Novamente, uma escola brasileira foi alvo de ataque. Desta vez, o crime ocorreu na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo, onde uma aluna foi morta e três ficaram feridas após um adolescente de 15 anos, também aluno, ter disparado tiros contra as colegas. Segundo dados da Unicamp e Unesp, este é o 36º ataque a escolas no país, desde 2001, sendo que quase 60% deles ocorreram após a pandemia.
De fevereiro do ano passado até agora, foram 21 ocorrências, com 11 mortes registradas, o que significa 58,3% de todos os ataques em escolas no Brasil. Mas será que todos os ataques a escolas podem ser motivados por transtornos mentais por parte dos agressores, na maioria alunos ou ex-alunos das escolas?
Pesquisadores da Universidade de Columbia analisaram 82 ataques ocorridos em instituições de ensino nos Estados Unidos, e descobriram que 82 ataques foram cometidos por jovens do sexo masculino, sendo que mais de 77% deles não tinham diagnóstico de transtornos mentais. O estudo foi publicado no Journal of Forensic Sciences.
Outras pesquisas internacionais também se basearam nos ataques em escolas de vários países (incluindo o Brasil), a exemplo dos estudos realizados pelo pesquisador e escritor americano, Peter Langman, especialista na área. As pesquisas revelaram que, na maioria dos casos, não se constatou a presença de psicopatia nestes jovens.
Isso levou os pesquisadores a acreditarem que experiências traumáticas ou negativas ao longo da vida podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de comportamentos agressivos em pessoas que nunca apresentaram sinais de doença mental.
“Rotular o transtorno mental como premissa para atos brutais é estigmatizar ainda mais a doença. Além de equivocada, essa visão distorce a realidade e impede a compreensão de que há uma série de variáveis por trás desses ataques, como a inserção em um ambiente de violência, intolerância e rejeição”, afirma Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência, que colabora para a seção Palavra de Especialista, do Portal ViDA & Ação.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “o conceito de saúde mental abrange um estado de completo bem-estar físico, mental e social no qual o indivíduo se sente bem consigo mesmo e nas relações com os outros; é capaz de administrar as emoções e a vida como um todo; lida de forma positiva com as adversidades; reconhece seus limites e busca ajuda quando necessário”.
“Ou seja, a saúde mental do jovem pode ser comprometida não apenas por um transtorno, mas por um conjunto de fatores externos que podem gerar sofrimento psíquico e rompantes incontroláveis de raiva, chegando ao ponto de colocar em risco a própria vida e a de outras pessoas”, diz Danielle, que é supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Segundo Danielle Admoni, estes fatores incluem violência/abuso familiar, consumo de álcool/drogas, bullying/cyberbullying, homofobia/preconceito, traumas, além da interação nas redes sociais com grupos radicais, que disseminam discursos de ódio, entre outros pontos negativamente influenciáveis e que demandam uma atenção conjunta.
“Os jovens precisam vencer a incapacidade de verbalizar o que sentem. Assim, será possível prestar ajuda conforme suas necessidades. Por isso, quanto mais falarmos sobre este tema e abrirmos espaço para que eles expressem suas angústias, maiores serão as chances de que nossos jovens aprendam a adotar estratégias saudáveis de enfrentamento e tenham a oportunidade de processar suas emoções, em vez de reprimi-las”, finaliza Danielle Admoni.
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