesmo conhecimento. Ou seja: 9 em cada 10 mulheres no Brasil não conseguem identificar subtipos específicos do câncer de mama.
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, sob encomenda da Gilead Oncology, da Gilead Sciences Brasil, e apontam para uma lacuna significativa de informações. Quando questionadas pelos entrevistadores, 57% das mulheres revelaram não ter conhecimento sobre nenhum dos tipos mencionados.
Pouco mais de um terço (35%) das entrevistadas disseram ter compreensão ou já ouviram falar do câncer de mama metastático RH+/HER2-. Por outro lado, quando questionadas espontaneamente, 56% mencionaram a categoria câncer metastático como um tipo que se espalha pelo organismo.
O câncer de mama receptor hormonal positivo/receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 negativo (RH+/HER2-) é o tipo mais comum da doença e acontece quando o tumor se espalha para outros órgãos do corpo, como pulmão, fígado e ossos e cérebro.
O câncer de mama triplo negativo, por sua vez, é o grupo menos mencionado quando estimulado diretamente, com apenas 7% das mulheres afirmando ter conhecimento sobre ele. De forma espontânea, 12% das entrevistadas associaram essa classe como maligna e de difícil tratamento, caso não seja identificada precocemente.
Considerado o mais agressivo dentre os subtipos de câncer de mama, o termo refere-se ao fato de que as células cancerígenas não têm receptores de estrogênio ou progesterona e não produzem a proteína HER2.
É crucial compreender que um entendimento superficial não é suficiente para uma compreensão adequada sobre a doença, especialmente considerando que mulheres jovens, por exemplo, também estão em risco de serem afetadas pelo câncer de mama triplo negativo”, afirma Flavia Andreghetto, diretora associada de Oncologia da Gilead Sciences Brasil.
Mesmo que algumas delas mencionem subtipos relacionados à doença, é notável que a maioria não possui um conhecimento aprofundado sobre o assunto, o que destaca a alarmante falta de informação existente.
Aprofundar o entendimento sobre os subtipos possibilita que a paciente seja protagonista do se tratamento, crucial para iniciar o tratamento o mais cedo possível, assegurando um tratamento adequado e personalizado para cada paciente. Empoderar as mulheres através da comunicação é fundamental para que elas sejam capazes de identificar os diferentes subtipos e características do câncer de mama e compreender sua relevância”, destaca.
Falta de equidade na saúde
Entre as participantes, 57% são mulheres negras e 31% pertencem às classes D/E, caracterizadas por níveis mais baixos de escolaridade. A pesquisa revela o quanto esta população tem menos informação e menor acesso e facilidade de encaminhamento para exames preventivos. Nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, por exemplo, cerca de 49% das mulheres reconhecem que têm conhecimento limitado ou insuficiente sobre a doença.
Entre as mais jovens, com idades entre 25 e 29 anos, esse índice atinge 45%. Além disso, outras categorias que demonstraram enfrentar desafios na obtenção de informações adequadas foram pessoas das classes D/E (42%); as que possuem apenas o ensino fundamental (36%); e mulheres negras (35%).
Os dados lançam luz sobre a falta de equidade na saúde quando comparada às populações mais vulneráveis. Para o Instituto Oncoguia, a pesquisa reforça a difícil realidade das desigualdades existentes em nosso país até mesmo em relação ao acesso à informação.
O desafio também existe com relação aos exames, especialistas e tratamento. Há que se seguir informando e conscientizando todas as mulheres sobre o autocuidado das mamas e sobre o câncer de mama”, destaca Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia.
7 entre 10 mulheres realizaram consultas com ginecologista
Quando se trata de prevenção da doença, sete em cada dez entrevistadas afirmam ter realizado consultas com ginecologistas no último ano. Essa taxa aumenta para cerca de 80% entre as classes mais altas e com maior escolaridade, enquanto 2% das entrevistadas afirmam nunca terem ido ao ginecologista.
Segundo a pesquisa, o Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal fonte de atendimento médico para a maioria das entrevistadas, representando 75%. Muitas mulheres utilizam mais de um tipo de atendimento, tornando o sistema uma opção amplamente acessada. Os planos de saúde privados e atendimento particular representam 20% e 18%, respectivamente.
Mamografias, exames clínicos e autoexame são realizados por cerca de dois terços das mulheres quando estimuladas. No entanto, alguns exames, como a mamografia, são mais frequentes entre as mulheres com idades entre 40 e 59 anos, bem como entre as classes A/B e com níveis mais elevados de escolaridade.
A pesquisa também aponta que 49% das mulheres fazem o exame de mamografia regularmente, sendo 60% delas das classes A/B, enquanto 37% são das classes D/E. Duas em cada dez entrevistadas mencionaram que o exame foi realizado porque o médico solicitou (20%), enquanto 16% afirmaram que o fizeram devido à sensação de um caroço ou nódulo.
Identificar a condição em estágios iniciais pode elevar significativamente as chances de sobrevida das pacientes, e, por isso, ressaltamos a grande importância da conscientização e realização de exames regulares”, explica Rita Manzano Sarti, diretora médica sênior da Gilead Sciences Brasil.
Segundo ela, a detecção precoce não apenas salva vidas, mas também oferece esperança de uma melhor recuperação para as mulheres que enfrentam o câncer de mama. “O diagnóstico precoce também depende de exames clínicos de rotina que precisam ser incorporados pela mulher e isso se faz possível com acesso à informação de qualidade e meios igualitários para realização de exames e tratamentos”, ressalta.
O papel da campanha Outubro Rosa
A disseminação do conhecimento sobre o câncer de mama e seus subtipos é atribuída também à influência do Outubro Rosa. A grande maioria das brasileiras (98%) ouvidas em recente pesquisa diz estar ciente do assunto graças a esta campanha.
A pesquisa Datafolha revela que as participantes reconhecem a relevância desta ação na conscientização. A campanha se destaca por sua eficácia, visto que 99% das entrevistadas acreditam que ela desempenha um papel fundamental na disseminação de informações sobre os riscos da doença.
Além disso, essa iniciativa tem um impacto significativo em suas atitudes em relação à prevenção do câncer de mama, motivando ações preventivas: 70% delas foram motivadas a consultar um médico, enquanto 66% realizaram autoexames para detectar caroços ou nódulos e 48% decidiram fazer mamografias graças ao impacto da campanha.
No entanto, o estudo destaca a necessidade de um esforço contínuo para continuar educando e conscientizando a população sobre os diferentes subtipos do câncer de mama, capacitando as mulheres a compreender e enfrentar a complexidade da doença..
Para os organizadores da pesquisa, isso destaca a necessidade de alcançar mulheres de todas as idades e grupos socioeconômicos com programas de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa Datafolha concentrou-se não apenas na compreensão das mulheres brasileiras em relação ao câncer de mama, mas também nas perspectivas para promover a igualdade na área da saúde. No total, foram realizadas 1.007 entrevistas em um estudo quantitativo conduzido entre 24 de novembro e 14 de dezembro de 2022.
As entrevistas foram realizadas com um grupo de mulheres com idades entre 25 e 65 anos, apresentando uma média de idade de 43 anos. O estudo envolveu entrevistadas de diversas classes sociais, com uma representação de 48% na classe C, 36% nas classes D/E, 15% na classe B e 2% na classe A.
Também abrangeu pessoas do sexo feminino de diversas localidades, incluindo cidades grandes e pequenas, capitais e regiões interiores, com uma distribuição geográfica de 43% na região Sudeste, 26% no Nordeste, 16% na região Norte/Centro-Oeste e 14% na região Sul. O questionário teve uma duração média de 18 minutos e os resultados apresentaram uma margem de erro de até 3%, com um nível de confiança de 95%.
Congresso ‘Todos Juntos Contra o Câncer’
Os resultados foram apresentados na palestra satélite intitulada Pesquisa Datafolha: O que as mulheres brasileiras sabem sobre o câncer de mama e o que podemos absorver em prol da equidade na saúde?”, realizada durante o 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), realizado em São Paulo (SP), no último dia 27 de setembro.
A discussão contou com a participação de Carolina Magalhães, jovem que enfrentou a doença aos 29 anos e é idealizadora do Projeto Se Cuida, Preta, cujo objetivo é proporcionar acolhimento, informação, visibilidade e voz às mulheres negras que lutam contra a patologia.
Foram destacadas iniciativas e o compromisso tanto do Legislativo Federal quanto de entidades ligadas à saúde pública e privada em prol das mulheres brasileiras, independentemente de sua classe social, cor ou raça, idade e nível de escolaridade.
Alessandra Morelle, oncologista do Grupo Oncoclínicas e idealizadora da plataforma Thummi, apresentou um projeto-piloto inovador referente a um aplicativo que possibilita o acesso e o acompanhamento remoto por parte dos médicos na jornada das pacientes oncológicas, incluindo as que enfrentam o câncer de mama.
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