É muito comum, quando pensamos em vacinação, associarmos o ato de vacinar somente às crianças – a rotina de imunização dos pequenos é intensa e segue rigorosa até o último imunizante do calendário infantil, que ocorre entre os 9 e 14 anos (vacina contra HPV). Passada essa fase, a cobertura vacinal despenca, como se o ciclo se encerrasse e não houvesse mais a necessidade de se proteger.
Mas essa é uma ideia equivocada: jovens e adultos também possuem um calendário vacinal previsto no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e precisam manter a sua caderneta em dia. Manter a vacinação em dia, desde o nascimento até a fase adulta, é um dos melhores métodos para evitar doenças e infecções, fazendo com que o sistema imunológico reaja e produza anticorpos, protegendo o corpo contra doenças infecciosas.
Atualmente, o Ministério da Saúde oferta gratuitamente mais de 40 tipos de imunobiológicos no Sistema Único de Saúde (SUS), que protegem contra doenças para todos os públicos, desde recém-nascidos até a terceira idade. Apesar de as vacinas estarem disponíveis na rede pública de saúde, muitos adultos não se vacinam.
Talvez os adultos não procurem a vacinação porque têm a sensação de que já tomaram todas as vacinas na infância e, por isso, acham que estão fortes e protegidos e não precisam se preocupar mais. Também pode ser que se desconheça a existência de um calendário vacinal para adultos ou ainda que se acredite em notícias falsas divulgadas pelas redes sociais sobre as vacinas, especialmente nos últimos anos. Talvez não haja apenas um ponto crítico, e sim uma conjunção de fatores”, avalia a infectologista Emy Akiyama Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein.
A importância de atualizar a caderneta de vacinação
PN1 possui recomendações específicas para diferentes faixas etárias, mas muitos desconhecem a necessidade de tomar as doses de reforço
O Dia Mundial da Imunização, celebrado em 9 de junho, é dedicado a conscientizar a população sobre a importância das vacinas, e valorizar essa intervenção de saúde que salva milhões de vidas anualmente, auxiliando na disseminação sobre a importância das vacinas para a saúde individual e coletiva.
A data lembra a necessidade de manter o calendário atualizado, reduzindo a probabilidade de contrair doenças como poliomielite, rubéola, caxumba, sarampo, tétano, Covid-19 e gripe.
Também faz referência à importância da vacinação em todas as etapas da vida, além de reforçar o benefício para a saúde coletiva. No Calendário Nacional de Vacinação, não só crianças, mas também adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas são contemplados com as doses.
De acordo com especialistas ouvidos pela Agência Einstein, o adulto com a caderneta desatualizada pode desenvolver formas mais agressivas de doenças preveníveis por vacinas e, além disso, se tornar um vetor de transmissão, podendo colocar em risco pessoas ao seu redor, inclusive as crianças.
Quais são as vacinas indicadas para os adultos?
O calendário nacional de vacinação de adultos inclui a recomendação de vacinas contra hepatite B (são três doses, de acordo com o histórico vacinal da pessoa), dupla de difteria e tétano (com reforço a cada dez anos ou a cada cinco em caso de ferimentos graves) e febre amarela (dose única) para adultos de qualquer idade. A vacina contra o HPV na rede pública é indicada para adultos com até 45 anos vítimas de abuso sexual, mas há a opção para todas as idades na rede particular.
Para os adultos entre 20 e 29 anos, o Ministério da Saúde preconiza a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola no esquema de duas doses). De 30 a 59 anos, a recomendação é repetir a tríplice viral. A partir dos 60 anos é indicada a vacina dTpa acelular (difteria, tétano e coqueluche). O governo também realiza a vacinação anual contra a gripe influenza para grupos de risco, entre eles, os idosos.
Além dessas, existem outras vacinas para adultos disponíveis na rede particular. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) possui um documento em que recomenda vários imunizantes – entre eles as vacinas pneumocócicas, contra herpes-zóster e hepatite A, por exemplo. O documento também indica a vacina contra a dengue e contra a Covid-19 e traz as informações sobre cada imunizante, e se ele está disponível no SUS ou não.
Ainda há a questão do envelhecimento, que torna o sistema imunológico mais lento e suscetível às infecções. Não é à toa que idosos com mais de 60 anos possuem um calendário próprio de vacinas e são o público-alvo em várias campanhas, como a da gripe.
Sistema imunológico também envelhece
Segundo a infectologista e gerente médica de vacinas da GSK, Lessandra Michelin, à medida que os indivíduos envelhecem, seu sistema imunológico sofre alterações contínuas, e essas mudanças, associadas ao envelhecimento, caracterizam o processo chamado de imunossenescência. Esse processo de envelhecimento do sistema imunológico contribui para um aumento no risco de infecções e de evolução para formas graves de doenças.
É importante relembrar que existem imunizantes para vacinação de adultos e idosos para prevenção de diversas doenças, nas redes pública e privada, como doença pneumocócica, coqueluche, tétano, difteria, influenza, herpes zoster, VSR, entre outras. A recomendação vacinal leva em conta, entre outros fatores, a idade e o histórico vacinal de cada indivíduo. Caso apresente uma doença crônica, é ainda mais importante conversar com seu médico sobre as vacinas que necessita realizar”.
Nova vacina contra o vírus sincicial respiratório
No começo de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o registro de uma vacina contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador de infecções do trato respiratório, especialmente a bronquiolite – uma inflamação dos brônquios que atinge muitos bebês e crianças com até 2 anos de idade. A aplicação da vacina é na mãe, durante a gestação. O uso dessa vacina também foi aprovado para a prevenção de doenças causadas pelo VSR em idoso com 60 anos ou mais – outra população de risco.
Essa é uma vacina que, quando estiver disponível, deve ser tomada. O VSR causa a infecção de vias aéreas, potencialmente graves em bebês. O que poucos sabem é que ele acomete também idosos e pode complicar aqueles com comorbidades. No Brasil, é subestimado o real impacto do VSR em idosos, já que o exame não é amplamente disponível”, explica a infectologista do Einstein.
Vacinas indicadas em situações específicas
A vacinação de adultos também é importante por outros fatores, como o lugar onde a pessoa mora, o histórico de vacinação na infância, possíveis doenças que esteja tratando e até mesmo atividades cotidianas que podem influenciar a necessidade de uma ou outra vacina.
Segundo o PNI, há doses de vacinas que devem ser reaplicadas durante a vida adulta e durante situações específicas, inclusive durante a gestação. Por exemplo: se a pessoa viajar para alguma região de risco de febre amarela, precisará estar com a vacinação em dia porque alguns países exigem o certificado de proteção contra a doença (países como Panamá, República Dominicana e Cuba, entre outros).
Se trabalhar ou mesmo visitar regiões de risco no Brasil, como a Amazônia, também precisará estar vacinada. E apesar de muita gente não saber, a vacina contra a febre amarela faz parte do PNI para adultos e, desde 2017, o Brasil adota o esquema vacinal de apenas uma dose, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Outro exemplo de indicação de vacina na idade adulta é para pessoas com doenças crônicas e transplantadas, justamente para reduzir o risco de desenvolverem formas graves de doenças infecciosas.
Pessoas em tratamento de câncer, por exemplo, também devem avaliar com seu médico a necessidade de atualização de vacinas. Isso porque o tratamento oncológico deixa a imunidade da pessoa mais baixa e, consequentemente, ela pode ter um prejuízo maior caso se contagie por alguma doença prevenível por vacinação.