O Dia de Finados chama a atenção para a terminalidade da vida. Afinal, nunca estamos preparados para esse momento. Mas como lidar com uma doença que não tem cura ou com o agravamento de uma doença, como o câncer em fase metástica, por exemplo? Área da Medicina relativamente nova, os Cuidados Paliativos vêm ganhando cada vez mais espaço em uma sociedade que avança em pesquisas, na ciência e cujos cidadãos vivem cada vez mais.
Diferentemente do que, popularmente, se pensa, os cuidados paliativos não são aplicáveis apenas àqueles pacientes terminais ou que não têm a possibilidade de cura. Doenças antes com altas taxas de letalidade agora se tornaram quase crônicas, como é o caso de alguns tipos de tumores, o que tem feito com que o tema avance em várias frentes dentro da Oncologia. O tema foi abordado no 9º Simpósio Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute, realizado no último final de semana.
“Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os cuidados paliativos aplicam-se já ao início do curso da doença, em conjunto com outros tratamentos destinados a aumentar a sobrevida, como quimioterapia ou radioterapia, e incluem aqueles exames necessários à melhor compreensão e controle das complicações clínicas angustiantes. As transições na linha de cuidado são um processo contínuo e sua dinâmica difere para cada paciente”, diz Sarah Ananda Gomes, líder da especialidade Cuidados Paliativos do Grupo Oncoclínicas.
A médica esclarece que alguns outros pilares dessa abordagem se baseiam na importância de sempre respeitar a autonomia do indivíduo, seus valores e prioridades e também no papel essencial do trabalho em equipe transdisciplinar para alcançar a redução do sofrimento e dor, que beneficiam todos envolvidos.
Sarah frisa ainda que o investimento em amenizar a evolução de tumores tem efeito prático na Oncologia em geral, além dos cuidados paliativos. Novas drogas, tratamentos inovadores pautados pela análise de diagnósticos cada vez mais avançados e pesquisas científicas constantes contribuem amplamente para que um leque cada vez maior de tumores sejam combatidos com eficácia, fazendo com que um número expressivo de pacientes oncológicos vivam – e bem – com a doença.
“Quando falamos em cuidado paliativo, o que de imediato vem à mente é a ideia de que o paciente está morrendo e, portanto, não há nada mais a ser feito, o que gera um preconceito na busca por esse tipo de tratamento. Mas isso não é real, precisamos desmistificar esse conceito: no cuidado paliativo há sempre muito a ser feito em prol do bem estar e da qualidade de vida, o objetivo é traçar as melhores estratégias para assegurar a ele a melhor linha de cuidado integral e individualizado para que ele viva e conviva com a doença com plenitude e dignidade”, complementa Sarah.
Cuidados paliativos a crianças com câncer
Desde 2005, o câncer é a principal causa de morte entre pacientes de 1 a 19 anos no Brasil. Anualmente, cerca de 12 mil crianças e adolescentes são diagnosticados com câncer no País, uma média de 32 casos por dia.
Cada vez mais, quando se fala de tratamento em oncologia pediátrica, tem havido um aumento na conscientização da necessidade dos cuidados paliativos que constituem todos os recursos disponíveis para garantir ao paciente e sua família um tratamento humanizado e que prioriza a qualidade de vida desde o diagnóstico.
Identificar, avaliar e tratar a dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual são pilares fundamentais da estratégia da equipe multiprofissional envolvida no cuidado integral do paciente (OMS, 2002).
Por sua vez, a importância da atuação de uma equipe de saúde preparada e que saiba lidar com os cuidados paliativos também é ressaltada por Pereira: “Aspecto fundamental do tratamento visando a qualidade de vida do paciente é o acompanhamento por uma equipe multiprofissional integrada e em constante aprimoramento. Minimizar os efeitos agudos da terapia é fator primordial para garantirmos o bem-estar do paciente”, afirma Neviçolino Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope),
Nesse trabalho conjunto, o especialista diz que há alguns objetivos, como o controle da dor adequada, o suporte psicológico e de medidas gerais durante todas as fases do tratamento. “Isso faz a diferença e garante ao paciente uma assistência integral”, conclui.
Apoio à família
O cuidado global e integral à criança e ao adolescente com câncer deve ser estendido à sua família que, muitas vezes, também precisa de auxílio para aceitar a enfermidade e que o acompanhará em todo o processo de tratamento. Dessa forma, não há cuidado paliativo eficiente sem uma forte aliança entre paciente, família e equipe de saúde, afirma Pereira.
“A família é determinante para que possamos aliviar o sofrimento do paciente. É preciso que a equipe de saúde se informe da dinâmica familiar do paciente, ou seja, suas crenças, seus valores e até sua condição social para que o tratamento seja cada vez mais focado no bem-estar, amenizando e ressignificando os momentos mais difíceis do tratamento”, ressalta o presidente da Sobope.
Para quem ainda se sente inseguro sobre o reconhecimento e eficácia do tratamento paliativo, ele esclarece que a Resolução 1973/2011, do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada no Diário Oficial da União, reconheceu três novas áreas de atuação médica: Medicina do Sono, Medicina Paliativa e medicina tropical. “Portanto, os cuidados paliativos são uma realidade e um avanço na medicina”, defende.
Com Assessorias