Já está mais do que provado que fumar prejudica severamente à saúde em longo prazo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta, sendo considerado um problema de saúde pública. Estudos do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que mais de 150 mil mortes poderiam ser evitadas por ano no Brasil, caso o uso do tabaco fosse eliminado. A boa notícia é que os brasileiros estão fumando cada vez menos.
O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) Global Report on Trends in Prevalence of Tobacco Smoking 2000-2025 mostra que, em todo o mundo, 27% das pessoas fumaram tabaco em 2000. Já em 2016, esse número baixou para 20%. Mesmo com a aparente redução, há 1,1 bilhão de fumantes adultos no planeta, mesmo número registrado em 2000, e se deve ao crescimento populacional, mesmo que as taxas tenham diminuído.
Ainda segundo relatório divulgado em julho pela OMS, o Brasil conseguiu reduzir em 40% o número de fumantes na última década. A pesquisa aponta que esta queda é resultado direto das ações implementadas no país, entre elas o tratamento do tabagismo, que é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a lei antifumo em locais públicos fechados e a proibição da publicidade nos meios de comunicação de massa.
Um estudo do Ministério da Saúde, divulgado em maio de 2018, aponta que o brasileiro está deixando de fumar. Segundo a pesquisa, de 2006 a 2017 o número de fumantes diminuiu de 15,7% para 10,1%. Ainda segundo a pesquisa o consumo de tabaco nas capitais brasileiras reduziu em 36%, no mesmo período.
Há uma “tendência nacional de queda constante desse hábito nocivo para a saúde no Brasil”. Entre as capitais, as com maior prevalência de fumantes são Porto Alegre, com 14,4% das pessoas, São Paulo (12,5%) e Curitiba (11,4%). O Rio de Janeiro aparece em 6º lugar, com 10% dos brasileiros.
Apesar da redução, o consumo ainda é preocupante. E mesmo quem não fuma e não tem contato com fumantes pode sofrer os danos das mais de 4.700 substâncias nocivas presentes no cigarro: é o chamado fumo de terceira mão.
O tabaco é tão nocivo que mesmo quem não fuma, mas convive com fumantes, pode sofrer as consequências desse vício: o fumo passivo já é a terceira maior causa de morte evitável no mundo, de acordo com a OMS.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há aproximadamente dois bilhões de pessoas que estão no grupo de fumantes passivos no mundo. No Brasil, estima-se que o contingente de indivíduos expostos ao problema chega a ser de 14,5 milhões – número que representa mais de 7% da população nacional.
Além do aumentado risco de câncer de pulmão, de colo de útero e de câncer de pâncreas, o grupo ainda pode sofrer derrame cerebral, colite ulcerativa, alergia alimentar, asma e pneumonia. A oncologista Mariana Laloni, do Centro Paulista de Oncologia, unidade São Paulo do Grupo Oncoclínicas, ressalta que o risco de câncer de colo de útero chega a ser 73% maior em mulheres fumantes passivas, em comparação as mulheres não tabagistas.
Quando a fumaça fica impregnada no ambiente
Outro estudo publicado na revista Pediatrics já indicava que não estar em contato com a fumaça já não é o bastante para não sofrer com os malefícios. Ele mostrou que ambientes defumados pelo tabaco também estão repletos de partículas cancerígenas, que podem permanecer por até dois meses. O fumo de terceira mão acontece porque as substâncias presentes no cigarro, quando expelidas, ficam impregnadas no ambiente. E isso não somente por algumas horas, mas por anos.
Muita gente não sabe que os resíduos do cigarro permanecem no local, mesmo depois que o cheiro vai embora. Carpetes, cortinas, móveis e roupas, caso não sejam higienizados regularmente, podem tornar-se verdadeiros depósitos desses fragmentos invisíveis”, explica o otorrinolaringologista do Hospital Cema, Leandros Sotiropoulos.
Embora ainda existam poucos estudos a respeito, principalmente por ser difícil fazer a correlação de causa e consequência em longo prazo, algumas pesquisas já mostram o quanto tais partículas são prejudiciais. Um levantamento feito pelos pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institut mostrou danos à saúde das pessoas expostas a um ambiente impregnado de tabaco.
Filhos de fumantes estão mais expostos a riscos
Dois estudos recentes ressaltam ainda mais os riscos da exposição à fumaça do cigarro. A mais recente delas, divulgada esta semana pela American Journal of Preventive Medicine, indica que filhos de fumantes têm mais risco de morrer por uma doença grave de pulmão, mesmo que nunca fumem diretamente. A pesquisa feita pela Sociedade Americana de Câncer analisou mais de 70 mil pessoas e esse foi o primeiro estudo que relaciona diretamente a exposição durante a infância a fumaça de cigarro, por dez horas ou mais, com o aumento do risco de morte por complicações pulmonares.
“O fumo de terceira mão, aquele cheiro forte que fica impregnado em almofadas, tapetes e cortinas, apenas para citar alguns exemplos, também representa riscos à saúde e evidencia o quanto o cigarro pode afetar o bem estar das pessoas que convivem em casa, no trabalho e em demais espaços coletivos com a fumaça gerada pelos fumantes ativos”, explica Mariana.
“Os fumantes devem ser conscientizados sobre os prejuízos que causam à saúde das outras pessoas também. O uso de cigarro no ambiente doméstico deve ser evitado. Nas empresas, é necessário incentivar hábitos de vida saudáveis dos funcionários e criar medidas de apoio ao fim do tabagismo. Nas áreas de lazer, bares, restaurantes e casas noturnas é importante criar estratégias para diminuir essa exposição”, alerta Leandros Sotiropoulos.
Cuidados redobrados com as crianças
Os fumantes passivos, aqueles que involuntariamente inalam o fumo dos fumantes ativos próximos, também estão sujeitos a enfrentar os danos do tabagismo. Pesquisas apontam que a fumaça que sai do cigarro contém cerca de três vezes mais nicotina e monóxido de carbono. “Estar em contato, mesmo que indiretamente, com essa fumaça pode aumentar em 30% os riscos de desenvolver câncer de pulmão. E as crianças constantemente expostas têm mais predisposição a desenvolver leucemia, linfoma e tumores cerebrais”, finaliza Laloni.
Portanto, quem tem criança em casa, então, deve redobrar os cuidados, pois elas são as que mais sofrem em decorrência desse fumo “indireto”. Como têm uma respiração mais rápida e estão em mais contato com o chão, ingerem duas vezes mais poeira que os adultos. E isso inclui as partículas do cigarro. “As crianças são as mais afetadas pelo fumo passivo, apresentando quadros de asma, bronquite, pneumonias, rinites e rinossinusites”, ressalta Sotiropoulos.
É muito difícil fazer uma limpeza que retire essas partículas do ambiente. Os produtos atuais não conseguem remover tudo que fica impregnado. Porém, algumas medidas, como trocar carpetes e lavar as paredes regularmente, podem ajudar. Mas o mais importante é que o hábito do tabagismo seja evitado a qualquer custo. Pelo bem de todos.
Animais domésticos também sofrem com fumaça
Os animais domésticos também entram na conta de afetados. Um estudo da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, mostrou que os pets apresentam altos níveis de nicotina nos pelos e podem sofrer com doenças, como câncer de pulmão, linfoma, problemas de pele e respiratórios.
Asma, bronquites, broncopneumonia, cardiopatias, tumores em parênquima pulmonar e diminuição de capacidade respiratória são alguns dos problemas de saúde que os animais de estimação podem desenvolver uma vez que convivam com tutores tabagistas. Segundo Jorge Morais, veterinário e fundador da rede Animal Place, os pets são considerados fumantes passivos. “É importante que o tutor evite fumar no mesmo ambiente onde o pet costuma ficar e que o leve em uma clínica para fazer check-ups semestralmente”, explica o profissional.
Como as substâncias tóxicas agem no organismo
A médica pneumologista Géssica Gomes, do Instituto Brasiliense de Otorrinolaringologia (Iborl), destaca que podemos encontrar mais de 4,7 mil substâncias tóxicas e cancerígenas no cigarro, como o alcatrão e a nicotina. Ela alerta que esses elementos são encontrados na fumaça e que esta pode causar problemas sérios, como câncer e outras doenças, tanto em quem fuma quanto quem fica próximo a essas pessoas, os famosos fumantes passivos.
A nicotina age como estimulante do sistema nervoso central. No momento em que a pessoa começa a inalar a fumaça: a pressão sanguínea e a frequência cardíaca se elevam, diminui o apetite e desencadeia náusea e vômito. Já o alcatrão, que é formado por várias substâncias, está ligado a doenças cardiovasculares, câncer, entre outras”, explica a médica.
De acordo com a Dra Géssica, a nicotina causa dependência similar à provocada pela cocaína e aumenta a prevalência do diagnóstico de câncer, principalmente o de pulmão, que é o terceiro tipo de tumor maligno mais frequente. Ficando atrás apenas dos cânceres de mama e próstata, porém, é o com maior taxa de mortalidade. O Inca alerta para o dado mais alarmante: 90% das pessoas que desenvolvem o câncer de pulmão são fumantes.
Muito além do câncer de pulmão
Existem muitos estudos mostrando que o cigarro está associado a vários tipos de câncer, doenças respiratórias, cardiovasculares, catarata, entre outras. Além do câncer de pulmão, o tabaco está relacionado a outros 20 tipos de câncer, como o de boca, laringe, faringe, esôfago. Segundo o Inca, até o final de 2019 serão registrados 31.270 novos casos de câncer de traqueia, brônquio e pulmão, em decorrência do tabagismo.
O hábito também causa doenças cardiovasculares. Ele pode causar ainda: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), infarto do miocárdio, derrame, impotência sexual no homem, infertilidade da mulher, hipertensão e diabetes. Lembrando que os bebês de mães fumantes podem nascer prematuros ou apresentarem baixo peso ao nascer.
Para o pneumologista Elie Fiss, do Alta Excelência Diagnóstica – laboratório da Dasa –, nunca é demais reforçar as informações sobre os males que o tabagismo traz para a saúde e, principalmente, motivar os fumantes a deixar o vício.
“O tabaco é responsável por questões sérias como infertilidade, impotência sexual, derrame cerebral, enfisema, bronquite crônica e doenças cardiovasculares. Bebês de mães fumantes podem nascer prematuramente ou apresentar baixo peso após o nascimento. Além disso, os chamados fumantes passivos também possuem risco aumentado de desenvolver câncer de pulmão e doenças cardiovasculares e respiratórias, como asma e pneumonia”, afirma Fiss.
Da Redação, com Assessorias