De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a surdez atinge 28 milhões de brasileiros. Isso representa 14% da população do país. A nível mundial, a entidade aponta que 10% da população têm alguma perda auditiva e boa parte dessas pessoas teve a audição danificada por exposição excessiva a sons. Esses números aumentam cada dia mais e a falta de cuidados é o maior responsável.
Assim como os outros órgãos, a audição também envelhece e precisa de monitoramento desde a infância até a terceira idade. Alguns hábitos garantem a longevidade de uma boa audição e, em contrapartida, outros agravam os riscos de desenvolver alguma deficiência.
Em geral as pessoas não têm o hábito, de pensar na saúde auditiva. Nós, profissionais da área, percebemos que pouquíssimos profissionais colocam avaliação da audição dentro dos exames de rotina, tanto de criança quanto de adultos e idosos”, alerta a fonoaudióloga Erica Bacchetti, da ParaOuvir.
Outro levantamento da OMS mostra que 900 milhões de pessoas em todo o mundo poderão vir a ter surdez até 2050, quase o dobro da quantidade atual. Por esse motivo, a surdez é uma das cinco prioridades da OMS para este século.
É muito importante cuidar melhor da audição porque ela é responsável por nos conectar com as pessoas. Por meio da audição a gente se comunica, a gente conversa, a gente escuta uma história marcante, ouve uma música que emociona a gente. No caso das crianças, a audição faz a gente aprender”, afirma a fonoaudióloga.
Audição precisa de cuidados especiais
Assim como qualquer outra parte do corpo humano, a audição precisa de atenção especial. Para manter a saúde do tecido auditivo em dia, são necessários cuidados básicos como não se expor a barulhos muito altos em fones de ouvido, evitar introduzir objetos e deixar cair água dentro do canal auditivo, pois isso, pode causar infecções.
O cotonete também é um vilão quando o assunto é audição. As hastes flexíveis são para limpar a orelha, como explica a fonoaudióloga. “O hábito de limpar dentro do ouvido com o cotonete pode ser um risco, principalmente porque ele pode machucar o tímpano. Ele serve para a gente passar só na parte externa do ouvido”, indica Erica.
A médica otorrinolaringologista Larissa Vilela, do Hospital Anchieta de Brasília, complementa que a limpeza deve se restringir à parte mais externa do ouvido, região conhecida como pavilhão auditivo, utilizando-se apenas uma toalha fina ou lenço de papel envolvendo o dedo.
A manipulação das regiões mais internas do conduto auditivo com as conhecidas hastes flexíveis ou com qualquer outro instrumento pode causar impactação de cerume formando as rolhas de cerume ou, até mesmo, machucar as delicadas estruturas do ouvido”, pontua.
Ela alerta que o uso incorreto das hastes flexíveis pode levar a problemas sérios, e até a surdez. “Essa limpeza de forma errada pode levar à formação de rolhas de cerume que obstruem os condutos auditivos causando perda da audição que se resolvem, somente, após a limpeza adequada com o Otorrinolaringologista”, afirma Dra Larissa.
Quando realizar a limpeza e retirada da cera com um profissional?
Larissa Vilela aponta que a necessidade de limpeza dos ouvidos é extremamente individual, variando desde pacientes com necessidade de limpeza regular a cada três ou seis meses até pacientes que não precisam fazer a limpeza dos ouvidos em consultório.
Nosso corpo já possui um mecanismo de retirada do excesso de cerume. Se não atrapalharmos com uso das hastes flexíveis, esse processo acontece de forma natural, sem necessidade intervenção do otorrinolaringologista”, acrescenta. “Mas alguns pacientes apresentam maior produção de cerume ou possuem condutos auditivos mais estreitos que dificultam esse processo e, assim, precisam de limpeza em consultório”, detalha.
Segundo a médica, em caso de quaisquer alterações auditivas como perda auditiva, sensação de ouvido tampado, zumbido, tontura, dores de ouvido, dentre outras, a pessoa deve procurar um otorrinolaringologista. Após a avaliação médica, será analisada a necessidade da solicitação de exames específicos e encaminhamento para o fonoaudiólogo.
Dia do Surdo: inclusão e respeito
Comemorado anualmente em 26 de setembro, o Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência foi escolhido para representar a luta da comunidade surda brasileira por ser a data da criação da primeira escola de surdos no Brasil. A perda de audição é um problema grave que se intensifica com a idade, 25% das pessoas de 55 à 65 anos têm problemas na audição, o número chega a quase 50% na população com mais de 70 anos.
A data foi criada com o objetivo de conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. O preconceito e a inacessibilidade pública também são dois pontos centrais a serem debatidos durante esta data, e que são responsáveis por dificultar a vida dessas pessoas.
Já no dia 30 de setembro é comemorado o Dia Internacional do Surdo. O principal objetivo desta data é promover a reflexão e o debate sobre os direitos e a luta pela inclusão das pessoas surdas na sociedade. Os surdos constituem 3,2% da população, ou seja, aproximadamente 5,8 milhões de brasileiros.
Atenção maior na terceira idade
Rita Guimarães, otorrinolaringologista e otoneurologista, explica que a surdez na terceira idade faz parte do processo degenerativo relacionado ao envelhecimento natural do indivíduo. “A partir da quinta ou sexta década de vida, a pessoa não ouve com a mesma perfeição de quando tinha 20 anos, devido à morte de algumas células auditivas. Entretanto, componentes genéticos e fatores de risco específicos como diabetes, pressão alta, tabagismo e uso excessivo de álcool podem acelerar esse processo denominado presbiacusia”, analisa.
Um dos sintomas iniciais que merece atenção surge quando o idoso sente dificuldade, por exemplo, em falar ao telefone ou tem a sensação de que não consegue compreender bem as palavras que lhe são ditas. Chamada de presbiacusia, a perda auditiva na terceira idade leva os idosos a ouvir apenas frequências menores que 2000 Hz, muito menos que 20000 Hz de limite que possuíam na infância.
O idoso ainda não tem uma forma de cura da perda auditiva, mas com o uso do aparelho auditivo ou do implante coclear – que consiste na inserção de eletrodos no ouvido interno, estimulando os neurônios que realizam a interpretação dos sons – já existem chances para melhorar a audição dos velhinhos.
Muitas pessoas demoram muito para procurar o atendimento de otorrinolaringologista, tanto pelo curso incerto da doença, quanto pelo estigma de utilizar um aparelho auditivo. Mas é extremamente importante não deixar de procurar médico, pois a presbiacusia tem prevenção e tratamento, quanto mais rápido é percebida, melhor.
Deficiência auditiva pode estar associada a problemas neurológicos
A perda de audição por conta do envelhecimento natural do corpo é completamente normal, principalmente a partir dos 40 anos de idade. A perda auditiva natural se dá pelo desgaste diário da vida do sistema auditivo, e os sintomas mais comuns são problemas para ouvir vozes suaves e dificuldades para ouvir quando existem ruídos de fundo.
A médica neurocirurgiã Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), explica que isto é comum, e a maioria das pessoas terá queda na capacidade de audição na velhice. “Mas, é preciso ficar atento a alguns sintomas que acontecem em conjunto com a perda auditiva, pois podem ser sinais de algo mais grave”, sinaliza a médica.
Um estudo recente feito na Austrália, chamado de “Hearinglossandtheriskofdementia in later life”, mostrou que o risco de demência foi 69% maior em homens idosos com dificuldade auditiva do que naqueles que tinham audição normal.
“O estudo mostra claramente que a deficiência auditiva pode acarretar outros riscos, como a demência. A diminuição dos sons que entram pelos ouvidos e chegam ao cérebro reduzem a capacidade cognitiva do indivíduo, encurtando também as atividades cerebrais, acometendo então, a demência”, explica Danielle.
Outro fator que pode ocasionar perda auditiva são os tumores cerebrais. Danielle explica que, quando a perda auditiva é percebida em apenas um dos ouvidos e vem acompanhada de outros sintomas como dores de cabeça, visão turva, tonturas e dificuldades para falar, é preciso ficar atento e procurar um médico, pois podem ser sintomas de um tumor cerebral.
“É muito importante que as pessoas entendam os sinais que o corpo apresenta e, caso algo esteja fora do comum, é preciso procurar um médico para sanar dúvidas e, se necessário, tratar o problema o quanto antes, aumentando as chances de cura”, ressalta a neurocirurgiã.
Com Assessorias