A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu em 2014 o direito à higiene menstrual como uma questão de direito humano e à saúde pública. Mas uma entre 10 meninas no mundo sofrem com o impacto da pobreza menstrual na vida escolar. No Brasil, estima-se que esse número seja de uma em quatro. A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de acesso a recursos, infraestrutura e até conhecimento por parte de meninas e mulheres para cuidados envolvendo a própria menstruação.
Relatório sobre a pobreza menstrual no país, lançado no dia 28 de maio, Dia Internacional da Dignidade Menstrual pelo Unicef e UNFPA, 713 mil meninas vivem sem banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas – o que inclui absorventes e instalações básicas, como banheiros e sabonetes.
Por não conseguirem comprar esse item básico de higiene, centenas de jovens deixam de realizar atividades rotineiras como, por exemplo, ir à escola. A situação afeta, principalmente, estudantes de periferias, prejudicando o rendimento escolar, a autoestima e a qualidade de vida.
Sensibilizado pela situação, o Instituto ELA criou o projeto Adote um Ciclo, com o objetivo de arrecadar absorventes higiênicos para mulheres e meninas que vivem em regiões periféricas. Também serão contempladas alunas que estudam em escolas localizadas em comunidades vulneráveis, considerando que muitas delas faltam até uma semana inteira de suas atividades escolares por não terem acesso aos itens básicos para higiene pessoal no período. A coleta dos absorventes ocorrerá até o dia 16 de julho de 2021 e a distribuição acontecerá na semana de 19 a 23 de julho.
A pobreza menstrual impacta a vida de muitas brasileiras e mulheres no mundo todo, principalmente aquelas com menor poder aquisitivo. Além de ser uma questão séria de saúde, afeta a confiança de garotas e causa a evasão escolar”, diz Lydia Collares, gestora da regional do Instituto Elas-Educadoras no Rio de Janeiro.
Campanha em universidade do Rio de Janeiro
Beatriz Balena, reitora da Universidade Veiga de Almeida (UVA), no Rio, e conselheira do Instituto, afirma que muitas adolescentes e jovens sentem vergonha de falar sobre o assunto e utilizam soluções alternativas como panos, roupas velhas e até mesmo papel higiênico como substituto do absorvente. “Por isso, a arrecadação de absorventes e a distribuição gratuita são ações fundamentais para impulsionar meninas e adolescentes na luta cotidiana pela igualdade de condições e acesso à educação”, avalia.
A universidade aderiu à campanha e vai arrecadar, até o dia 16 de julho, absorventes íntimos femininos que serão entregues para escolas municipais e estaduais, além de associações de bairros e postos de atendimento médico, que ficam dentro de comunidades vulneráveis e de regiões periféricas. As doações para campanha “Adote um Ciclo” do Instituto Ela, deverão ser feitas em horário comercial nos pontos de coleta instalados nos campi Tijuca, Barra da Tijuca e Cabo Frio.
As entregas, entre os dias 19 e 23, serão para escolas municipais e estaduais e nas associações de bairros e em postos de atendimento médico, localizados em comunidades e regiões periféricas. Além da arrecadação de absorventes, a campanha tem como foco a conscientização, proteção e educação para a saúde das mulheres, e ainda conta com uma série de vídeos educativos sobre temáticas sensíveis e extremamente relevantes, tais como: menstruação, gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.
Este material será produzido por especialistas de saúde do Instituto ELA para ajudar essas meninas a entenderem melhor as questões que permeiam a situação da pobreza menstrual e sua seriedade. Os vídeos ficarão disponíveis no Canal do YouTube do Instituto ELA na playlist CONVERSANDO com ELA. Mais informações no site: https://www.institutoela.org.br/
Dignidade íntima: marca doa 2 milhões de absorventes em SP
O governador João Doria anunciou esta semana a doação, pela empresa P&G, de 2 milhões de absorventes para o programa Dignidade Íntima, que vai distribuir, de forma gratuita, produtos de higiene menstrual para estudantes da rede estadual. O programa Dignidade Íntima deve investir R$ 30 milhões na compra deste produto, que será disponibilizado para cerca de 1,3 milhão de estudantes em idade menstrual, entre 10 e 18 anos, sendo que a prioridade são as que se encontram em situação de vulnerabilidade.
O programa foi estabelecido por decreto, publicado em Diário Oficial (DO) no sábado (19), no âmbito do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE-SP). Os protocolos de distribuição irão garantir privacidade e cuidado, criando múltiplos canais de atendimento para as estudantes. A partir de julho, as equipes escolares serão orientadas pela Secretaria da Educação.
A rede estadual conta com 1,6 milhão de alunas. Dessas, 1,3 milhão estão em idade menstrual, entre 10 e 18 anos. Mais de 500 mil possuem cadastro no CadÚnico e mais de 290 mil são beneficiárias do programa Bolsa Família, essas consideradas em situação de vulnerabilidade.
Conheça as principais regras
• Os recursos serão repassados conforme valor per capita por estudante, exclusivo para a finalidade do programa;
• O valor de per capita será fixado em, no mínimo, R$ 5 por estudante;
• Os valores a serem repassados por unidade escolar serão calculados com base na quantidade de estudantes do sexo feminino na faixa etária entre 10 e 18 anos que estejam registrados no Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal, na faixa da pobreza e da extrema pobreza, conforme a legislação vigente;
• Os produtos de higiene íntima menstrual adquiridos com os recursos deste repasse poderão ser destinados a todos os estudantes da unidade escolar, dando-se prioridade aos estudantes encaixados nos critérios de vulnerabilidade;
• As aquisições dos produtos deverão ser feitas após pesquisa de preços obtidos junto a, no mínimo, 3 fornecedores.
RJ cria lei para obrigar escolas a oferecer absorventes
As escolas públicas estaduais do Rio de Janeiro podem ser obrigadas a fornecer absorventes gratuitamente. É o que determina o projeto de lei 1.065/19, aprovado em primeira discussão pela Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) nesta quinta-feira (24/06). Os absorventes deverão estar disponíveis em máquinas de reposição nos banheiros femininos junto aos demais itens básicos de higiene.
Incluir os absorventes nos kits de higiene básica, assim como papel higiênico, é uma questão de justiça social e equidade. Esse projeto promove o reconhecimento dos absorventes como necessários e não supérfluos, já que as mulheres não podem optar por fazer uso dele ou não. É um meio de abrigar as especificidades das meninas e mulheres de modo justo e não mais desigual”, justifica a autora, deputada Dani Monteiro (PSol).
Com Assessorias