Por Helen Mavichian*

Ataques violentos em escolas envolvendo crianças e adolescentes tumultuaram as mídias nos últimos dias. No dia 27/03, numa escola estadual na zona sul de São Paulo, um aluno de 13 anos atacou diversas pessoas com uma faca e matou uma professora de 71 anos.

No mesmo dia, ao menos três crianças e três adultos foram mortos em um ataque a tiros em uma escola na cidade de Nashville, no estado americano do Tennessee. Em 28 de março, um aluno de 15 anos foi detido em uma escola no Rio de Janeiro após tentar esfaquear colegas. No dia 5 de abril, quatro crianças foram mortas e cinco ficaram feridas em um atentado numa creche de Blumenau (SC),

A partir desses graves e lamentáveis acontecimentos, infelizmente podemos perceber como essas crianças foram e estão sendo expostas a uma violência gigantesca. Não só as vítimas, mas os agressores certamente estiveram em contato com situações, falas, contextos, ambiente e práticas agressivas que estimulam a violência. 

Tudo isso nos leva a refletir em como as nossas crianças têm sido educadas, protegidas e orientadas. O que leva crianças e adolescentes a terem atitudes tão radicais e extremas como essas? Quais são suas vivências? Em quais realidades estão inseridos?

Claro que nada é justificável, porém é importante pensar em como esse sentimento de ódio e essa prática violenta nasceu e foi alimentada, para que saibamos cuidar das nossas crianças antes que elas alcancem esse nível de agressividade e estejam vulneráveis a cometer crimes. 

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Quando situações extremas como essas ocorrem geralmente representam o estopim de algo muito profundo que foi semeado por muito tempo e não se limita às atitudes das crianças que cometeram os atos. Por essa razão, é extremamente importante que pais e familiares estejam atentos aos menores detalhes, sinais de alerta e situações nas quais as crianças estão expostas, seja dentro do convívio familiar, da escola, em brincadeiras com amigos, etc. 

As crianças e adolescentes precisam ter um espaço de escuta pelos pais, se sentir à vontade para expressar sentimentos e contar o que os angustia dentro dos ambientes em que estão inseridos.

No consultório, com certa frequência, atendo crianças que têm problemas de expressar suas emoções e possuem uma grande desregulação. Não sabem lidar com frustrações, desentendimentos, perdas e muito menos com a raiva. Todos esses sentimentos e comportamentos precisam ser trabalhados, ouvidos e desenvolvidos, para que os frutos não sejam amargos e penosos, assim como ocorreu nessas escolas.

Nesses momentos, o papel do terapeuta é fundamental, não só em tratar das crianças, mas também em orientar os responsáveis. Além disso, todas as pessoas que presenciaram situações de violência também precisam de um acompanhamento psicológico e muito respaldo nesse momento tão delicado. Quando essas vivências não são bem tratadas, podem exercer consequências preocupantes na vida das crianças vítimas de tamanha catástrofe e destruição. 

* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/

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