Não é fake news, gente. No 1º de abril, Dia da Mentira, farmácias de todo o país poderão passar a reajustar os preços dos medicamentos em até 5,6%. O novo teto que entra em vigor a partir desta terça-feira é equivalente à inflação oficial acumulada em 12 meses, mas esse percentual só incidirá sobre cerca de 7% dos remédios. A grande maioria dos mais de 10 mil medicamentos sobre os quais este reajuste anual incide vai aumentar até 2,06%.
Os medicamentos terão o menor reajuste médio desde 2018, conforme a resolução da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento (CMED), publicada nesta segunda-feira (31) no Diário Oficial da União. O aumento não é automático e depende de as empresas farmacêuticas enviarem o relatório de comercialização à CMED. Após essa fase, o reajuste na prática só é cobrado à medida que os estoques das farmácias forem repostos.
O reajuste é uma medida anual, autorizada pelo governo federal. O aumento nos preços de medicamentos ocorre sempre em 31 de março de cada ano. A prática é regulamentada pela Lei 10.742/2003, que estabelece as diretrizes para a regulação de preços
O aumento não é automático, mas estabelece um teto máximo para os preços. Mesmo entrando em vigor a partir desta segunda, a alta deve ser sentida, na prática, com a reposição dos estoques das farmácias que é quando o comércio vai receber as mudanças dos fornecedores.
Para maior parte das medicações, aumento é só de 2,6%
O reajuste anual autorizado pela CMED, que é vinculada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), impacta cerca de 10 mil medicamentos e tem como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e fatores como a produtividade da indústria farmacêutica.
Como todos os anos, a resolução da Cmed divide os medicamentos em três níveis de reajuste, conforme o grau de concorrência. Os percentuais são os seguintes:
- Nível 1: 5,06%;
- Nível 2: 3,83%;
- Nível 3: 2,6%.
Os remédios do nível 1, no entanto, só representam 7,8% do total de medicamentos. O nível 2 corresponde a 15%. O nível 3 representa 77,2%.
Ao considerar a série histórica, os percentuais de aumento para os remédios de nível 2 e 3 são os mais baixos desde 2018, quando o nível 2 ficou em 2,47% e o nível 3, em 2,09%. Em relação aos medicamentos de nível 1, o aumento de 5,06% é superior ao reajuste de 4,5% de 2024, mas inferior à alta de 5,6% em 2023.
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Reajuste não é obrigatório e pode estimular concorrência
Para 2025, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) apontava para uma média de 3,48%, o que deverá ficar abaixo da inflação dos últimos 12 meses, medida pelo IPCA, que foi de 5,06%.especialista alerta para impacto na continuidade dos tratamentos e dá dicas para reduzir gastos
As farmácias e drogarias não são obrigadas a reajustar os valores imediatamente, mas não podem cobrar além do limite definido pela Cmed. Além disso, as empresas devem divulgar amplamente os novos preços em veículos de grande circulação e manter listas atualizadas disponíveis para consulta pelos consumidores.
O reajuste dos medicamentos pode variar conforme a concorrência no mercado. Quanto maior a oferta de um determinado remédio, menor tende a ser o aumento autorizado. Isso acontece principalmente com genéricos e similares sem patente, que possuem preços mais competitivos. Já medicamentos patenteados ou com poucas alternativas disponíveis podem sofrer reajustes mais elevados.
Muitos remédios são vendidos abaixo do teto
Embora o reajuste médio seja inferior à inflação, na prática, os preços finais podem variar significativamente. Isso porque o reajuste incide sobre o Preço Máximo ao Consumidor (PMC), que estabelece o valor máximo permitido para a venda dos medicamentos.
Lélio Souza, vice-presidente de Soluções para Prática Médica da Afya, explica que muitos medicamentos são comercializados abaixo desse teto, permitindo variações amplas nos preços praticados pelas farmácias.
Mesmo que o reajuste seja menor, como os 3,48% projetados, o consumidor pode encontrar diferenças expressivas nos valores, pois o preço final depende das políticas de cada farmácia. Em 2024, por exemplo, identificamos medicamentos que tiveram variações maiores que 300% ao longo do ano”, diz Souza.
Esse é o caso, por exemplo, da Rivaroxabana, um tipo de anticoagulante, que teve seu preço variando em até 359%. Os dados são da CliqueFarma | Afya, plataforma de comparação de preços de medicamentos, e foram obtidos com base nos menores preços mensais praticados entre as mais de 80 redes de farmácias parceiras da plataforma.
Impacto na saúde e alternativas para economizar
Especialistas recomendam que os consumidores pesquisem preços em diferentes farmácias, aproveitem descontos concedidos por laboratórios, planos de fidelidade e utilizem programas de benefícios vinculados ao CPF. Além disso, caso identifiquem preços abusivos ou valores acima do teto estabelecido, os consumidores podem denunciar às autoridades de defesa do consumidor.
Para o médico Isaac Ramos, professor de Clínica Médica e Medicina de Família e Comunidade da Facimpa | Afya, o aumento dos preços pode comprometer a continuidade dos tratamentos, especialmente para populações de baixa renda.
O comprometimento da renda com medicamentos pode levar à interrupção de tratamentos essenciais, agravando condições de saúde e aumentando a demanda por serviços médicos”, explica.
Para minimizar os impactos do reajuste, o especialista orienta os consumidores a adotarem estratégias que garantam o acesso aos tratamentos com menor custo. Confira algumas dicas:
- Opte por genéricos ou biossimilares: são versões mais acessíveis financeiramente, com eficácia comprovada.
- Aproveite programas governamentais: o programa “Farmácia Popular” oferece medicamentos gratuitos ou com descontos para diversas condições de saúde.
- Busque assistência farmacêutica no SUS: unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizam gratuitamente diversos medicamentos essenciais.
- Compare preços antes da compra: utilizar plataformas online para comparação de preços, como a CliqueFarma | Afya, pode ajudar a encontrar os melhores valores.
- Compre em maior quantidade: se o medicamento tiver validade longa e for de uso contínuo, adquirir uma quantidade maior pode gerar economia.
- Aproveite descontos e programas de fidelidade: muitas farmácias oferecem benefícios para clientes cadastrados.
Entenda o cálculo do reajuste dos medicamentos
Para calcular o reajuste dos medicamentos, a Cmed considera primeiramente a inflação oficial pelo IPCA acumulado de março do ano anterior a fevereiro do ano atual. Para chegar aos três níveis de reajuste, o órgão pega o IPCA e considera os seguintes parâmetros:
- subtração de um fator de produtividade (fator X);
- acréscimo de fator de ajuste de preços relativos entre setores (fator Y);
- acréscimo de fator de ajuste com base na concorrência dentro de um mesmo setor (fator Z), que mantém, reduz ou anula o desconto no fator X.
Divulgado todos os anos por meio de nota técnica, o fator de produtividade é estabelecido com base em projeções de ganhos de produtividade da indústria farmacêutica. Se houver previsão de queda no Índice de Produtividade do Trabalho do Setor Farmacêutico, o fator X deve ser igual a zero.
O fator Y representa custos de produção não medidos pelo IPCA, como tarifas de energia, variação cambial e preços de insumos. O fator Z corresponde a concorrência e custos não capitados pelo IPCA específicos de um setor.
O percentual de reajuste de cada medicamento é calculado pegando o IPCA em 12 meses até fevereiro (5,06% em 2025), subtraindo o fator X e somando os fatores Y e Z. Caso o fator X fique em zero, o fator Z também será zero.
No fim de janeiro, a Cmed já divulgou que houve ganho de produtividade de 2,459% de 2024 para 2025. No fim de fevereiro, o órgão informou que o fator Y ficou negativo em -0,70904 e, portanto, ficará em 0 para este ano.
Usado para classificar os medicamentos em níveis 1, 2 e 3, o nível Z é definido da seguinte forma:
- Nível 1: medicamentos em mercados mais competitivos e sem desconto do Fator X;
- Nível 2: medicamentos em mercados moderadamente concentrados, com desconto de 50% do Fator X;
- Nível 3: medicamentos em mercados muito concentrados, com desconto integral do Fator X.
Fonte: Agência Brasil e CliqueFarma | Afya