“O meu câncer voltou”, anunciou Preta Gil no último dia 22 de agosto, dias depois de festejar em alto estilo os seus 50 anos. A cantora e apresentadora – que enfrenta uma batalha contra o câncer colorretal (conhecido popularmente como câncer de intestino), voltou a comover a Internet ao anunciar, na última quinta-feira (22), a retomada do tratamento oncológico.
Preta usou as redes sociais para informar os fãs sobre a recidiva da doença, após novo diagnóstico de dois linfonodos, uma metástase no peritônio e um nódulo no ureter. Em nota publicada no Instagram, ela contou que, após internação para realizar exames de rotina, em 21 de agosto, foram descobertos dois linfonodos na pelve. Em uma postagem na rede social após reiniciar o tratamento, a cantora escreveu:
Primeiro dia de quimioterapia, tenho muita coisa para dividir com vocês, mas estou esperando o momento certo em que estarei fortalecida. Já agradeço todas as mensagens de carinho e manifestações religiosas de todas as fés em prol da minha recuperação, muito obrigado.”
A artista recebeu o diagnóstico de câncer logo no começo de 2023 e se submeteu, inicialmente, a uma cirurgia para a retirada do tumor. Em dezembro de 2023, ela anunciou o fim do tratamento após um procedimento para reconstruir parte do trato intestinal e apresentar remissão de um adenocarcinoma no reto.
O aparecimento de novos tumores é chamado de recidiva e costuma acometer muitas pessoas que passam pelo câncer no período de até cinco anos após o fim do tratamento. Preta Gil se insere em uma taxa de recorrência que chega a 20% dos pacientes em remissão de câncer colorretal.
Atualmente, esta taxa está diminuindo, conforme estudo da JAMA Oncology. Com a evolução das técnicas cirúrgicas com proposta curativa e outras abordagens de tratamento oncológico, os pacientes em remissão têm menos probabilidade hoje de ter a volta da doença quando comparado com o cenário de 20 anos atrás.
As taxas de recorrência variam de acordo com o tipo de câncer e da fase em que a doença é descoberta. Com o câncer colorretal (intestino grosso e reto), por exemplo, um dos mais incidentes na população brasileira, com 45 mil novos casos previstos para 2024, o risco de volta da doença após remissão é de 20%. Por conta disso, é recomendado que os pacientes com esse tipo de câncer recebam vigilância pós-operatória.
Taxas de retorno do câncer colorretal estão em queda
Um amplo estudo publicado em 2023 na revista científica JAMA Oncology mostra que houve redução de taxas do retorno da doença entre os pacientes diagnosticados com câncer colorretal nos estágios I a III quando se compara o cenário atual com as taxas de recorrências apresentas no período 2004/2008.
Os dados, tabulados e analisados até 2023, mostraram que – nas últimas duas décadas – as taxas de recorrência caíram para o câncer de cólon (intestino grosso) de 16,3% para 6,8% (pacientes diagnosticados em estágio I), de 21,9% para 11,6% (estágio II) e de 35,3% para 24,6% (estágio III).
Para o câncer retal, as quedas foram de 19,9% para 9,5% no estágio I, de 25,8% para 18,4% no estágio II e de 38,7% para 28,8% no estágio III da doença. O trabalho reuniu os dados de 34 mil pacientes.
Nas últimas duas décadas, entre as iniciativas que propiciaram a redução de taxas de recorrência do câncer, além da evolução das técnicas cirúrgicas, também se destacam a abordagem de equipe multidisciplinar e os protocolos melhorados de recuperação após cirurgia.
O acompanhamento, pós-tratamento, é essencial para, em caso de recidiva, ela ser descoberta precocemente”, ressalta o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e titular do Hospital de Base, de Brasília.
De acordo com Pinheiro, o risco de volta da doença é maior quando, antes da remissão, ela apresentava um crescimento acelerado e perfil mais agressivo. Para cada tipo de câncer, explica o especialista, há um padrão comum de recidiva.
Segundo ele, é fundamental seguir as orientações do cirurgião oncológico para o seguimento após a finalização do tratamento. “Com o acompanhamento regular e uma rotina de exames periódicos, qualquer indício de retorno da doença pode ser mais facilmente identificado”, reforça.
Como as recidivas ocorrem?
Estar em remissão do câncer – quando há a redução ou desaparecimento dos sintomas e sinais da doença – é uma condição desejada pelos pacientes que recebem o diagnóstico de câncer. Esse processo é interrompido quando ocorre a recorrência. A probabilidade diminui com passar do tempo e, quando se completa cinco anos de remissão, o risco de volta da doença é menor.
A recidiva do câncer ocorre quando células tumorais permanecem no corpo após o tratamento. Trata-se de micro metástases, que são indetectáveis por exames de imagens, mesmo os mais modernos. Com o passar do tempo, essas células podem se multiplicar indiscriminadamente, levando ao desenvolvimento de um novo câncer.
Quais são os tipos de recidivas do câncer?
O câncer em recidiva pode reaparecer no mesmo local onde foi diagnosticado inicialmente ou em outras regiões do corpo. De acordo com essa localização, costuma-se classificar os diferentes tipos de recidiva:
- recidiva local: é quando o câncer volta no mesmo lugar onde houve a primeira ocorrência da doença;
- recidiva regional: o câncer volta nos linfonodos próximos à região do primeiro câncer;
- recidiva metastática distante ou metástase à distância: quando o câncer volta em outra parte do corpo, geralmente distante de onde ocorreu pela primeira vez. É quando um paciente, a princípio com câncer de intestino, por exemplo, desenvolve a doença no fígado.
O anúncio feito por Preta Gil mobiliza os fãs da cantora e também chama a atenção para os casos de recidiva de outros tipos de câncer. Dados estatísticos indicam que a taxa de recidiva varia de acordo com o tipo de câncer.
Por exemplo, o câncer de mama tem uma taxa de recidiva de cerca de 20% nos primeiros 5 anos após o tratamento, enquanto o câncer de pulmão tem uma taxa de recidiva mais alta, chegando a 50% em alguns casos.
É importante que cada paciente seja acompanhado por uma equipe médica especializada para determinar o melhor plano de tratamento e monitoramento. Além disso, manter um estilo de vida saudável, evitar o tabagismo, praticar atividade física regularmente e manter uma alimentação balanceada podem ajudar a reduzir o risco de recidiva do câncer”, finaliza o especialista.
É possível prevenir a recidiva?
Algumas medidas, multifatoriais, podem contribuir para a redução do risco de volta da doença, como a interrupção do tabagismo. Embora não haja evidências sólidas da influência dos alimentos na prevenção do câncer — seja na primeira ocorrência ou em recidivas — está comprovado que as consequências da má alimentação, sobretudo a obesidade e o sobrepeso, estão entre os principais fatores de risco para a recidiva do câncer.
Ao mesmo tempo, o organismo de pessoas com déficit nutricional pode ter mais dificuldade em combater a doença, prejudicando a evolução do tratamento. Por isso, a dieta equilibrada é uma das chaves para prevenir as manifestações da doença. Aliada à alimentação, a prática de atividades físicas atenua os efeitos colaterais da quimioterapia, ajuda a melhorar a imunidade e a controlar o sobrepeso. Além disso, é importante o suporte psicológico e emocional ao paciente.
Neste sentido, ressalta a SBCO, o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (com a presença de nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos e outros profissionais que apoiem a melhora na qualidade de vida), tem impacto positivo na recuperação do paciente e na prevenção de novas ocorrências.
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Linfonodos, pulmões e fígado são áreas mais comuns para recidiva
Casos de recidiva podem ocorrer para diferentes tipos de câncer, na área originalmente tratada ou em outros locais, como linfonodos, pulmões e fígado, como explica o oncologista Artur Ferreira, da Oncoclínicas São Paulo. Segundo ele, a volta do tumor pode ser identificada tanto durante a consulta médica quanto por meio de exames complementares.
Quando há essa suspeita, é necessária a confirmação do diagnóstico através de exames complementares tais como tomografia computadorizada, ressonância magnética, PET-CT ou, eventualmente, biópsias das áreas afetadas”.
No caso de Preta Gil, ocorreu na região pélvica, que filtra substâncias nocivas do corpo. Em dezembro de 2023, a cantora havia finalizado seu tratamento, que contou com sessões de quimioterapia, radioterapia e duas cirurgias.
Desde o anúncio do diagnóstico, ela vem usando as redes sociais para compartilhar sua jornada de tratamento. Recentemente ela lançou sua autobiografia em que fala de sua trajetória musical, do divórcio que encarou em pleno tratamento oncológico e como tem enfrentado o câncer e o risco de morte, além de outras revelações.
Por que o câncer pode voltar?
De acordo com o especialista, mesmo após um tratamento bem-sucedido, o câncer pode voltar devido à resistência intrínseca de algumas células ao tratamento inicial. “Nesses casos, a terapia recomendada será definida após uma investigação médica detalhada e uma discussão aprofundada entre o médico e o paciente. É importante destacar que a recidiva tumoral geralmente reduz as chances de cura da doença”, conclui.
O tumor colorretal ocorre com maior frequência após os 50 anos e pode se desenvolver no intestino grosso ou no reto. Vale lembrar ainda que o principal tipo de tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na região que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo dos anos, tornando-se cancerígenos.
Diagnóstico aumenta entre pessoas mais jovens
No entanto, é preciso olhar também para o diagnóstico em pessoas mais jovens. Um dos estudos científicos que embasam a argumentação foi publicado no Journal of the National Cancer Institute e realizado nos Estados Unidos de 1974 até 2013. A análise mostrou que nas pessoas entre 20 a 39 anos de idade, por exemplo, o número de novos casos de câncer de intestino vem crescendo anualmente, entre 1% e 2,4%, desde a década de 1980.
Já os casos de câncer de reto, nas pessoas entre 20 e 29 anos de idade, tiveram um aumento anual médio de aproximadamente 3,2%, desde 1974. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados para cada ano triênio 2023-2025, 45.630 novos casos de tumores de intestino.
De acordo com o oncologista, é muito importante que a população conheça os sinais do câncer colorretal e procure por um especialista o quanto antes.
Apesar de a doença muitas vezes ser silenciosa, o paciente deve observar se há alteração no hábito intestinal, tais como constipação, diarreia, ou estreitamento das fezes, ausência da sensação de alívio após a evacuação, como se nem todo conteúdo fecal fosse eliminado, sangue nas fezes, cólica, dor abdominal, perda de peso sem motivo aparente, fraqueza e sensação de fadiga“, explica.
Quando o câncer colorretal é diagnosticado em sua fase inicial, a maioria dos casos, felizmente, é curável. Por isso, é essencial que o diagnóstico aconteça precocemente, aumentando assim o sucesso do tratamento. “A equipe médica irá avaliar cada caso individualmente, selecionando as estratégias e melhores opções disponíveis para o paciente”, comenta o oncologista da Oncoclínicas São Paulo.
Entenda os tratamentos
Os tratamentos para a neoplasia podem ser definidos em dois tipos:
● Tratamentos locais (cirurgia, radioterapia, embolização e ablação): agem diretamente no tumor, sem afetar o restante do corpo. Pode ser realizado nos estádios iniciais ou ainda no tratamento de pequenas lesões metastáticas;
● Tratamentos sistêmicos (quimioterapia, imunoterapia ou terapias-alvo): podem ser realizados por drogas orais (comprimidos) ou endovenosas (na veia), aplicando diretamente na corrente sanguínea.
É possível prevenir?
Vale lembrar ainda que o câncer colorretal é um tipo de neoplasia que pode ser evitado, ainda em sua fase pré-cancerosa. O procedimento consiste na retirada dos pólipos, que podem surgir na parede interna do intestino grosso.
Diferente do câncer de mama, por exemplo, onde a doença é identificada geralmente em fase inicial com os exames de rotina, o tumor colorretal pode ser descoberto na fase pré-cancerosa com a colonoscopia“, explica.
Dentre os fatores de risco do câncer colorretal, é possível observar uma relação com os hábitos alimentares e de vida, além de condições prévias de saúde. Como forma de prevenção, o médico reforça que é necessário seguir algumas orientações.
Deve-se investir em uma dieta rica em fibras e uma menor ingesta de carnes vermelhas e processadas, praticar atividades físicas, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo e manter um peso saudável. Além disso, é importante investigar se o paciente possui demais riscos, como a doença de Crohn ou colite ulcerativa (ambas doenças inflamatórias crônicas do intestino) além de histórico familiar de casos de câncer colorretal”, conclui Artur Ferreira.
Com informações das assessorias
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