Diferentemente de outras campanhas do calendário colorido da saúde, que trazem interesses comerciais para uso de medicamentos e/ou exames, o Agosto Dourado é considerado uma “campanha 100% raiz”, com ações que visam unicamente a promoção e incentivo da amamentação, reforçando a extrema importância para a saúde materno-infantil.

A denominação “dourado” simboliza o padrão ouro da amamentação, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a forma ideal e exclusiva para alimentar bebês, principalmente nos primeiros seis meses de vida. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) assina embaixo e aproveita o Agosto Dourado para esquentar o debate da extensão da licença maternidade para seis meses.

É o nosso principal déficit e a maior contradição que enfrentamos atualmente. Precisamos lutar para que a licença seja ampliada, permitindo que as mães possam amamentar seus filhos de forma exclusiva até essa idade”, defende a médica de família e comunidade (MFC), Júlia Morelli.

Segundo ela a ampliação da licença-maternidade para seis meses está embutida na proposta de estimular a implementação de políticas públicas que favoreçam a amamentação, um dos objetivos da campanha Agosto Dourado. Os outros são:

● Promover o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, conforme recomendado pela OMS.

● Informar e educar a população sobre os benefícios da amamentação para a saúde do bebê e da mãe.

● Apoiar as mães que enfrentam dificuldades para amamentar, oferecendo informações verdadeiras e suporte.

Desafio do Brasil na redução das desigualdades

O Brasil enfrenta muitos desafios em relação à amamentação. Pesquisas recentes demonstram que a continuidade do aleitamento materno nos primeiros meses de vida está diretamente associada à renda das famílias. Quanto maior o poder aquisitivo de uma família mais tempo o bebê é amamentado.

Já nas famílias menos favorecidas do ponto de vista financeiro, e que são praticamente invisibilizadas, os bebês se beneficiam por pouco tempo do leite materno, que é um alimento essencial para a saúde e desenvolvimento das crianças.

Na década de 1990, cerca de 30% das crianças eram amamentadas exclusivamente até o quarto mês. A PNS 2019 indica que aproximadamente 44% das crianças menores de 6 meses estavam recebendo aleitamento materno. De acordo com os dados da pesquisa, a taxa de aleitamento materno exclusivo até os 4 meses foi cerca de 54% naquele período. A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que, até 2030, esse índice atinja 70%.

Neste 2024, a campanha Agosto Dourado, do Ministério da Saúde, foca a redução das desigualdades no apoio à amamentação e na proteção dos direitos das lactantes, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Está alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vislumbra garantir a sobrevivência e o bem-estar das crianças. Um dos principais focos é o apoio às lactantes em situações de emergência, como desastres naturais, que dificultam o acesso ao apoio necessário para a amamentação.

Agenda Positiva

Pediatras esclarecem amamentação à população em evento no Rio

Para a Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro, “é fundamental e urgente promover a equidade, a inclusão e a diversidade para reduzir os índices de desigualdade no que se refere à amamentação e ajudar e proteger grupos vulneráveis”.

Para ajudar a população a entender a complexidade em torno da amamentação e explicar o que pode ser feito para mudar esse quadro tão desigual entre as famílias brasileiras, a Soperj vai ocupar os jardins do Palácio do Catete, na zona sul carioca neste sábado (24).

De acordo com os especialistas envolvidos nas atividades da Soperj e na elaboração da Semana Mundial de Amamentação (Smam), a proposta é estimular a população a entender melhor a importância do aleitamento materno para a saúde das crianças, desde o nascimento até a idade adulta, e de suas mães.

O evento “Soperj na Comunidade em Prol do Aleitamento Materno”, das 8 às 12h30, contará com roda de conversas entre mães e especialistas, atividades extras como yoga e relaxamento e participação do coral da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Nos dias 20 e 21 de agosto, a entidade promoveu também o VII Workshop de Aleitamento Materno Soperj/ II Interligas Aleitamento Materno Idomed Vista Carioca, reunindo especialistas para tratar de questões de alta relevância sobre o tema entre os profissionais da área.

Aleitamento exclusivo reduz em 14 vezes a mortalidade infantil

A Soberj ressalta que o leite materno é o alimento mais completo para a criança em seus primeiros anos de vida, sendo capaz de reduzir doenças, alergias e infecções não só na infância como na idade adulta. “O leite materno, além de sustentável, é seguro e reduz a mortalidade infantil“, diz a entidade.

O Brasil e a população brasileira foram responsáveis por colocar a amamentação materna no centro das discussões mundiais de saúde. Isso a partir de estudos do epidemiologista César Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sobre nutrição materno-infantil, iniciados nos anos 80, que comprovaram que o aleitamento exclusivo, sem água ou chás, reduz em 14 vezes o risco de morte infantil por diarreia e em 3,6 vezes por doenças respiratórias.

Em 1991, o resultado de suas pesquisas deu origem a uma política de governo no Brasil. O aleitamento exclusivo passou a ser recomendado por organismos internacionais de saúde e voltados para a infância, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e começou a ser adotado por outros países, especialmente em regiões mais pobres da África e Ásia.

O papel da Medicina de Família na luta para ampliar amamentação no Brasil

De acordo com a médica de família, o Brasil tem grande expertise em políticas públicas que incentivam a amamentação, mas ainda precisa se traduzir em realidade em todos os serviços de saúde. “O trabalho é intensificado em agosto, mas deve ser contínuo, para que essas metas se tornem ações efetivas junto às comunidades que atendemos”, completa Júlia.

Ainda segundo ela, a Medicina de Família e Comunidade tem uma atuação importante no sentido dessa orientação e cuidado. Diferentemente de outras especialidades, o médico de família acompanha a mulher durante todo o ciclo, desde a gestação, passando pelo parto e continuando o cuidado durante o puerpério e a puericultura.

Isso faz com que tenhamos uma ferramenta muito importante, que é a abordagem da amamentação dentro desse contexto de longitudinalidade, onde o foco não está em cuidar só do problema, da intercorrência, mas sim em poder trabalhar isso ao longo do tempo com aquelas pessoas”, pontua Júlia.

A especialista ressalta ainda que o médico de família não apenas cuida da mulher ou da criança isoladamente: “Temos um olhar sobre os dois, o que será bom e saudável para ambos”, complementa.

Com Assessorias

 

 

Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *