Nem tudo que circula na internet é verdade — e algumas informações podem ser perigosas quando o assunto é saúde, ainda mais câncer. Em um mundo onde a saúde se tornou um negócio bilionário, a busca por informações confiáveis e a confiança na ciência são mais cruciais do que nunca.

A série ‘Vinagre de Maçã’, lançada em fevereiro na Netflix, retrata justamente isso ao abordar a disseminação de falsas curas para doenças graves, como o câncer. Inspirada na história real da influenciadora australiana Belle Gibson, a produção mostra como narrativas enganosas podem impactar vidas.

Gibson, que se autoproclamava sobrevivente de um câncer terminal, alegou ter revertido a doença apenas com dieta e tratamentos naturais. Suas mentiras atraíram milhões de seguidores e a transformaram em um ícone da “indústria wellness”. No entanto, em 2015, a verdade veio à tona: Gibson não tinha câncer, e toda a sua história era uma fraude. A influenciadora foi multada em mais de US$ 1 milhão por enganar pacientes com câncer.

A história de Belle Gibson é um exemplo extremo, mas não isolado. A indústria do bem-estar, que movimentou ao redor do mundo impressionantes US$ 6,32 trilhões em 2023, segundo dados do Global Wellness Institute, frequentemente alimenta a proliferação de “remédios milagrosos”.

Narrativas de cura sem base científica alimentam falsas esperanças

Uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo, continua a desafiar a saúde pública global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, até 2050, o número de novos casos no planeta aumentará de 20 milhões para impressionantes 35,3 milhões. Considerando apenas o Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) calcula que apenas em 2025, 704 mil brasileiros receberão o diagnóstico de algum tipo de tumor.

O Dia Mundial de Luta Contra o Câncer (8 de abril), instituído em 2000 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), evidencia a necessidade de se falar sobre a segunda doença que mais mata no mundo. Especialistas também alertam para o perigo da desinformação.

Diante do cenário de crescente número de casos, especialistas em saúde reforçam, cada vez mais, a importância do movimento em prol de políticas públicas com foco na prevenção e garantia de direitos após a identificação da doença. Apesar do aumento de casos diagnosticados, campanhas de rastreamento, prevenção, avanço das terapias e o acesso ao tratamento trazem uma nova perspectiva para pacientes.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) traz informações sobre prevenção, diagnóstico, tratamentos e as perspectivas da doença no Brasil. A Sbox tem se destacado não apenas pelo apoio à conscientização e ao aprimoramento das práticas oncológicas no país, mas também pelo combate a fake news relacionadas ao tema.

Médicos perguntam se pacientes tomam remédios indicados por parentes

Para o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente de honra da Sboc, esse fenômeno é preocupante. “Narrativas de cura sem base científica geram falsas esperanças e, pior, desviam pacientes de tratamentos eficazes. É uma questão grave de saúde pública”, alerta.

 As pessoas ficam extremamente vulneráveis quando enfrentam uma doença grave como o câncer. Elas buscam desesperadamente por soluções e podem se tornar alvos fáceis de pessoas mal intencionadas que têm na internet um terreno fértil para disseminar falsas receitas milagrosas”, ressalta o especialista.

E o impacto dessa desinformação vai além da saúde física. “Muitos pacientes, ao perceberem que foram enganados, enfrentam níveis severos de ansiedade e culpa por terem abandonado tratamentos comprovados”, explica Gil. “Vinagre de Maçã” busca não apenas expor os perigos dessas práticas, mas também reforçar a importância da medicina baseada em evidências.

Esses tipos de estratégias milagrosas causam preocupação por dois grandes motivos: o primeiro é, de fato, que alguns pacientes tendem a abandonar os tratamentos convencionais comprovados cientificamente em detrimento daqueles ditos milagrosos. E segundo, porque às vezes eles tentam coexistir, e esses procedimentos , como alguns fitoterápicos, podem interferir na eficácia dos convencionais”, explica.

Segundo ele, muitas vezes os médicos são forçados a perguntar aos pacientes se eles estão tomando algum outro medicamento natural ou indicado por algum conhecido ou parente. “Isso pode, de fato, interferir e diminuir a eficácia do tratamento convencional”, alerta.

As redes sociais são o principal canal de disseminação dessas ideias, muitas vezes promovidas por influenciadores sem qualquer formação médica, mas com alto poder de persuasão. Para Carlos Gil, o papel dos médicos é central na orientação de pacientes sobre fontes confiáveis de informação. “A educação por meio de fontes médicas é essencial para desarmar o poder da desinformação. Uma abordagem honesta e baseada em ciência salva vidas”.

Combate ao câncer: 8 inovações científicas que estão revolucionando o tratamento

Apesar dessas estatísticas alarmantes, há motivos para otimismo. Avanços científicos e médicos têm transformado a doença de uma sentença de morte para uma condição cada vez mais tratável e, em alguns casos, curável.

A luta contra o câncer ganhou novos contornos nos últimos anos e vem sendo reescrita com sucesso pela ciência. E, passados cinco anos do início da pandemia da Covid-19, não há dúvidas de que a medicina emergiu desse momento de crise sem precedentes mais forte e mais preparada para enfrentar os desafios nas diferentes frentes de saúde, em especial o câncer”, afirma Carlos Gil Ferreira, que é presidente do Instituto Oncoclínicas.

Ele também salienta que o futuro do tratamento oncológico está sendo moldado pela combinação de novas abordagens em prevenção, diagnóstico precoce e terapias inovadoras. “A oncologia está passando por uma revolução sem precedentes, impulsionada por descobertas científicas e inovações tecnológicas que estão redefinindo o tratamento do câncer. Avanços como vacinas personalizadas, inteligência artificial, oncologia de precisão, terapias CAR-T e biópsia líquida estão transformando o modo como a medicina detecta e combate a doença”.

1. Vacinas personalizadas contra o câncer

Pesquisadores ao redor do mundo estão fazendo avanços notáveis no desenvolvimento de vacinas personalizadas contra o câncer, uma abordagem inovadora que promete transformar o tratamento da doença. Aproveitando a mesma tecnologia de RNA mensageiro  (mRNA) que foi fundamental para as vacinas contra a Covid-19, essas medicações têm o poder de treinar o sistema imunológico para reconhecer e atacar células cancerígenas de maneira específica. Ao atacar como uma espécie de míssil teleguiado as células tumorais, esses imunizantes oferecem uma abordagem mais precisa e eficaz.

Os ensaios clínicos observados até o momento têm mostrado resultados promissores, com a possibilidade de reduzir significativamente o risco de recorrência do câncer e causar menos efeitos colaterais do que tratamentos convencionais, como a quimioterapia, que muitas vezes resulta em efeitos adversos debilitantes. Ferreira vê este avanço com grande entusiasmo

As vacinas personalizadas são uma fronteira promissora na luta contra o câncer, pois utilizam a própria biologia do paciente para criar um tratamento altamente específico e individualizado, potencialmente revolucionando a forma como combatemos a doença”.

Essas vacinas oferecem não apenas uma alternativa terapêutica inovadora, mas também um novo caminho para a medicina de precisão, abrindo portas para tratamentos mais eficazes, menos invasivos e com menor impacto no bem-estar dos pacientes. O desenvolvimento contínuo delas marca o início de uma nova era na oncologia, oferecendo esperanças concretas para um futuro com tratamentos cada vez mais direcionados às características particulares do câncer de cada indivíduo.

2. Inteligência Artificial para diagnóstico precoce.

A inteligência artificial (IA) tem se mostrado uma ferramenta poderosa no diagnóstico precoce do câncer. Cientistas estão desenvolvendo modelos de IA capazes de analisar exames de imagem, como radiografias e tomografias, com uma precisão impressionante. Esses sistemas podem prever riscos de câncer até seis anos antes do aparecimento de sintomas, oferecendo uma janela de oportunidade crucial para intervenções precoces.

Estudo realizado por pesquisadores da Índia, por exemplo, mostrou que a IA pode ajudar a detectar câncer de mama em estágios iniciais, facilitando tratamentos menos invasivos e com maiores chances de cura. “A utilização da IA para o rastreamento de cânceres tem o potencial de revolucionar a detecção da doença, especialmente em áreas com escassez de especialistas”, afirma Ferreira.

Além disso, a IA também permite a personalização do tratamento ao analisar vastos volumes de dados clínicos e históricos de pacientes. Ao integrar informações genéticas, demográficas e de estilo de vida, os sistemas de IA podem fornecer recomendações altamente precisas sobre quais terapias são mais adequadas para cada paciente, potencializando as taxas de sucesso do tratamento.

Essa abordagem não apenas aumenta a eficácia dos tratamentos, mas também torna possível a detecção de padrões que, de outra forma, poderiam passar despercebidos pelo olhar puramente humano, especialmente em regiões com recursos limitados ou onde há falta de especialistas. Com isso, a tecnologia se torna uma aliada vital na luta contra o câncer, tornando o diagnóstico mais acessível, rápido e preciso.

3. Testes sanguíneos para diagnóstico não invasivo

Inovações na biologia molecular permitiram o desenvolvimento de exames sanguíneos que podem identificar diferentes tipos de câncer com uma precisão impressionante. De acordo com um estudo publicado na Lancet Oncology em 2023, alguns testes de biópsia líquida têm mostrado uma taxa superior a 80% na detecção da doença em estágios iniciais, como no caso de cânceres de pulmão, fígado e pâncreas, que são tipicamente difíceis de diagnosticar precocemente.

A biópsia líquida é uma técnica que está ganhando destaque como uma alternativa menos invasiva à biópsia tradicional. Por meio de uma amostra de sangue, é possível detectar a presença de células cancerígenas, permitindo um diagnóstico precoce e o acompanhamento da evolução da doença. Essa abordagem não só reduz o desconforto dos pacientes, mas também facilita o monitoramento contínuo do tratamento”, explica Ferreira.

O teste busca identificar fragmentos de DNA tumoral circulante no sangue, proporcionando uma visão rápida e eficaz sobre a presença de células cancerígenas, sem a necessidade de biópsias tradicionais que envolvem a remoção de tecidos. Além disso, os testes sanguíneos para câncer oferecem a vantagem de serem menos dolorosos e com um tempo de recuperação praticamente inexistente, o que torna o processo muito mais confortável e menos arriscado para o paciente.

4. Oncologia de precisão: tratamentos direcionados e menos agressivos

A oncologia de precisão é um campo que vem revolucionando o tratamento do câncer. Em vez de tratar todos os pacientes com o mesmo protocolo, os tratamentos agora são personalizados, levando em consideração as características genéticas de cada tumor. Isso permite que médicos desenvolvam terapias mais direcionadas, com menor impacto nas células saudáveis e menos efeitos colaterais.

Ferreira reforça a importância desse avanço: “A oncologia de precisão representa uma verdadeira revolução no tratamento do câncer. Ao estudar as características genéticas específicas do tumor de cada paciente, podemos desenvolver tratamentos mais eficazes e menos agressivos.”

5. Terapia CAR-T: imunoterapia revolucionária

A terapia CAR-T, uma forma inovadora de imunoterapia, tem mostrado resultados extraordinários no tratamento de leucemias e outros tipos de câncer hematológicos. Essa técnica envolve a modificação genética das células T do sistema imunológico do paciente, transformando-as em “caçadoras” de células cancerígenas. Essas células T modificadas são então reintroduzidas no corpo do paciente, onde se dirigem especificamente aos tumores, oferecendo uma abordagem altamente personalizada e eficaz para o combate ao câncer.

Em casos impressionantes, pacientes com subtipos agressivos de leucemias, linfomas e mielomas tratados com terapia CAR-T têm experimentado remissões duradouras, com alguns alcançando resultados promissores nas condições de sobrevivência livre de doenças.

Esses efeitos notáveis indicam o enorme potencial da terapia para transformar o tratamento do câncer, especialmente em casos que afetam a medula óssea, o sangue ou o sistema linfático, considerados terminais ou resistentes a outras formas de tratamento”, explica Ferreira.

Contudo, o oncologista ressalta que apesar de seus sucessos, a terapia CAR-T ainda depende de mais estudos para avaliar plenamente sua segurança para um universo mais amplo de tumores, em especial sólidos. Mesmo assim, representa um avanço revolucionário na imunoterapia, oferecendo esperança renovada para uma parcela considerável de pacientes.

6. Sequenciamento genético avançado

A análise do DNA dos tumores tem proporcionado avanços significativos na compreensão da origem e da progressão do câncer. Com o sequenciamento genético, cientistas estão conseguindo mapear as mutações específicas de milhares de tumores, identificando assinaturas genéticas únicas que oferecem pistas valiosas sobre o comportamento de diferentes tipos de câncer. Essas informações não só ajudam a elucidar os mecanismos subjacentes ao desenvolvimento tumoral, mas também abrem novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias direcionadas e personalizadas.

O sequenciamento genético está transformando o tratamento do câncer ao permitir uma abordagem mais precisa e individualizada. Em vez de terapias padrão, os tratamentos podem agora ser adaptados de acordo com as características genéticas específicas de cada tumor, aumentando significativamente as chances de sucesso“, resume o oncologista.

Esse progresso em medicina de precisão permite que os médicos escolham as terapias mais eficazes com base no perfil genético do paciente, o que pode levar a uma maior taxa de resposta e a uma diminuição dos efeitos colaterais. Além disso, ao identificar mutações associadas à resistência a certos tratamentos, o sequenciamento genético pavimenta o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas, oferecendo uma nova esperança para pacientes com cânceres considerados difíceis de tratar.

7. Tratamentos mais rápidos e menos invasivos

O avanço na medicina tem promovido a criação de novos protocolos de tratamento que não apenas aumentam a eficácia terapêutica, mas também tornam os procedimentos mais rápidos e menos invasivos, melhorando a experiência do paciente. Uma das inovações mais significativas é a redução no tempo de administração de medicamentos. Injeções que anteriormente eram administradas por infusão intravenosa, o que podia levar até uma hora para serem completadas, agora podem ser aplicadas em alguns minutos, sem comprometer a eficácia do tratamento. Há ainda a opção de medicações quimioterápicas e alvo-moleculares de uso oral, de acordo com as especificidades de cada caso.

Esse progresso não só proporciona mais conforto para os pacientes, ao reduzir o tempo de exposição a procedimentos invasivos, mas também diminui o estresse e a fadiga associados aos tratamentos tradicionais. Além disso, a aceleração desses tratamentos contribui para a otimização do tempo nos centros médicos, aumentando a capacidade de atendimento e reduzindo o tempo de espera para outros pacientes.

A implementação de terapias mais rápidas e menos invasivas representa um avanço significativo na medicina, tornando os tratamentos mais acessíveis, confortáveis e eficientes, o que, sem dúvida, reflete em uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes em tratamento”, sintetiza Ferreira.

8. Tecnologia, personalização e esperança

Além dos tratamentos inovadores, a integração de tecnologias como a telemedicina e ferramentas de monitoramento contínuo à distância tem potencializado essa transformação na oncologia. Essas inovações permitem uma comunicação mais ágil entre equipes multidisciplinares de saúde e pacientes, garantindo um acompanhamento constante e personalizado, sem a necessidade de deslocamentos frequentes.

Isso não apenas facilita o acesso a cuidados especializados, mas também melhora a gestão do tratamento, proporcionando aos pacientes um nível de conforto e suporte que antes não era possível. Em um mundo onde o câncer continua a desafiar médicos e cientistas, esses avanços oferecem uma luz no fim do túnel, trazendo esperança renovada e novas possibilidades de tratamento, transformando a experiência do paciente e a perspectiva de cura.

Em um mundo onde o câncer continua a desafiar cientistas e médicos, os avanços trazidos por essas ferramentas tecnológicas avançadas de comunicação beneficiam milhões de pessoas afetadas pela doença, proporcionando um horizonte de esperança e novas possibilidades de cuidado integral e integrado, superando inclusive desafios territoriais”, celebra Ferreira.

O oncologista lembra ainda que somatória dessas novas abordagens oferece um futuro mais otimista, em que o câncer pode ser gerido de forma mais eficaz e com menos sofrimento, aumentando as taxas de cura e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

O câncer não é mais uma sentença de morte, mas uma condição tratável e, em muitos casos, superável. Estamos mais próximos do que nunca de transformar o panorama da doença”, finaliza Carlos Gil Ferreira, destacando o otimismo trazido pelos avanços da ciência.

Com Assessoria

 

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