O carioca Alex Júnior foi diagnosticado com deficiência auditiva bilateral com um ano de vida. Sofreu a violência do bullying na escola devido ao uso de aparelho auditivo e pelo seu jeito de falar. Hoje, é uma pessoa surda oralizada, que aprendeu a falar e a escrever utilizando a leitura labial. E se tornou escritor e palestrante, a partir de sua própria história de superação.
Em seu novo livro ‘Olhos que Escutam’, Alex resgata memórias difíceis da época da escola, um exemplo não apenas de resiliência, mas da luta constante contra o capacitismo e busca por maior representatividade.
“Quando eu estava na escola, eu tirava o aparelho pra poder esconder lá na sala porque eu tinha vergonha das crianças me olharem. Elas imitavam a minha voz de uma maneira que pode me humilhar, me constranger”, afirma Alex.
Apesar do bullying, o jovem escritor não guarda rancor: “Seja luz em meio às trevas; Quando você é luz nesse mundo todos que estão perto de você irão começar a brilhar!”, disse ele ao site Ensino Digital.
E foi pensando assim que, com a ajuda de sua mãe e de uma fonoaudióloga, Alex praticou exercícios para desenvolver sua fala durante 12 anos, praticando todos os dias da semana, incluindo sábados, domingos e feriados.
Em 2018, começou a compartilhar seu dia a dia nas redes sociais. Para surpresa de Alex seu o primeiro vídeo no TikTok viralizou e em dois dias ele ganhou 600 mil seguidores!
Assim, o que começou como passatempo o levou para os palcos e livrarias. Passou a ser convidado para dar palestras sobre capacitismo, representatividade, superação, resiliência e propósito. Alex seguiu sua vida sendo luz em meio às trevas.
Autor derruba mito: ‘Nem todo surdo é mudo’
A partir de sua escrita, o autor luta contra o senso comum de que todo surdo é mudo, inspirando assim, outras pessoas com deficiência e contribuindo para a construção de uma noção plural a acerca da vivência de pessoas surdas.
O livro ‘Olhos que Escutam’, com o forte e emocionante relato da vida de Alex, transporta o leitor para o mundo do silêncio, onde as palavras podem até não serem escutadas, mas são vistas e sentidas.
Garantir a inclusão de pessoas surdas deve ser um compromisso social de toda a população, que pode ser fomentado pela leitura de livros como a obra autobiográfica que narra a história de Alex e promove essa ampliação à diversidade.
Para Alex, uma das formas de avançar na conquista desses direitos é difundir a pluralidade do que é ser surdo no Brasil. Pensar em diversidade da surdez é certificar-se de que o termo “surdos” não corresponde somente a pessoas surdas que usam língua de sinais ou que possuem surdez total.
Dia Nacional de Educação de Surdos: desafio é ensino inclusivo
Celebrado em 23 de abril, o Dia Nacional de Educação de Surdos é uma oportunidade para refletir sobre a pluralidade da população surda, que ainda sofre constantes estigmatizações e preconceitos. Dentre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criados pelas Nações Unidas, está a garantia de uma educação inclusiva e equitativa de qualidade para todas as pessoas até 2030.
Segundo dados do Relatório Mundial da Audição, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 1,5 bilhão de pessoas no planeta com algum grau de surdez, ou seja, considerando todos os graus de perda auditiva (leve, moderado, severo e profundo). No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do IBGE, revelou que em 2019 havia 2,3 milhões de pessoas com algum grau de surdez.
A qualificação dos professores ainda é um desafio no Brasil. Apenas 5,5 % dos professores regentes nas escolas são capacitados com formação para lidar com estudantes que tenham alguma deficiência, apontou o painel de dados sobre educação inclusiva criado pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com Unibanco lançado no em 2022. Entre os educadores que são responsáveis pelo processo de atendimento educacional especializado (AEE), o número passa para 45%, mas não atinge a metade desses profissionais.
“Acredito que qualquer escola na época de 2000 teria a mesma dificuldade, afinal os professores não estavam preparados para receber alguém que apenas se comunicava pela leitura labial e que estava aprendendo a falar no início do seu desenvolvimento Infanto-juvenil”, disse Alex ao Uol, ao defender que as pessoas surdas tenham “liberdade para escolher” entre seguir numa escola regular ou especial.
A desinformação sobre a realidade de pessoas surdas é uma das causas de preconceitos e desigualdades contra essa parcela da população. Uma das formas de ampliar as noções de mundo dos indivíduos é por meio dos livros, que podem atuar como ferramentas importantes na sensibilização e conscientização das pessoas sobre a diversidade da surdez.
Inclusão como prática ESG
Olhos que escutam foi publicado em 2022 pela Editora Serena, o primeiro Grupo Editorial especializado em conteúdos ESG do Brasil. Fundada em 2021, a Editora Serena conta com diversos títulos dirigidos ao tema ESG, ciente da importância que uma leitura embasada sobre o assunto só tem a aprimorar as ações futuras a serem desenvolvidas para um mundo melhor e mais longevo.
O termo ESG, do inglês Environmental, Social and Governance abrange três pilares interligados: ambiental, social e governança. Atender a essa agenda é hoje um critério de responsabilidade social para as empresas e cada vez mais tem se tornado um diferencial competitivo.
No âmbito social, o tema da acessibilidade e luta contra capacitismo precisa estar no radar não só de empresas, mas de todos os indivíduos. Afinal, para além de uma questão importante no universo corporativo, a agenda ESG é essencial para a vida em sociedade de modo geral.
Ficha técnica
Título: Olhos que escutam
Autor: Alex Júnior
Editora: Serena
192 páginas
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