Estudantes surdos e ouvintes aprendem juntos

Alunos surdos e ouvintes, a partir do 6º ano do Ensino Fundamental, aprendem juntos, na mesma sala de aula, com o auxílio de um intérprete de Libras

Inclusão de alunos em sala de aula é fundamental (Foto: Freepik)
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Na mesma sala de aula, alunos surdos e ouvintes aprendem juntos sobre os mesmos temas. Para auxiliar a comunicação, um intérprete de Libras e Língua Portuguesa está presente acompanhando todas as atividades em que há alunos surdos. É assim que o Colégio Rio Branco trabalha a inclusão da comunidade surda desde 2005. No dia em que se comemora o Dia Nacional de Educação do Surdo (23 de abril), é fundamental ressaltar os benefícios dessa convivência.

“Conviver, viver com o outro. Perceber que o outro difere do meu mundo. Ele pode ter outra cultura, outras necessidades, possuir sensibilidades, interesses e histórias distintas de vida. Esses são alguns dos benefícios da convivência entre alunos diferentes”, destaca Claudia Xavier, diretora da unidade Granja Vianna do Colégio Rio Branco, em Cotia (SP).

Para a educadora, “esse convívio é o prelúdio daquilo que vivenciarão futuramente na universidade, no mercado de trabalho e no mundo”. “Por isso, é tão importante que todos tenham a consciência de que, em uma sociedade heterogênea e multifacetada como a nossa, os princípios de respeito às diferenças precisam ser bem compreendidos e praticados”, acrescenta Claudia.

Os desafios da comunidade surda

São inúmeros os desafios vivenciados pelos surdos no Brasil. Entre os maiores, podemos destacar o preconceito e a falta de acessibilidade no âmbito escolar e no mercado de trabalho. Por isso, a escola tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais consciente e, principalmente, na formação de alunos preparados para construir essa sociedade.

“Devemos ser pontes e não muros. É na escola que as crianças têm o primeiro contato com os seus pares, vivenciando algo diferente da relação familiar a que estão habituadas. Nesse contexto, é fundamental que, desde muito pequenas, possam perceber que as diferenças existem mas que, em vez de nos separar, elas podem nos aproximar, possibilitando com que todos aprendamos juntos”, destaca a diretora.

Para Rubens Pessoa Gomes, intérprete de libras do Colégio, o papel da sociedade é colaborar para a desmistificação de pontos importantes, como os mitos de que surdo não fala, de que a Libras é composta por gestos universais e de que as pessoas surdas são incapazes de conquistar papéis de destaque na sociedade”, alerta

“Precisamos compartilhar verdades, como o fato de que a fala não está relacionada apenas àquilo que é produzido oralmente, que a Libras é uma língua e possui as suas próprias regras gramaticais, diferentes de outras línguas de sinais ao redor do mundo e que, em condições de equidade, os surdos podem alcançar os mesmos espaços que os ouvintes”, explica Rubens.

“Nesse modelo de escola, defendemos a ideia de equidade, possibilitando que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades de crescimento e de desenvolvimento. A inclusão proporciona visibilidade aos alunos surdos, além de possibilitar que demonstrem as suas potencialidades”, explica Rubens.

“Acessibilidade é um direito e não um favor. E os materiais audiovisuais necessitam da janela em Libras e da legenda em Língua Portuguesa. Essas são bandeiras que precisamos levantar”, complementa o intérprete.

Educação para surdos e libras para ouvintes

educação do aluno surdo ocorre no Colégio Rio Branco desde a Educação Infantil, começando no Centro de Educação para Surdos Rio Branco (CES), referência nacional e internacional em educação bilíngue para crianças surdas desde 1977, e atende alunos até o 5º ano das séries iniciais do Ensino Fundamental.

Depois disso, a partir do 6º ano dos anos finais do Ensino Fundamental, os surdos passam a frequentar as aulas regulares no Colégio Rio Branco, tendo um intérprete de Libras em todas as aulas para apoiar o aprendizado.

Há ainda a possibilidade do aprendizado de uma nova língua. Alunos ouvintes têm a oportunidade de aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras), oferecida por meio de cursos livres, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. E os surdos aprimoram a escrita em Língua Portuguesa que está na matriz curricular deles como segunda língua escrita.

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Unifesp teve a primeira defesa de dissertação de mestrado em Libras

Além do estudante, 3 dos 4 docentes da banca são surdos e comunicação foi feita de modo bilíngue (Libras e Português)

Pela primeira vez na história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) uma dissertação de mestrado foi produzida e defendida por um estudante surdo em Libras. Daniel Resende dos Santos é autor da dissertação “Associação dos Surdos de São Bernardo do Campo: sua história e a interligação com a Educação Bilíngue de Surdos”, cuja defesa foi realizada com êxito em setembro de 2023.

Estudante do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência (PPGESIA), do campus de Guarulhos, Daniel, que é graduado em Letras (Libras) pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais / IFNMG. Ele fez um agradecimento especial em seu Instagram à comunidade surda que participou e acompanhou ao vivo a sua defesa de dissertação de mestrado. A defesa foi realizada na forma bilíngue, em Libras, com tradução para o Português.

Outro fato marcante registrado foi que, dos quatro integrantes da banca examinadora, três docentes também eram surdos: Marcio Hollosi (professor do Departamento de Letras da Unifesp, campus Guarulhos), Ana Regina Campello (professora do Instituto Nacional de Educação dos Surdos / INES, do Rio de Janeiro-RJ) e Marisa Lima (professora da Universidade Federal de Uberlândia-MG / UFU).

Beatriz Cavalheiro Crittelli, única pesquisadora da banca não surda, é professora de Libras e também docente do Departamento de Letras da Unifesp. O trabalho foi coorientado por Cláudia Regina Vieira (docente do PPGESIA e professora de Libras na Universidade Federal do ABC / UFABC).

Marcio Hollosi, orientador do estudante, foi o coordenador da Câmara Técnica de Acessibilidade e Inclusão (CTAI) da Unifesp e também foi o primeiro surdo a defender tese de doutorado em um programa de pós-graduação da Unifesp, orientado por Sueli Salles Fidalgo em 19 de setembro de 2019.

A dissertação é disponibilizada de forma bilíngue (Libras e Português) no Repositório da Unifesp. O resumo do trabalho (em Libras) pode ser conferido neste link do YouTube.

Com Assessorias

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