Na correria do dia a dia, muitas vezes, ignoramos os sinais que nosso corpo nos envia. Nossa rotina pode facilmente fazer com que sintomas aparentemente inofensivos passem despercebidos, com uma falsa impressão de “apenas uma indisposição passageira” ou a tal famosa virose. No entanto, é preciso atenção quando se trata de saúde, especialmente quando o organismo começa a enviar sinais persistentes, como diarreias constantes, dor abdominal e fadiga.

Por trás desses sintomas aparentemente banais, podem se esconder algumas condições crônicas mais sérias, como as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), que provocam inflamação e danos no sistema digestivo e se apresentam em diferentes tipos, sendo as mais frequentes a retocolite ulcerativa (RCU) e a doença de Crohn (DC).

“Muitas vezes, é de senso comum atribuir diarreias frequentes a quadros de virose ou a uma indisposição alimentar. No entanto, quando esses sintomas persistem por mais de dois meses e estão acompanhados de outros sinais, como sangramento ou muco nas fezes e perda de peso progressiva, é fundamental buscar atendimento médico para investigar as possíveis causas”, alerta o gastroenterologista Alexandre Carlos, coordenador do Núcleo de Doença Inflamatória Intestinal da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed).

Muito além da clássica ‘dor da barriga’: conheça outros sintomas

Elas podem se manifestar de forma variada, desde casos leves com sintomas controláveis até casos graves com complicações sérias. Os sintomas intestinais clássicos são dor abdominal prolongada e diarreia persistente, sangramento e muco nas fezes, emagrecimento sem causa aparente. Outros sinais que variam de pessoa para pessoa, como fraqueza, gases, falta de apetite, febre, náuseas e vômitos.

Além da constância dos casos diagnosticados diariamente e do desafio de lidar com os resultados, os pacientes com DIIs também enfrentam sintomas debilitantes, como explica o médico, que também atua como coordenador do Centro de Diagnóstico em Gastroenterologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

“Dor abdominal, diarreia crônica e fadiga intensa, são alguns dos sintomas que interferem diretamente nas atividades diárias e no desempenho profissional. Além dos sintomas físicos, a doença pode levar a problemas psicológicos, incluindo ansiedade e depressão, devido à imprevisibilidade dos surtos e à necessidade constante de tratamento”

O médico explica que a adesão a uma dieta equilibrada e à medicações contínuas é essencial para o controle da DII, mas nem sempre é suficiente para garantir a remissão completa dos sintomas. A falta de um controle efetivo da doença pode resultar em frequentes hospitalizações e até mesmo na necessidade de cirurgias, aumentando o estresse e a carga financeira para os pacientes e suas famílias.

De diarreia à anemia, doenças oculares e até mesmo infertilidade

Mas por que é tão importante o correto tratamento e acompanhamento das DIIs?

“A doença inflamatória intestinal tende a evoluir com lesões na mucosa do trato gastrointestinal, provocando dor ou sangramento. Quando estas alterações se concentram no intestino delgado, prejudicam também a absorção dos nutrientes levando a anemia, perda de peso e desnutrição”, explica o especialista.

Segundo ele, uma característica também das DIIs é a possibilidade de manifestações extras-intestinais, afetando as articulações, causando dores e artrites, além de órgãos como pele, fígado e até mesmo causar infertilidade.

“Essas doenças podem afetar os olhos, causando inflamações oculares graves, que se não tratadas podem levar à cegueira. Também podem acometer a pele, com lesões ulceradas, que chamamos de pioderma gangrenoso, ou nódulos subcutâneos, os eritemas nodosos, ambas as condições bem dolorosas”, destaca.

Quando as DIIs comprometem o fígado, podem evoluir para cirrose hepática por colangite esclerosante primária, além de propensão a tromboses e múltiplas cirurgias intestinais, que levam a aderências e prejudicam até mesmo a fertilidade, entre inúmeras outras sequelas.

‘Tive que fazer muitas mudanças depois do diagnóstico’

Priscila Crepaldi, de 37 anos, técnica de Enfermagem, foi diagnosticada com retocolite ulcerativa grave há seis anos, logo após sua gravidez, e o impacto da condição em sua vida gerou mudanças significativas.

“Meus sintomas iniciais foram diarreia e sangramento. A descoberta do diagnóstico foi muito confusa, e passei por vários médicos até descobrir realmente o que tinha. Meu maior desafio hoje é conseguir minha remissão, mas estou quase lá”, diz ela.

Paciente do médico Alexandre Carlos, a técnica em enfermagem explica o impacto da doença em sua vida.

“Tive que fazer muitas mudanças depois do diagnóstico, como me alimentar o mais saudável possível, e levar uma vida tranquila. Fico um pouco triste porque às vezes não consigo ter vida social quando estou em crise. Passei por várias internações, fiquei abalada emocionalmente, e faço uso de ansiolítico. Mas hoje posso dizer que estou bem melhor”, finaliza a paciente.

Tratamento inclui apoio psicológico e orientação nutricional

A necessidade de ajustes frequentes no estilo de vida e a possibilidade de episódios de urgência para ir ao banheiro podem limitar as interações sociais e as atividades de lazer, contribuindo para o isolamento social e a diminuição da qualidade de vida.

“Apesar dos desafios, avanços na pesquisa e no tratamento da DII têm oferecido esperança aos pacientes. Terapias biológicas e novos medicamentos estão em desenvolvimento e têm mostrado resultados promissores na redução dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes”, completa o médico.

Alexandre explica também que é fundamental que os pacientes com DII recebam um suporte abrangente, que inclua não apenas o tratamento médico, mas também apoio psicológico e orientação nutricional. Por isso, a conscientização sobre a doença e a criação de redes de apoio são essenciais para ajudar os pacientes a lidar com os desafios diários impostos pela DII.

A Doença Inflamatória Intestinal (DII), que abrange patologias como a Doença de Crohn e a Colite Ulcerativa, tem se mostrado um desafio para a qualidade de vida dos pacientes. Um diagnóstico precoce e um tratamento preciso são essenciais para melhorar a rotina daqueles que vivem com a condição. Mas se a DII não for tratada adequadamente, o impacto pode ser significativamente negativo.

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Alimentação, poluição e fatores genéticos

Alexandre Carlos alerta para a importância de investigar sintomas persistentes. O diagnóstico precoce é essencial para garantir um tratamento adequado e reduzir o risco de complicações graves, promovendo a qualidade de vida do paciente. O tratamento não adequado pode levar a complicações como inflamação intestinal, fibrose, formação de fístulas e até mesmo infertilidade em alguns casos.

“Ao primeiro sinal de sintomas persistentes, como diarreias frequentes, é fundamental buscar orientação médica para investigar as possíveis causas e receber o tratamento adequado. Quem estiver desconfiando da doença precisa buscar especialistas e realizar exames apropriados para um diagnóstico preciso”, recomenda o gastroenterologista.

O tratamento adequado é fundamental, pois a doença não possui cura e requer cuidados contínuos ao longo da vida. “Ter essa conscientização é essencial para aprimorar o diagnóstico precoce e, consequentemente, poder usufruir de um tratamento mais eficaz”, diz o gastroenterologista especializado em questões relacionadas ao sistema digestivo

Desvendando mitos e verdades sobre as DIIs

Durante o mês de conscientização das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), também conhecido como ‘Maio Roxo’, fornecer informações sobre mitos e verdades relacionados a essas condições é fundamental para evitar que subestimemos a gravidade do assunto.

Alexandre Carlos compartilhou insights essenciais para a compreensão e tratamento dessas doenças. Com uma carreira dedicada ao estudo e cuidado do sistema digestivo, ele esclarece que ainda existem muitas concepções equivocadas sobre essas doenças:

“A falta de conhecimento, o tabu e até mesmo o preconceito em torno do diagnóstico dificultam a compreensão adequada e o manejo correto por parte dos pacientes e dos profissionais de saúde, dificultando a descoberta e o tratamento eficaz”, explica o médico.

Para desmistificar essas concepções e informar as pessoas de forma mais consciente, o Dr. Alexandre trouxe mitos e verdades sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais visando quebrar estigmas e fornecer uma compreensão precisa dessa condição:

Mito: As DIIs são problemas digestivos simples.

Verdade: As DIIs são condições complexas que podem afetar todo o corpo. Embora os sintomas primários estejam relacionados ao sistema digestivo, como dor abdominal, diarreia e sangramento retal, as DIIs também podem causar complicações em outros órgãos, como articulações, pele, olhos e fígado.

Mito: As DIIs são causadas apenas por má alimentação.

Verdade: A alimentação pode influenciar os sintomas, mas não é a única causa das DIIs. Fatores genéticos, imunológicos e ambientais desempenham um papel significativo no desenvolvimento das DIIs. Embora uma dieta saudável possa ajudar a controlar os sintomas, não é a causa direta dessas doenças.

Mito: As DIIs são problemas somente de pessoas mais velhas.

Verdade: As DIIs podem afetar pessoas de qualquer idade, incluindo crianças e jovens adultos. Embora seja mais comum o diagnóstico em adultos jovens, as DIIs não têm restrições de idade e podem ocorrer em qualquer momento da vida.

Mito: As DIIs são curáveis.

Verdade: As DIIs são condições crônicas, mas podem ser controladas com tratamento adequado. Atualmente, não existe cura definitiva para as DIIs, mas existem diversas opções de tratamento, como medicamentos, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, cirurgias, que podem controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Mito: Todas as pessoas com DIIs têm os mesmos sintomas e experiências.

Verdade: As DIIs variam muito de pessoa para pessoa em termos de sintomas, gravidade e resposta ao tratamento. Cada paciente pode apresentar uma combinação única de sintomas e pode responder de maneira diferente às terapias disponíveis. Portanto, é fundamental um acompanhamento médico personalizado.

“É importante destacar que a educação e o entendimento correto das DIIs são essenciais para um manejo eficaz e uma melhor qualidade de vida para os pacientes. Consultar um gastroenterologista e seguir um plano de tratamento individualizado são passos fundamentais para lidar com essas condições de forma mais adequada”, finaliza o médico.

Com Assessorias

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