Após uma semana de calor intenso e atípico para o outono, uma frente fria que chegou ao Rio de Janeiro neste fim de semana trouxe chuvas intensas e o risco imediato de alagamentos e deslizamentos de terras em diversas regiões. O clima tropical-úmido, o relevo acidentado, as mudanças climáticas e o crescimento desordenado das cidades tornam esses episódios cada vez mais frequentes e severos.
Cada vez mais frequentes com as mudanças climáticas, as chuvas intensas que atingem diversas cidades podem gerar consequências a longo prazo. A infraestrutura urbana, muitas vezes sem um sistema de drenagem adequado, fica sobrecarregada, resultando em inundações e danos significativos. O aumento do nível dos rios e córregos também contribui para o agravamento de inundações, especialmente em áreas de risco.
Os temporais não representam apenas perdas materiais, mas também um risco significativo para a saúde pública. Além dos estragos materiais e do perigo das correntezas, a água dos alagamentos contamina do solo, se mistura ao esgoto e à lama, podendo espalhar doenças graves, como leptospirose, hepatite A e infecções gastrointestinais. O acúmulo de água em áreas alagadas favorece a reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika e chikungunya.
Infelizmente, ainda há muita poluição em rios, córregos e galerias pluviais que cortam as cidades. A urina de ratos nesses locais transmite doenças, e a presença de coliformes fecais e vírus agrava a contaminação. Quando essa água suja se mistura a agua da chuva durante as enchentes, o risco de infecções aumenta”, explica o infectologista Orlando da Conceição, do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco.
Leptospirose pode causar insuficiência renal e hemorragia pulmonar
Depois da tempestade, um perigo invisível pode surgir com a lama: a leptospirose, uma doença infecciosa que pode ser fatal se não for tratada a tempo. A doença ainda é pouco comentada, mas segue causando vítimas em diversas regiões, principalmente em períodos de fortes chuvas, por conta de contato com águas contaminadas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 3.792 casos de leptospirose em 2024, resultando em 346 óbitos.
A médica Mônica França, que atua como cardiologista e clínica geral na Klinic Saúde, no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, faz um alerta importante no vídeo de hoje: em regiões afetadas por enchentes, o contato com a água contaminada pode levar à infecção por leptospira, uma bactéria que causa a leptospirose.
Dra Mônica atua também na Baixada Fluminense, uma das regiões que sofreram com as chuvas do último final de semana, e demonstrou preocupação com esta e outras doenças que atingem a população devido às mudanças climáticas. Veja mais em nosso instagram.
A doença é transmitida pelo contato com a urina de animais infectados, especialmente ratos, e sua disseminação é favorecida pela água contaminada presente em enchentes e alagamentos. “As inundações propiciam a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente, facilitando a ocorrência da infecção. Desse modo, os casos são mais frequentes no período de calor e chuvas“, explica a infectologista Michelle Zicker.
Segundo a média, que atua na São Cristóvão Saúde, a bactéria pode penetrar o organismo por meio de lesões na pele, mucosas ou pelo contato prolongado com água contaminada. A doença pode levar a insuficiência renal e hemorragia pulmonar.
Saiba identificar os sintomas da leptospirose
Os sintomas da leptospirose podem variar de formas leves a graves, sendo divididos em duas fases: precoce e tardia. De acordo com a Dra. Michelle, os sintomas iniciais incluem:
- Febre;
- Dor de cabeça;
- Dor muscular, principalmente nas panturrilhas – “Esse sintoma, quando presente, pode levantar suspeita da doença”, destaca a especialista;
- Falta de apetite;
- Náuseas e vômitos.
Infectologistas explicam a doença e cuidados para prevenção
Aproximadamente 15% dos pacientes evoluem para quadros graves após a primeira semana da doença. Nesses casos, a leptospirose pode se manifestar como a síndrome de Weil, caracterizada por icterícia intensa, insuficiência renal e hemorragia pulmonar.
O tratamento envolve o uso de antimicrobianos, sendo mais eficaz quando iniciado na primeira semana de sintomas. Enquanto os casos leves podem ser tratados em ambulatório, os quadros graves exigem internação hospitalar. A automedicação não é recomendada, pois pode agravar o quadro clínico.
As enchentes representam um grave risco à saúde, mas medidas preventivas e atenção aos sintomas de doenças podem salvar vidas. Caso apresente qualquer sintoma suspeito, é fundamental procurar atendimento médico imediato, reforçando com o profissional que a pessoa teve contato com uma área de alagamento”, finaliza Dra. Michelle.
Outras doenças transmitidas pela água suja das enchentes são a hepatite A e as diarreias. A hepatite A, transmitida por um vírus presente em dejetos humanos, pode causar falência hepática. Já doenças diarreicas são comuns quando fezes contaminam as águas das enchentes.
Os sintomas mais frequentes dessas infecções incluem febre, diarreia, vômitos, dores musculares, cólicas, calafrios e olhos avermelhados. Em casos mais graves, pode haver hemorragia, muco nas fezes ou tosse com sangue.
Fique atento aos sintomas de doenças e procure atendimento médico ao primeiro sinal. Quem apresentar esses sinais após contato com água de enchente deve procurar atendimento médico imediatamente”, alerta o o infectologista Orlando da Conceição.
Quanto ao tratamento, a vacina contra hepatite A faz parte do calendário nacional e deve estar em dia antes da exposição ao vírus. Já para leptospirose e doenças gastrointestinais, a consulta médica é essencial para um tratamento adequado.
Outro alerta é que as poças deixadas pelas chuvas também favorecem a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue e outras arboviroses. “A população e o poder público precisam atuar no controle desses criadouros. Qualquer quantidade de água parada é suficiente para proliferação do mosquito”, reforça o infectologista do São Luiz Anália Franco.
Prevenção e cuidados em caso de enchentes
Diante do aumento dos eventos climáticos extremos, a conscientização e a adoção de medidas preventivas são essenciais para minimizar os impactos da leptospirose e garantir a saúde da população.
Como a leptospirose está associada a condições sanitárias precárias e alta infestação de roedores, a prevenção da doença passa por melhorias no saneamento e higiene. A prevenção ideal seria evitar o contato com águas de alagamento, mas nem sempre é possível. Por isso, confira alguns cuidados importantes durante e pós as enchentes:
- Beber apenas água potável (fervida, filtrada ou tratada com hipoclorito de sódio – 2 gotas de água sanitária por litro de água, aguardando 30 minutos antes de consumir).
- Evitar contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças brinquem nessas áreas;
- Lavar bem as mãos e desinfetar objetos e superfícies contaminadas;
- Usar botas e luvas de borracha ao realizar limpezas pós-enchente ou se precisar andar em áreas alagadas;
- Ferver a água para consumo ou utilizar hipoclorito de sódio antes de beber;
- Adotar medidas de controle de roedores, como o correto descarte do lixo e vedação de caixas d’água e frestas.
- Manter banheiros e fossas bem vedados para evitar a contaminação da água potável;
- Manter os alimentos armazenados corretamente e descarte os que tiveram contato com a água suja.
Outra dica importante após enchentes é limpar e desinfetar móveis e superfícies contaminadas com uma solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, na seguinte proporção: para 20 litros de água, adicionar duas xícaras de chá (400mL) de hipoclorito de sódio a 2,5%. Aplicar essa solução nos locais contaminados com lama, deixando agir por 15 minutos.
Cartilha gratuita orienta sobre limpeza e saúde pós-enchentes
Publicação gratuita traz orientações sobre como lidar com o controle de pragas
A cartilha gratuita Enfrentando Estragos Causados por Chuvas Fortes, Alagamentos e Enchentes tem como objetivo auxiliar as populações afetadas, minimizando riscos à saúde e garantindo um retorno mais seguro aos ambientes atingidos.
A publicação oferece informações essenciais e orientações práticas para limpeza e controle de pragas após enchentes, para a higienização de objetos, superfícies e ambientes, além de medidas para garantir a sanitização da água para consumo.
Ela também detalha estratégias de controle de pragas como ratos, baratas e mosquitos Aedes aegypti, transmissores de doenças como dengue, zika e chikungunya. Adicionalmente, o material informa as principais formas de contato com autoridades em situações de enchentes, facilitando o acesso a suporte emergencial.
Com linguagem clara e ilustrações didáticas, a publicação é pensada para diferentes públicos, permitindo uma compreensão simples e rápida das informações. Apesar da abordagem acessível, o conteúdo foi elaborado com base em estudos técnicos das entidades envolvidas, garantindo confiabilidade e segurança nas orientações fornecidas.
O material é produzida pela Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla), em parceria com Conselho Federal de Química (CFQ), Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag) e Sindicato das Empresas de Controle de Vetores e Pragas Urbanas (Sindprag), disponibiliza uma cartilha gratuita com .
Além disso, a Abipla reforça a importância de seguir rigorosamente as instruções dos rótulos dos produtos de limpeza, alertando sobre os riscos de misturas químicas improvisadas. Para maior segurança, recomenda-se o uso de produtos registrados e de fabricantes confiáveis, assegurando eficácia e proteção.
Com Assessorias