O boletim epidemiológico atualizado do Ministério da Saúde revelou que o número de infecções hospitalares cresceu 20% em 2024, na comparação de 12 meses com o período anterior. A informação serve como alerta para gestores e sociedade, já que no dia 15 de maio é celebrado o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares.
É importante esclarecer que a data foi instituída por intermédio da Lei 11.723/2008, com o intuito de conscientizar autoridades sanitárias, gestores hospitalares e profissionais de saúde sobre a importância da prevenção e controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).
Com esse entendimento, foi reforçado que contaminações adquiridas durante o atendimento clínico ou hospitalar significam um grave problema de saúde pública, já que podem aumentar a morbidade, mortalidade e os prejuízos das empresas de saúde pública e privada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também apresenta dados relevantes sobre o impacto das infecções diretamente ligadas à falta da higienização correta e resistência antimicrobiana na vida das pessoas. O levantamento apontou que mais de 24% dos pacientes em situação de internação em hospitais, assim como 52,3% dos indivíduos em tratamento nas UTIs (Unidade de Terapia Intensiva), morrem anualmente por infecções.
Pacientes e profissionais de saúde devem seguir normas de segurança
Considerado o Mês Nacional de Controle de Infecções Hospitalares, maio é dedicado à conscientização e prevenção das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), que envolvem atenção especial de todas as instituições relacionadas ao cuidado com a saúde.
A OMS tem apoiado várias campanhas de prevenção, tendo em vista que a mudança de hábitos começa com medidas simples, como a higienização adequada das mãos, o uso correto de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e a adesão a protocolos de limpeza e desinfecção.
Dentro dos hospitais, os maiores riscos estão nas alas cirúrgicas, em procedimentos associados à ventilação mecânica pulmonar e infecções na corrente sanguínea, pelo uso de cateteres, e urinárias, por meio do uso de sondas”, explica a médica Vera Rufeisen, infectologista do Vera Cruz Hospital.
Os casos mais graves podem gerar um maior tempo de internação, podendo, inclusive, levar a óbito. “A mais importante ação para prevenção de infecções e contaminações é a higiene das mãos, que deve ser feita preferencialmente com preparações alcoólicas 70%, ou com água e sabão em caso de sujidade aparente”, orienta a médica.
Os momentos mais importantes para a equipe assistencial são antes de tocar o paciente e de realizar procedimento limpo/asséptico, depois do risco de exposição a fluídos corporais e após tocar o paciente e/ou do contato com superfícies próximas.
Outras ações importantes são o uso criterioso de antimicrobianos, com medicamento, dose e tempo corretos, no intuito de não induzir a resistência das bactérias e de dispositivos invasivos (sondas e cateteres), que devem ser usados somente quando há absoluta necessidade e retirados o mais precocemente possível”, acrescenta a especialista.
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Nanopartículas na tinta podem inibir infecções hospitalares
Também são propensas a gerar outros benefícios ao ambiente e à saúde, ao serem aplicadas em materiais para construção civil
Envolvidos nos estudos sobre aplicação de nanopartículas para desenvolver materiais de construção civil antimicromobianos (Foto: Homéro Ferreira)
Com o aporte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), estudos desenvolvidos nos laboratórios de microbiologia, de química e de construção civil da Unoeste em integração de ambiente e tecnologia utilizam nanopartículas para desenvolver materiais de construção civil antimicromobianos.
O desenvolvimento de tintas com adição ou recobrimento de nanopartículas resulta em materiais autolimpantes. Os resultados obtidos vêm demonstrando grande potencial e eficácia dessas tintas funcionalizadas em ambientes hospitalares.
A nova tecnologia atua contra diversos patógenos/microrganismos, tais como as bactérias Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa; e o fungo Aspergillus niger.
Além de poderem ser aplicados para evitar infecções hospitalares e contaminações, os novos materiais têm utilidade na agroindústria, reduzindo a proliferação de fungos que acometem à estocagem de grãos e liberam substâncias tóxicas.
Tratamento de efluentes
A adição de nanopartículas também se destaca em outros campos, como o tratamento de efluentes, que são resíduos provenientes de indústrias, esgotos e redes de captação e escoamento de águas pluviais.
Nesse sentido, estão sendo desenvolvidas nanopartículas magnéticas para o tratamento de águas contaminadas com poluentes orgânicos por degradação fotocatalítica sob luz solar ou ultravioleta (UV).
A questão central de funcionalizar as nanopartículas com propriedades fotocatalíticas com um metal magnético é possibilitar a remoção e reutilização posterior, reduzindo a necessidade de filtros para reuso ou mesmo a perda após o tratamento.
Isso traz nova perspectiva sobre ambiente hospitalar. Para a formação médica é muito importante conseguir visualizar na prática a aplicação do desenvolvimento de novo material antimicrobiano”, pontua João Gabriel Katsumi Utimura, aluno da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (Famepp).
“Essa participação nos permite ter uma visão mais integral, um conhecimento mais completo; especialmente no internato [atuação em unidades de saúde], onde infecções são assuntos recorrentes”, comenta Nathália Toyokawa Manteiga, também da Famepp, que participa desde 2023 do grupo de estudos.
Formada em química, a aluna do mestrado em Meio Ambiente, Lays da Silva Sá Gomes, vê como grande oportunidade poder por em prática seus conhecimentos na pesquisa sobre nanopartículas magnéticas no tratamento de efluentes.
O engenheiro civil egresso da Unoeste, Vitor Peixoto Klienchen de Maria faz o doutorado em Meio Ambiente e tem seu projeto de pesquisa a aplicação de nanomartículas de óxido de zinco em argamassa e tinta para evitar bactérias e fungo.
Despertando a vocação científica
Os estudos são desenvolvidos em uma das vertentes trabalhadas pelo Grupo Ambiente e Tecnologia, liderado pela professora doutora Angela Kinoshita e que inclui bolsistas do nível PQ2, pelo CNPq. O ponto de partida foi com edital da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes), para a seleção de bolsistas.
Em 2023, foi publicado edital interno para Iniciação Científica (IC), resultando em quatro alunos que trabalham dentro do tema e oito alunos em temas afins de biomateriais com nanopartículas, também visando o estudo da atividade antimicrobiana. Além disso, conforme conta a Dra. Ângela, os estudos deram origem a duas pesquisas de mestrado e uma de doutorado.
Os alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado são de diferentes áreas. As graduações são em Medicina, Engenharia Civil e Química. A união de conhecimentos interdisciplinares tem possibilitado o aprofundamento técnico das pesquisas pertinentes em promover ambientes mais seguros para a sociedade; conforme os professores envolvidos.
Com informações do Senac, Vera Cruz Hospital e Unoeste