Para aqueles que já perderam um ente querido, seja a mãe que perdeu um filho, ou o filho que perdeu a mãe, o Dia das Mães pode ser marcado por tristeza e solidão. Neste momento, que pode se repetir em outras datas comemorativas, principalmente finais de ano, cobranças e exigências impostas socialmente, como questionar o tempo de luto e a demora em superar não favorecem o processo, que é normal e esperado, além de torná-lo ainda mais cruel e doloroso ao enlutado.
“O luto é um processo de elaboração psíquica diante de um rompimento de vínculo significativo. É um processo normal, esperado e individual, que pode desencadear reações de ordem física, emocional, social e espiritual”, explica Raquel Alves, psicóloga especialista em luto e coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital e Maternidade São Luiz Campinas, da Rede D’Or.
A especialista destaca que é importante validar a dor e o sofrimento para elaboração do luto, permitindo que a pessoa assimile, integre e acomode este sentimento. “Havia um vínculo estabelecido ali, uma dupla que tinha sonhos, expectativas e planos, e tudo isso se desfez diante dessa ruptura”, lembra Raquel.
“A vida segue, é verdade. Mas, será que nós seguimos iguais após vivenciar a ruptura de algo tão importante como perda de um filho ou uma mãe? Por que a pressa para se readaptar a essa nova realidade? Por que acelerar esse processo ou se forçar a comemorar uma data festiva, quando ela não faz sentido?”, questiona a psicóloga. “É essencial ter empatia e respeito em relação ao sentimento alheio”, complementa.
As perguntas levam a outro ponto importante: o luto não tem tempo. “Essa ideia de tempo é perigosa, uma vez que cria a ilusão de que se trata de uma doença, que tem ou precisa de cura em determinado prazo”, alerta Raquel.
Nos casos de perda a orientação é que cada um vivencie o dia como preferir e se sentir mais seguro e confortável. “Cabe a cada um dar um novo sentido para a data. O importante é se permitir viver o luto e enfrentar a data do jeito que fizer mais sentido, afinal, é um processo íntimo e individual”, compartilha a especialista.
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Dicas de como lidar com o luto no Dia das Mães
A psicóloga Raquel Alves separou algumas dicas de como lidar com o luto neste Dia das Mães.
– Aproveite o momento para reviver memórias felizes;
– Ouça músicas que te tragam aconchego ou lembre positivamente o ente querido;
– Cozinhe algo especial que vocês costumavam comer juntos, ou o prato favorito da pessoa;
– Se preferir, fique em silencio e acolha sua saudade. Não se sinta pressionado a comemorar uma data se este não for o seu desejo no momento;
-Também há aqueles que preferem se distrair com outras atividades ou tratar o dia como outro comum. Sinta-se livre para fazer atividades que mais lhe agradam.
“O importante passar pelo processo de assimilação da perda, integração da experiência e então, acomodação, quando sentimos que podemos falar da pessoa que se foi sem tanta dor ou sofrimento”, finaliza Raquel Alves.
Agenda Positiva
Grupo Mães SemNome faz plantão psicológico on-line
Na data comemorativa para muitas mulheres, marcada por celebrações e demonstrações de afeto, milhares de outras revivem o sofrimento intenso da inominável dor de perderem seus filhos. Pensando nesses casos, o Grupo Gratuito de Acolhimento e Apoio a Mães Enlutadas, o Mães SemNome, criado para acolher e apoiar essas mulheres, realizará um plantão psicológico on-line na semana do Dia das Mães.
Para a psicóloga Márcia Noleto, criadora do grupo, este é um projeto que ocupa o vácuo deixado pelo poder público no atendimento a mulheres vulnerabilizadas pela perda de seus filhos – seja por violência (infelizmente a cada dia mais comum), acidentes, doenças. “Muitas mães não contam com uma rede de apoio durante esse difícil processo”, diz ela.
Para participar, basta fazer inscrição por meio deste link, que também está na bio do instagram do grupo (@maessemnome2023).
Saiba mais sobre o grupo mães semnome aqui
Com assessorias