O mundo convive com a aids há 42 anos, mas eliminar a transmissão do HIV e acabar com as mortes pela doença ainda são uma realidade distante. Apesar dos avanços científicos ao longo das últimas décadas, é doloroso reconhecer que a pandemia de HIV/aids ainda não acabou.

Neste 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, a AHF, centenas de organizações sociais, instituições de saúde pública e comunidades afetadas em todo o mundo pela falta de acesso prevenção, testagem e tratamento exigem dos líderes globais ações contundentes para acabar com as desigualdades que favorecem a transmissão do HIV e as mortes por aids.

De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids), até 2,5 milhões de pessoas vivem com o vírus na América Latina e no Caribe atualmente. Em 2022, o as novas infecções em adultos podem ter chegado a 130 mil e o número de mortes relacionadas à aids, a 35 mil – vidas que poderiam ter sido salvas se tivessem tido acesso a ferramentas de prevenção, informação, diagnóstico e tratamento.

“Apesar do esforço da Aids Healthcare Foundation e dezenas de organizações civis em todo o mundo, ainda não fomos capazes de decretar o fim da pandemia de HIV/aids. Restam poucos anos para atingirmos a meta de que a aids deixe de ser uma ameaça para a saúde global até 2030. As desigualdades econômicas, sociais, culturais e jurídicas devem ser abordadas com urgência, pois numa pandemia elas agravam a situação para todos”, avalia Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil.

No Brasil, o coeficiente de mortalidade por aids caiu 25,5% nos últimos dez anos, passando de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, o Ministério da Saúde registrou 10.994 óbitos tendo o HIV ou aids como causa básica, 8,5% menos do que os 12.019 óbitos registrados em 2012. Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram de aids por dia no ano passado – a maioria (61,7%) era de pessoas pretas e pardas.

“Os dados reforçam a necessidade de considerar os determinantes sociais para respostas efetivas à infecção e à doença, além de incluir populações chave e prioritárias esquecidas pelas políticas públicas nos últimos anos”, diz o novo Boletim Epidemiológico sobre HIV/aids do Ministério da Saúde.

Ainda segundo o documento, estima-se que, atualmente, 1 milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino. Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral indetectável – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero – mas o número fica em 94% entre as mulheres.

O que fazer para mudar essa realidade?

O apelo urgente aos principais líderes é para capacitar as comunidades para as seguintes ações:

Promover campanhas de informação e prevenção, sendo o preservativo o insumo mais acessível (baixo custo), eficaz (98% de eficácia para prevenir a transmissão do HIV e de mais de 10 infecções sexualmente transmissíveis) e de fácil uso.

Ampliar o acesso a testes rápidos de HIV, inclusive para organizações civis, bem como treinar o pessoal dos serviços de saúde para aplicar os testes rápidos respeitando os direitos, a identidade, a confidencialidade e expressão de gênero das pessoas.

Garantir acesso ao tratamento para todas as pessoas que vivem com HIV e que conheçam seu diagnóstico, além de assegurar a oferta de medicamentos mais modernos a preços mais acessíveis, priorizando a saúde das pessoas antes dos lucros das grandes empresas farmacêuticas.

Investir nos sistemas de saúde para manter, por meio de diversas ferramentas, os pacientes em tratamento, possibilitando que elas se tornem indetectáveis (quem vive com HIV e segue o tratamento reduz a quantidade de vírus no organismo a níveis tão baixos que a carga viral não é detectada em exames específicos, tornando-se, assim, uma pessoa incapaz de transmitir o HIV).

Promover políticas públicas para reduzir o estigma em torno do HIV, fornecendo informações objetivas e confiáveis para a comunidade, o que contribui para eliminar a rejeição e o medo em relação às pessoas que vivem com o vírus.

Reformar leis e implementar políticas e práticas para acabar com o estigma e a exclusão de pessoas que vivem com HIV, grupos mais vulneráveis e populações-chave para a cadeia de transmissão do vírus.

Conscientização e prevenção para combater a AIDS e as ISTs no Brasil

Aids é uma doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), que ataca o sistema imunológico, deixando o corpo mais vulnerável a infecções oportunistas. A doença foi identificada pela primeira vez em 1981, nos Estados Unidos. Desde então, espalhou-se por todo o mundo, causando milhões de mortes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas em 2021, aproximadamente 650 mil pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV, e 1,5 milhão adquiriram o vírus. Isso equivale a mais de 4 mil novos casos todos os dias. No final de 2021, estimava-se que cerca de 38,4 milhões de pessoas viviam com o HIV no mundo. Entre elas, 1,7 milhão são crianças com menos de 15 anos de idade. Dois terços do total (25,6 milhões) de pessoas que vivem com o HIV residem em países da África.

No Brasil, o primeiro caso de Aids foi registrado em 1982, em um homem gay de São Paulo. Atualmente, esta é a principal causa de morte entre jovens de 20 a 39 anos.  Mais de 990 mil vivem com Aids no Brasil e mais de 51 mil novos casos foram registrados até o ano passado, segundo relatório da Unaids, o programa conjunto da Organização das Nações Unidas (ONU) para coordenar uma resposta global à epidemia de HIV/AIDS.

Por isso, faz-se urgente a promoção do acesso universal à prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV, bem como a redução do estigma e discriminação relacionados ao HIV.  O Brasil atingiu apenas uma das três metas globais propostas pelo Unaids para que a Aids deixe de ser uma ameaça à saúde pública até 2030.

Até o momento, 88% dos 990 mil brasileiros vivendo com HIV no país conhecem seu diagnóstico. Desses, 83% estão em tratamento e, entre eles, 95% estão com a carga viral suprimida. A meta do Unaids é de 95% para cada uma das situações até 2025. Em 2022, o país registrou 51 mil novos casos de HIV e 13 mil mortes.

No Brasil, o tratamento para o HIV é gratuito e distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1996, e existem 22 medicamentos antirretrovirais disponíveis. A adesão ao tratamento é um dos maiores desafios da atenção às pessoas vivendo com HIV/Aids, uma vez que demanda mudanças comportamentais, dietéticas e o uso de diversos medicamentos por toda a vida.

Além da distribuição gratuita de medicamentos antirretrovirais para pessoas que vivem com HIV, o Ministério da Saúde do Brasil tem realizado diversas ações, como a realização de campanhas de conscientização sobre a AIDS e o fortalecimento da rede de atendimento e assistência às pessoas que vivem com HIV.

Embora o país ofereça tratamento gratuito para o HIV/AIDS desde 1996 e tenha um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de tratamento de AIDS do mundo, desafios como a prevenção e conscientização ainda necessitam de mais atenção para o desenvolvimento de estratégias.

“Temos avanços significativos na luta contra o HIV/AIDS e é fundamental continuar enfrentando esses desafios para reduzir a incidência do vírus e promover práticas de prevenção eficazes. A conscientização, a educação e o apoio contínuo são essenciais para superar esses desafios e avançar na resposta ao HIV e outras ISTs, principalmente em relação às populações mais jovens”, aponta Ivan Marinho, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

A mobilização se concentra nas ações do Dia Mundial de Luta contra a Aids (1o de dezembro) e do Dezembro Vermelho, campanha nacional de prevenção ao HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). “É crucial que todos os profissionais de saúde e a sociedade participem na promoção da prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV, além de conscientizar a população sobre as ISTs”, destaca.

Já as ISTs são as doenças causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos, transmitidas principalmente por meio da relação íntima sem o uso de proteção. O uso do preservativo em todas as relações é o método mais eficaz para evitar a transmissão das ISTs, do HIV/Aids e das hepatites virais B e C.

Agenda Positiva

A AHF mantém duas clínicas de atendimento gratuito com foco no diagnóstico de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis: uma em São Paulo, para o público geral (Clínica Comunitária de Saúde Sexual – Rua Pedro Américo, 52/Praça da República; de segunda a sexta, exceto feriados, das 11h30 às 18h30) e uma no Recife, para a população masculina (Clínica do Homem do Recife – Rua Osvaldo Cruz, 342/Soledade; de segunda a sexta, exceto feriados, das 13h30 às 19h30).

Neste 1º de dezembro, a AHF planejou comemorações virtuais ao vivo em seus 45 países para homenagear aqueles perderam a vida devido a causas relacionadas ao HIV e lembrar o mundo que esta pandemia não acabou. No Brasil, as atividades acontecerão em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Manaus.

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