Boletim InfoGripe divulgado no último dia 12 de janeiro pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontava um crescimento nos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em crianças em todo o Brasil, especialmente em São Paulo e no Distrito Federal. Segundo o relatório, o vírus sincicial respiratório foi responsável por 59% dos registros de SRAG nas crianças com até 4 anos entre 11 de dezembro de 2022 a 7 de janeiro deste ano.

Geralmente, o vírus costuma circular com mais intensidade no outono e no inverno, mas, neste ano, ele está levando a um aumento das hospitalizações do público infantil fora de época. De acordo com a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, o aumento da circulação do vírus no Hemisfério Norte e a maior mobilidade das pessoas, que estão viajando mais, estão entre as hipóteses para a alta nos casos durante verão no país.

“Existe uma população de suscetíveis, que são as crianças que não entraram em contato com o vírus sincicial durante a pandemia por causa do isolamento. Agora, as famílias estão voltando a viajar e essa circulação do vírus num período fora do usual talvez seja reflexo dessa maior mobilidade e retomada das viagens”, avalia a infectologista.

Segundo Gouveia, o vírus sincicial respiratório é um vírus de RNA que causa quadros respiratórios em todas as faixas etárias, mas é mais comum e pode ser mais grave em bebês e crianças.

Entre as que têm o maior risco de desenvolver as formas graves da doença, estão: recém-nascidos prematuros; menores de seis meses; menores de dois anos que tenham algum problema pulmonar congênito ou adquirido, doenças cardíacas, imunodeprimidas ou que tenham problemas neuromusculares que comprometam a respiração.

“Na maioria das vezes, elas terão um quadro gripal leve, muito parecido com resfriado. Quando desenvolvem a forma mais grave, acontece uma inflamação das pequenas vias aéreas (chamado de bronquiolite) ou uma pneumonia. Pode ser necessária a internação e às vezes até ficar em uma unidade de terapia intensiva”, destacou a infectologista.

Tratamento e sintomas

Não existe um tratamento com antiviral específico. As crianças que precisam de internação recebem suporte clínico, principalmente oxigênio, fisioterapia respiratória e hidratação.

Já os sintomas da infecção pelo vírus sincicial respiratório são basicamente os mesmos de uma gripe ou resfriado causados por outros vírus, como o coronavírus ou a influenza. O paciente pode começar com o nariz entupido, ficar mais apático e comer menos até o quadro evoluir com tosse e dificuldade respiratória.

“Alguns sinais, principalmente nos bebês, podem ser mais difíceis de serem identificados. Por isso, os pais devem observar irritabilidade, redução do apetite e pausas respiratórias (apneias) que ocorram por mais de dez segundos. Nem sempre os bebês vão ter febre, então é preciso estar atento”, ressaltou Gouveia.

O diagnóstico pode ser feito por meio de uma série de exames, mas ele não é o mais importante. “Em tempos de pandemia, provavelmente as crianças que derem entrada com esses sintomas em hospitais serão testadas para descartar outras infecções respiratórias. É importante saber qual é o agente que está acometendo a criança, mas o diagnóstico do vírus sincicial é basicamente clínico. Por isso, os pais das crianças menores precisam ficar atentos aos sinais e sintomas para procurar um rápido atendimento”, orientou a infectologista.

Prevenção

As medidas de prevenção do vírus sincicial são as mesmas para evitar a infecção pelo coronavírus ou por influenza. Para as crianças com menos de dois anos não existe a indicação do uso de máscara, por isso é muito importante a atenção dos pais para higienização das mãos com água e sabonete (quando as mãos estão visivelmente sujas) ou álcool em gel (quando estão visivelmente limpas) sempre que necessário.

Ainda não existe uma vacina para prevenção do vírus sincicial respiratório e, mesmo após ser infectada, a criança não adquire imunidade permanente. Ou seja: se ela entrar em contato com o vírus novamente, pode desenvolver a doença mais uma vez.

“Bebês prematuros, crianças com doenças congênitas ou com condição pulmonar crônica têm a indicação de receber uma medicação profilática (um anticorpo monoclonal chamado palivizumabe) que deve ser aplicada antes do período de sazonalidade do vírus, que normalmente acontece no fim do outono e início de inverno. Os pais desses bebês devem procurar o pediatra para avaliar essa possibilidade”, alertou Gouveia.

Dicas para evitar a transmissão em família:

Os pais não devem tocar as mucosas do olho, nariz e boca;

A família deve evitar o contato com pessoas com síndrome gripal;

Sempre usar lenço descartável, de preferência;

Fazer a limpeza das superfícies;

Deixar as crianças em casa quando estiverem doentes, mesmo os irmãos que estão bem: é comum que o bebê infectado tenha um irmão mais velho que vai para a escolinha e, por isso, também pode transmitir o vírus.

Adultos também ficam doentes

Alguns adultos, principalmente os imunodeprimidos ou aqueles com doenças pulmonares, também podem ter complicações quando se infectam com o vírus sincicial respiratório. Especialmente idosos com mais de 65 anos ou adultos com doença crônica ou cardíaca, que podem ter uma descompensação do quadro de base.

“Adultos com asma, por exemplo, ou mesmo doença pulmonar obstrutiva crônica podem ter seus quadros piorados resultando em insuficiência respiratória”, explicou a médica. Segundo o boletim da Fiocruz, nessa faixa etária, a Covid-19 segue prevalecendo entre os casos de SRAG.

As vacinas contra a influenza ou contra a Covid não protegem contra o vírus sincicial, mas as medidas de prevenção são as mesmas: “tudo o que aprendemos na pandemia é aplicável na prevenção de todos os vírus respiratórios”, finalizou a infectologista.

Fonte: Agência Einstein

 

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