Nessa época do ano, muito se fala sobre o papel do homem na criação dos filhos, ou ainda sobre a movimentação do comércio em torno do Dia dos Pais. No entanto, um tema importante merece atenção e vem sendo cada vez mais abordado nos consultórios médicos: a infertilidade masculina, que pode estar presente em 30% a 40% dos casos de dificuldades para ter filhos em uma relação conjugal tradicional (homens e mulheres).

Ao contrário do que muita gente imagina, a infertilidade não é um problema que pode ser atribuído exclusivamente à mulher. Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), as causas da infertilidade podem ser igualmente femininas ou masculinas: cerca de 35% dos casos são relacionados à mulher, 35% são relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% permanecem desconhecidos.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a infertilidade afeta uma em cada seis pessoas no mundo. Estima-se que cerca de 30 milhões de homens no mundo vivem com o problema e, na América do Sul, cerca de 52% dos casos de infertilidade estão associados a causas masculinas.

“Na realidade, 50% dos casos de infertilidade compreendem a infertilidade masculina, seja de forma exclusiva (30%) ou associada a um fator feminino (20%)”, explica Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo, e sócio-fundador do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana.

Segundo o urologista Carlos Evaristo Metello, aproximadamente 15% dos casais apresentam dificuldades ligadas ao desejo de serem pais, de forma biológica. “As causas estão relacionadas em 30 a 35% dos casos ao homem, exclusivamente, 65 a 70% unicamente às mulheres e 30% ao homem e à mulher conjuntamente. O acompanhamento médico deve ser realizado para ambos os sexos”, destaca.

infertilidade e problemas como aborto de repetição devem sempre ser investigados tanto na mulher quanto no homem. Isso por que existem alterações nos espermatozoides que podem predispor a esses problemas, conforme explica Rodrigo Rosa.

“A fragmentação do DNA espermático é uma das causas da infertilidade masculina, com os espermatozóides tendo alterações e liberando fragmentos de seu DNA no sêmen. O problema costuma ocorrer em alguns espermatozóides, enquanto outros permanecem saudáveis. Quando exames revelam grande quantidade de fragmentos, no entanto, a chance de gravidez natural diminui”, diz o médico. “Além de doenças, os maus hábitos de vida também podem ter relação com essa condição”, acrescenta.

Segundo o especialista, nesses casos, os espermatozóides tornam- se incapazes de fertilizar o óvulo adequadamente e quando a fertilização ocorre, o problema pode gerar embriões com atraso de desenvolvimento, falhas na sua implantação no útero e até aborto precoce. “A varicocele, que é a dilatação e varizes das veias da bolsa testicular, é uma das causas da fragmentação, mas hábitos de vida não-saudáveis também estão relacionados ao problema”, explica o médico.

Hábitos saudáveis e fatores ambientais influenciam

Não só fatores genéticos, mas também hábitos saudáveis estão diretamente associados às escolhas do homem durante a vida e, quando falamos da saúde não é diferente. Diabetes e obesidade, por exemplo, são fatores que interferem na fertilidade, assim como o consumo de alimentos ultra processados, tabagismo e situações de trauma e estresse.

“O tabagismo, a má alimentação e a obesidade podem levar ao acúmulo de radicais livres de oxigênio no corpo e consequentemente nos espermatozóides, prejudicando a função destes pela fragmentação do DNA do espermatozoide’, afirma Rodrigo Rosa.

Fatores externos, como uso de medicações e de drogas também podem ser citados como exemplos. Outro fator relevante parece ser a exposição masculina a produtos tóxicos e farmacêuticos, armas químicas e radiações ionizantes podem impactar no desenvolvimento fetal. Pesquisas recentes apontam ainda o possível papel do aquecimento global na redução da fertilidade no homem.

“As evidências revelam que a vida humana próxima de limites térmicos críticos tem efeitos diversos sobre vários aspectos da saúde reprodutiva e aparentemente o estresse por calor e inalação de fumaça podem, por sua vez, afetar negativamente óvulos e espermatozoides e até comprometer o funcionamento da placenta, por exemplo”, afirma Márcia Mendonça Carneiro, professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – veja o artigo completo abaixo.

Em casos que envolvem hábitos de vida, a mudança de comportamento pode sanar o problema, com os espermatozóides não apresentando mais fragmentação após um tempo. “Já nos casos que envolvem doenças ou idade avançada, o problema pode ser irreversível”, diz Dr Rodrigo.

Diferenças entre infertilidade x esterilidade

Segundo Carlos Evaristo Metello, urologista e professor do curso de Medicina da Unic, tanto os homens quanto as mulheres ficam mais expostos a agentes que deterioram a saúde, inclusive da espermatogênese, como é chamada o processo de formação do espermatozoide.

“Vale ressaltar que muitas pessoas confundem infertilidade com esterilidade. Esses dois diagnósticos de fato interferem no sonho de gerar um filho biológico, mas são diferentes entre si”, enfatiza o médico que detalha cada um dos casos a seguir.

A diferença de infertilidade e esterilidade é que, no primeiro caso, o quadro pode ser revertido, já no segundo, não é possível. A infertilidade é diagnosticada após o casal manter tentativas para engravidar por um ano, sendo muitas vezes passível de tratamento. Já o conceito de esterilidade diz respeito às chances inexistentes ou irreversíveis de concepção.

Causas atribuídas a problemas no sistema reprodutor

Segundo a Associação Brasileira de Urologia (SBU), existe uma lista de doenças e condições que podem causar a infertilidade do homem. Entre elas, estão condições anatômicas dos testículos, inflamações ou infecções, doenças sexualmente transmissíveis como gonorreia e HIV e história prévia de trauma testicular.

Em geral, as causas de infertilidade podem ser atribuídas a problemas no sistema reprodutor. Nos homens os casos frequentes são ligados à deficiência na produção espermatozoides, por exemplo, por fatores internos, como varicocele ou externos. Alterações hormonais, diabetes e cirurgias no aparelho urinário também podem obstruir os canais e afetar o transporte dos espermatozoides até o sêmen.

Já as mulheres podem apresentar patologias como endometriose ou malformações congênitas, como fatores internos.  Se encaixa no diagnóstico de infertilidade também, métodos contraceptivos definitivos, como a vasectomia (masculino) e a laqueadura (feminino).

“Essas são situações optadas pelo casal e precisam ser pensadas, avaliando as condições de possível reversão. Digo isso pois, nesses casos, há uma chance de reversão se o procedimento foi realizado no período máximo de dez anos. Não há garantia de sucesso, mas a possibilidade aumenta de acordo com o menor intervalo entre o método definitivo e o procedimento para sua reversão”, conclui Carlos Evaristo.

Varicocele: uma das causas de infertilidade

Vários outros fatores desencadeiam a infertilidade masculina, entre eles: infecções do sistema urinário; causas genéticas, hormonais ou relacionadas à obesidade e ao uso de medicamentos, além da varicocele, caracterizada por varizes no cordão espermático e com tratamento cirúrgico.

“A varicocele é a maior causa de infertilidade no homem. Além disso, é preciso avaliar a idade, criptorquidia, infecções, DSTs e exposição a medicamentos”, detalha.

O especialista explica que no caso específico de varicocele, há a possibilidade de a pessoa já nascer com a tendência de desenvolver a doença desde o início da puberdade, o que descarta métodos de prevenção comuns. Dessa forma, todo menino que entra nesta fase é aconselhado a passar com um urologista para estudar se há alguma alteração em bolsa escrotal.

Azoospermia: como tratar a falta de espermatozoides?

Uma das causas mais comuns da infertilidade masculina é a azoospermia, isto é, a ausência de espermatozoides na ejaculação. “O problema é que muitos homens demoram para buscar um especialista por ainda pensarem que a infertilidade é um problema exclusivamente feminino ou por acreditarem que a condição interfere em sua masculinidade e virilidade”, afirma Dr Rodrigo Rosa.

Mas, com ajuda das técnicas de reprodução assistida, é perfeitamente possível que homens com azoospermia realizem o sonho de se tornarem pais, principalmente porque, em 30% dos casos, os espermatozoides, apesar de não estarem presentes na ejaculação, podem ser encontrados diretamente nos testículos ou epidídimos.

“O tratamento varia de acordo com o tipo da doença. Em casos de azoospermia obstrutiva, pode ser realizada uma punção dos testículos para coleta dos espermatozoides diretamente do epidídimo através de uma agulha fina. Em seguida, os espermatozoides são utilizados para a Fertilização In Vitro (FIV)”, explica o médico.

Já nos casos de azoospermia não obstrutiva, são realizados exames para verificar a chance de obter espermatozoides durante um procedimento conhecido como micro-TESE, ou microdissecção testicular, que consiste em uma cirurgia realizada por meio de um microscópio cirúrgico para abrir os testículos e capturar os espermatozoides para serem utilizados na FIV.

“Caso não sejam encontrados espermatozoides nos testículos, a FIV ainda pode ser realizada com sêmen de um doador”, finaliza o médico.

Antidepressivo pode gerar impacto na fertilidade masculina

O professor Anthony, orientador da pesquisa, com as médicas Francis, Carolina e Isabele, envolvidas no estudo (Foto: Homéro Ferreira)

Outras medicações também diminuem a fertilidade, entre elas, alguns antibióticos, anti-hipertensivos e antidepressivos. Em muitos casos, os efeitos negativos destas substâncias são reversíveis com a suspensão do uso. No último dia 4, a Unioeste apresentou um estudo de revisão literária sobre nove pesquisas que relacionam medicação antidepressiva e infertilidade masculina, com o uso de venlafaxina.

Pesquisas com modelo experimental em ratos, que têm diversas similaridades com os humanos, mostram que o medicamento prejudica a espermatogênese, os níveis hormonais, o material genético, a histoarquitetura, a funcionalidade do aparelho reprodutivo e o controle do estresse oxidativo.

Para a médica psiquiatra Carolina Galante Silva, há necessidade de uma “abordagem sincera e técnica do profissional de saúde para com o seu paciente em idade reprodutiva, com o objetivo de esclarecer sobre os riscos e benefícios que o uso da venlafaxina pode causar”.  Ela leva em conta a escassez de dados mais robustos na literatura que buscou em 84 estudos pelo mundo, dos quais selecionou nove que atendiam à proposta de sua pesquisa.

Outro aspecto das conclusões está relacionado ao fato de que “a retomada de fertilidade e estratégias terapêuticas para reversão ou amenização dos efeitos ainda não é eficiente ou comprovada, isso porque os estudos experimentais ainda carecem de padronização e validação de um modelo adequado in vivo a fim de elucidar os mecanismos e desfechos dessa abordagem terapêutica”, pontua a dissertação levada à defesa pública no último dia 4.

A realização da pesquisa foi motivada pelo aumento de 25% dos casos de ansiedade e depressão que aumentou com a pandemia do coronavírus, conforme estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS). O trabalho foi orientado por Anthony Cesar de Souza Castilho, professor pesquisador e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, pelo qual a Unoeste oferta mestrado e doutorado. A avaliação foi feita por pesquisadoras interna e externa, que aprovaram a dissertação.

Coronavírus e remédios para câncer também podem afetar a fertilidade

Estudos iniciais apontam que o coronavírus também pode afetar o sistema urinário e reprodutivo masculino. Isso acontece porque a enzima receptora do vírus (ACE2), presente nos pulmões e rins, também está presente em grande quantidade nos testículos.

“Porém, a SBRA lembra que, por ser uma doença nova, seus efeitos e a duração deles ainda estão sendo estudados”, ressalta Dorodina Correia, médica especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Humana, membro da AMCR (Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil).

Outra causa são medicamentos contra o câncer, que podem ter como efeito colateral a menor produção de espermatozoides. “Estima-se que ela volte ao normal passados cinco anos de tratamentos como quimioterapia, radioterapia e cirurgias”.

Por parte da mulher, a fertilidade natural tende a decrescer com o tempo, iniciando a queda por volta dos 35 anos. Além da idade, as causas mais comuns da infertilidade feminina são endometriose, infecção pélvica, síndrome dos ovários policísticos, bem como estilo de vida.

“É muito importante que o casal converse abertamente e busque ajuda médica para solucionar a infertilidade, uma vez que esse é um tema muito desgastante na vida conjugal. Com apoio especializado, as chances de um casal engravidar aumentam significativamente”, conclui Dra. Dorodina.

Quando o casal pode ser considerado infértil?

Segundo a especialista da AMCR (Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil), depois de um ano de tentativas frustradas de gestação, um casal já pode ser considerado infértil.

“Quando isso ocorre, tanto o homem quanto a mulher precisam recorrer aos médicos para investigar as causas. É importante reforçar que tanto o homem quanto a mulher devem ser avaliados por seus respectivos médicos – urologista e ginecologista”, dia Dra Dorodina Correia.

A médica lembra que a infertilidade é um assunto sempre permeado de muitos tabus, principalmente envolvendo confusões em torno de masculinidade e potência sexual. Ela ressalta que são temas absolutamente diferentes: um homem pode ter ambos, e ainda assim ser infértil.

Como identificar a infertilidade?

Aceitar que há algo incomum na reprodução não é uma tarefa fácil; identificar quando é hora de procurar um especialista muito menos. “Habitualmente considera-se um casal infértil depois de um ano de relações sexuais sem método contraceptivo. É o tempo necessário para investigação e avaliação individual, considerando os fatores desencadeadores já mencionados”, completa Dr Carlos Evaristo.

Casos de pacientes que passaram por radioterapia e/ou quimioterapia; ou por procedimento cirúrgico nos testículos, devem ser alertados sempre em que há o desejo de ser pai e que pode ocorrer um quadro de infertilidade.

Como principal ferramenta de identificação, o exame laboratorial realizado para avaliar o grau de fertilidade é o espermograma que analisa características gerais da amostra, como aspecto, cor, viscosidade, volume e pH, bem como a concentração, morfologia e motilidade dos espermatozoides.

Quando o espermograma vem alterado, mostrando aí tratar-se de um paciente infértil, então são solicitados pelo médico outros exames, como cariotipagem, exames genéticos, além de ultrassom da bolsa escrotal e perfil hormonal.

De acordo com o Dr. Rodrigo Rosa, o exame que detecta a fragmentação do DNA espermático é um complemento do espermograma e deve ser realizado quando o casal apresenta dificuldades para engravidar, abortos precoces de repetição e também como nos casos de baixa taxa de fertilização e falhas de implantação após tratamentos de fertilização in vitro.

“O exame é realizado com uma amostra de sêmen, colhida através da masturbação. Para um diagnóstico preciso, o paciente deve manter abstinência sexual de 2 a 7 dias antes do procedimento. A amostra coletada analisa: volume de sêmen; viscosidade do líquido; motilidade e vitalidade dos espermatozoides; e presença de fragmentos de DNA e sua quantidade. Com o exame, ainda é possível contabilizar a porcentagem de espermatozoides que sofreram a fragmentação e analisar as possíveis causas do problema. Com o diagnóstico, é possível avaliar qual o melhor tratamento para que o homem consiga retomar sua fertilidade”, finaliza o médico.

Como prevenir e tratar a infertilidade entre os homens?

A busca por tratamento na esperança da concepção tem aumentado nos últimos anos, pois os casais têm manifestado o desejo de encarar a maternidade quando em idades cada vez mais avançadas. Como forma de avaliar causas de infertilidade e assim preveni-la, é recomendável acompanhamento médico regular, evitar tabagismo, bebida alcoólica e carne vermelha em excesso.

“Em casos de doenças do trato urinário, é imprescindível que o tratamento seja realizado o mais rápido possível, pois ele pode diminuir a possiblidade de dano ou lesão no testículo”, afirma o urologista Carlos Evaristo Metello.

Quando identificada a doença, o método de tratamento é determinado de acordo com a causa. “A linha de tratamento é definida seguindo o ponto de partida que é a causa da doença. Se há indícios de infecção, trata-se primeiramente. Para cada origem, há um caminho a seguir visando o bem-estar do paciente, em busca do sonho de ser pai”, salienta o médico.

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Palavra de Especialista

Paternidade no século 21: os vilões da fertilidade masculina  

Por Márcia Mendonça Carneiro*

 

No segundo domingo de agosto comemora-se o Dia dos Pais. Originalmente, o dia 16 de agosto de 1953 foi escolhido pelo publicitário Silvio Bhering para coincidir com o Dia de São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus. De lá para cá, o conceito de paternidade evoluiu assim como o conhecimento científico no campo da fertilidade masculina.

Por outro lado, as mudanças no meio ambiente aliadas à poluição, aquecimento global e aos maus hábitos da vida moderna produzem efeitos deletérios sobre a fertilidade masculina. Tal fenômeno pode ser explicado pela crescente exposição ao meio ambiente poluído, às toxinas encontradas na água, nos alimentos e no ar que respiramos associados às mudanças culturais que resultam no adiamento da formação de famílias e paternidade tardia.

Diabetes e obesidade

As questões reprodutivas masculinas vêm ganhando destaque nas publicações e congressos da área e foi tema da palestra de abertura do Congresso Europeu de Reprodução Humana em junho, realizado em Copenhagen. Dados de estudos em animais e em humanos indicam fortemente que a obesidade e as consequentes alterações metabólicas afetam as várias etapas fundamentais no processo reprodutivo, tais como a síntese de hormônios e o desenvolvimento dos espermatozoides.

A presença de diabetes, doença metabólica crônica associada à obesidade – que deve afetar 328 milhões de homens em 2040 – também tem efeitos maléficos sobre a fertilidade. Aparentemente, os distúrbios metabólicos, hormonais e inflamatórios associados à diabetes contribuem para a redução da fertilidade nesses homens.

O período que compreende os 100 dias antes da concepção até os 1000 dias seguintes é vital para definir o estado geral do futuro bebê, ressaltando a importância da saúde e da idade dos pais nesse momento. Um achado preocupante nesses estudos foi o efeito da obesidade paterna sobre o desenvolvimento do cérebro fetal assim como na programação metabólica e o comportamento do futuro indivíduo. Tal efeito seria resultado das modificações que a obesidade induziria nos espermatozoides.

A boa notícia é que a perda de peso induzida por adoção de dieta saudável foi associada a uma melhora na concentração e contagem de espermatozoides, que perdurou após um ano em homens que mantiveram a forma física.

A idade paterna é outro fator que deve ser levado em consideração. Acreditava-se que os homens mantinham sua capacidade reprodutiva até idades avançadas. Porém novas pesquisas revelam uma possível correlação direta entre idade do homem e a diminuição da qualidade do esperma e função testicular.

A paternidade tardia estaria associada à redução das taxas de gravidez e de bebês nascidos, aumento das chances de aborto espontâneo e parto prematuro, além do desenvolvimento de várias doenças como autismo, esquizofrenia e leucemia.

Os resultados dos estudos disponíveis devem ser interpretados com cautela, mas servem de alerta para estabelecer protocolos de cuidados para a saúde dos futuros papais, muitas vezes deixada de lado.

Avanços da Medicina Reprodutiva

Os avanços científicos da Medicina Reprodutiva abriram inúmeras oportunidades de paternidade não só para os casos de infertilidade masculina, mas também para casais homoafetivos, bem como para solteiros através do uso da doação de óvulos e até do útero de substituição (“barriga de aluguel”). Nesse contexto, a avaliação de profissional médico especializado é fundamental.

Fica claro que o meio ambiente e os hábitos de vida são fatores cruciais na fertilidade masculina e devem ser incluídos no planejamento de todos que pensam em construir suas famílias. Embora os avanços nas técnicas de reprodução assistida como a fertilização in vitro (“bebê de proveta”) sejam capazes de tratar eficazmente a maioria dos casos de infertilidade masculina, o cuidado com a saúde paterna, principalmente no período periconcepcional é indispensável e não pode ficar relegado a segundo plano.

A paternidade moderna responsável requer mudanças pessoais profundas que incluem adoção de estilo de vida saudável associada ao planejamento reprodutivo.

* Diretora científica da Clínica Origen, professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia Faculdade de Medicina – UFMG

Com Assessorias

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