O luto é um processo natural e doloroso da vida. Apesar de ser socialmente aceito, é um período de extremo sofrimento mental. Em alguns casos, o sofrimento pode se prolongar, interferindo diretamente na vida social, profissional e emocional, comprometendo a saúde mental e, às vezes, até física. que, se não tiver um acompanhamento adequado, pode se tornar uma doença.
Especialistas em Psiquiatria alertam que quando este processo passa dos seis ou 12 meses, pode virar um transtorno chamado Síndrome do Luto Prolongado. Em geral, esse diagnóstico pode compreender cerca de 3% a 10% das pessoas que perdem um ente amado por causas naturais. Porém, a incidência aumenta quando decorre de morte violenta ou inesperada.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resposta ao luto, nos casos mais graves, persiste por um período de tempo atipicamente longo após a perda, no mínimo por mais de seis meses, superando as normas sociais, culturais ou religiosas esperadas ao contexto de cada indivíduo. Outro indicador do transtorno é quando a perturbação passa a causar prejuízos significativos na rotina de vida pessoal, familiar, social, educacional e ocupacional.
Como identificar o excesso de sofrimento
Segundo o infectologista Evaldo Stanislau, professor da Universidade São Judas e gerente de Pesquisa Acadêmica da Inspirali, toda perda gera uma tristeza e o que muda é a profundidade da dor. “No processo de luto, quando este tempo não é administrado da melhor forma possível, pode haver um grande impacto na saúde mental”, esclarece o médico.
Dr. Evaldo explica que, entre os sintomas do luto prolongado que devemos observar, destaca-se um intenso sofrimento emocional, sonolência excessiva, solidão extrema, sensação de perda de identidade, descrença, negação de tudo que remeta a perda irreversível da pessoa amada, dificuldade em retomar as relações e atividades cotidianas e sentir que a vida perdeu o sentido.
É preciso entender o quanto é sofrer demais a perda de um ente amado. Três ou mais destes sintomas já nos deve fazer suspeitar da doença. Então, é importante estarmos atentos e cuidar da pessoa acometida, levando-o, necessariamente, para uma avaliação psiquiátrica”, complementa.
Para tratar o sofrimento, o médico recomenda a psicoterapia e outras práticas não medicamentosas. “Penso que o uso de antidepressivos muitas vezes é um atalho ruim e frequentemente utilizado, mas não se mostra como medida principal”, finaliza.
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Pessoas idosas sofrem mais com o luto prolongado
A população idosa, em especial, é um grupo vulnerável e suscetível a esse tipo de luto. Com o envelhecimento interferindo na perda de saúde, autonomia e entes queridos, o sofrimento pode se intensificar e, em casos extremos, aumentar a possibilidade do luto prolongado.
A pandemia trouxe à tona questões relacionadas ao luto, com muitos idosos enfrentando perdas significativas e, em muitos casos, restrições que dificultaram os rituais de despedida. Isso pode levar a um aumento do luto complicado, que requer atenção psicológica e suporte emocional.
Antônio Leitão, especialista em gerontologia e gerente do Instituto de Longevidade MAG, comenta que o luto para os longevos ocorre dentro do contexto de mudanças nas capacidades físicas e cognitivas, redução nas conexões sociais e mudanças nos ambientes de vida.
As mudanças que vivenciamos à medida que envelhecemos não precisam ser vivenciadas como perdas, mas a morte de um parceiro, familiares e amigos podem agravar os desafios de deterioração, problemas de saúde, perda da qualidade de vida e isolamento social, comprometendo a saúde mental”, finaliza.
Psicóloga explica as perdas naturais do envelhecimento
Glaucia Tavares, psicóloga do Instituto BioParque, explica que a melhor forma de lidar com o luto relacionado às perdas que vêm com o envelhecimento é estar aberto a novos aprendizados e conhecimentos.
Como viver com vitalidade, experiência e repertório ao longo dos anos? Estando disposto a aprender, a abrir portas para o novo. Novos caminhos, novos amigos, novas lições em qualquer campo da vida. O maior Alzheimer que alguém pode desenvolver é deixar de aprender”, alerta Glaucia.
Ela acredita que os idosos que pensam não ter mais nada a aprender estão fechando as portas para si mesmos. “Nesse caso, a pessoa viverá um luto pelo que perdeu e começará a se deteriorar. O Século XXI nos oferece a oportunidade de aprender a aprender, e o fundamental é reconhecer que somos eternos aprendizes nessa jornada. Além disso, unir pessoas de diferentes idades e gerações é sempre enriquecedor, seja no relacionamento entre avós e netos ou no mercado de trabalho”, avalia.
Meditação pode ajudar a superar o luto
Segundo Gabriela Frantz, especialista em meditação e formada em terapia quântica com mais de 30 cursos voltados à área, durante esse processo, é importante entender tais sentimentos e não suprimi-los. “Saber lidar com as emoções é um desafio. Talvez um dos maiores desafios que temos que enfrentar como seres humanos”, ressalta.
A especialista reforça o papel da meditação como ferramenta para olhar para o seu interior e organizar as emoções. “Lidar com o luto não é fingir que esse sentimento não está ali, não é abafar as nossas emoções, mas sim olhar para elas com consciência e saber medir o peso que elas têm”, reforça Gabi.
Segundo Frantz, criar uma rotina de meditação para a fase de luto é uma ótima opção para enfrentar esse momento tão difícil. “A prática é uma forma de transformar as emoções negativas, geradas pela perda, em bons sentimentos, como a gratidão e a resiliência”, destaca.
Além disso, através da cultivação do amor próprio, a meditação auxilia na cura do coração, visto que muitas pessoas podem estar lidando com uma dependência emocional do que foi perdido. “É preciso acordar sua luz, não permitindo que a perda de uma pessoa querida te leve para lugares escuros, de tristeza e saudades.”
Ela reforça a importância de sentir saudades e não oprimir nenhum tipo de sentimento, mas do papel da meditação em controlá-los, para que não tomem conta de sua mente por completo. “Tem que sentir o luto, deve-se saber que vai sentir saudades, mas é importante que isso não tome grandes proporções no seu mundo interno”, reforça a especialista.
Com Assessorias