Ah, o Carnaval! Seguir o trio elétrico, acompanhar o ritmo da bateria, dançar, subir e descer ladeiras… Esta será a rotina de muitos foliões durante os quatro dias de festa. O Carnaval é uma prova de resistência e para curtir ao máximo é preciso estar preparado. Para não perder o gingado e ter pique para não fazer feio na avenida, é necessário se alimentar bem, manter a hidratação em dia e evitar o abuso de bebidas alcóolicas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dose padrão para consumo de bebida alcoólica é de aproximadamente 10 a 12 g de álcool puro, o equivalente a uma lata de cerveja ou chope (330 ml), uma taça de vinho (100 ml) ou uma dose de destilado (30 ml). Mas muita gente deve extrapolar – e muito – nessas doses durante o Carnaval.

Bebidas como uísque, vinho tinto, tequila e conhaque causam ressacas piores do que as do vinho branco, cerveja ou bebidas claras, como vodca ou gim. “Porém, isso não significa que cerveja ou vodca não provoquem ressaca”, alerta a endocrinologista e metabologista Paula Pires.

O consumo excessivo de álcool pode ter uma série de impactos negativos na saúde, e esses efeitos podem ser exacerbados durante a maratona de Carnaval, especialmente quando combinado com o clima quente, má alimentação e desidratação. O exagero no consumo de bebida alcoólica comum nesta época do ano tem como consequência a ressaca e disfunções alimentares.

O que acontece com o corpo na ressaca

Segundo Paula Pires, a ressaca ocorre porque para absorver e metabolizar grande quantidade de bebida alcoólica, o organismo tem de se desdobrar e acaba sobrecarregando outros órgãos no processo. O fígado sofre mais por produzir as enzimas que ajudam na absorção do álcool. Além disso, demora a entender que deve parar de trabalhar.

Assim, quando o álcool já se foi, a concentração dessas enzimas, que são muito tóxicas, ainda é alta, o que gera um desequilíbrio. O sistema nervoso, que se adequou a esse ritmo errado do corpo, acompanha a crise de abstinência. O resultado geral é dor de cabeça, desidratação, enjoo, diarreia e extremo cansaço”, detalha a médica.

“O excesso de bebida alcoólica pode sobrecarregar o fígado, e cerca de 90% do álcool ingerido são metabolizados no órgão por enzimas específicas. Esse desequilíbrio altera a microbiota intestinal, inibe a formação de vitaminas produzidas no intestino, e acaba desregulando a resposta imunológica e metabólica, provocando um estado pró-inflamatório”, explica Michael Alexandre, nutricionista e professor da pós-graduação em Nutrição Comportamental e Clínica da Faculdade Uniguaçu.

Os efeitos do álcool no corpo

O médico Leonardo Feiden, professor dos cursos de pós-graduação na Faculdade Uniguaçu, explica quais são os efeitos causados no corpo pelo consumo de bebida alcoólica e reforça a importância de consumir bebida alcoólica com responsabilidade e consciência. Ele listou os setes principais males associados ao consumo excessivo de álcool.

Saiba quais são:

Desidratação: o álcool é um diurético, o que significa que aumenta a produção de urina. Em um ambiente quente, a perda de líquidos por meio da transpiração já é significativa, e o consumo de bebida alcoólica pode levar a uma desidratação rápida. Isso pode resultar em tonturas, fadiga, dores de cabeça e, em casos mais graves, desmaios.

Problemas gastrointestinais: irritação do revestimento do trato gastrointestinal, ocasionando sintomas como: azia, indigestão, náuseas e vômitos. O consumo de alimentos inadequados, pode aumentar o desconforto gastrointestinal.

Intoxicação alcoólica: é uma condição séria que pode resultar em confusão mental, vômitos, dificuldade respiratória e, em casos extremos, coma e morte. O calor adicional do ambiente pode aumentar o risco de intoxicação.

Comprometimento cognitivo e coordenação motora: o álcool afeta o sistema nervoso central, levando a um comprometimento cognitivo, a falta de coordenação motora e reflexos mais lentos. Isso aumenta o risco de acidentes, quedas e lesões, especialmente em um ambiente festivo e movimentado como o Carnaval.

Aumento do risco de lesões: o consumo excessivo de bebida alcoólica está associado a um aumento do risco de ferimentos, como cortes, contusões e fraturas. A combinação de aglomerações de pessoas, ruas lotadas e comportamentos impulsivos pode tornar as lesões mais prováveis.

Impacto no sistema cardiovascular: o álcool em excesso pode aumentar a pressão arterial e o risco de doenças cardiovasculares.

Comprometimento do sistema imunológico: enfraquece o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a infecções. Isso pode ser especialmente preocupante durante o Carnaval, onde as condições de higiene podem ser desafiadoras.

Especialistas dão dicas para amenizar os efeitos da ressaca

Mas dá para sobreviver à maratona carnavalesca e evitar o mal-estar com alimentação, hidratação e bebidas adequadas para amenizar os efeitos da ressaca. É fundamental evitar longos períodos sem se alimentar e não beber em jejum. Uma dica valiosa é não descuidar da hidratação. O ideal é intercalar água entre a ingestão de bebida alcoólica. Para ajudar na hidratação, uma boa opção é consumir água de coco, sucos naturais e isotônicos.

“Para minimizar os riscos à saúde durante as festividades, é importante praticar o consumo moderado de álcool, manter-se bem hidratado, comer alimentos nutritivos e evitar a combinação com outras substâncias. Além disso, estar ciente dos sinais de intoxicação alcoólica e procurar ajuda médica imediatamente se necessário são medidas essenciais para garantir a segurança durante a folia”, alerta Leonardo Feiden.

E não esqueça de beber (muita) água. Segundo o especialista, o tempo e absorção do álcool depende de uma série de fatores, entre eles, a presença de comida no estômago (nunca beba em jejum), o tipo de alimento ingerido antes do consumo de bebidas alcoólicas e a velocidade com que a pessoa consumiu a bebida. Cerca de 75% do álcool é absorvido pelo intestino delgado. O restante é absorvido pela mucosa da boca, esôfago, estômago e intestino grosso.

O que comer antes, durante e depois

Para ajudar quem vai se jogar na folia, os nutricionistas da Bodytech Elaine Klein e Michael Alexandre prepararam algumas dicas de alimentos para comer antes, durante e depois da curtição e ainda como amenizar os efeitos da ressaca.

Durante a intensa sequência de blocos, é comum deixar de realizar as refeições, exagerar no consumo de bebidas alcoólicas e optar por comer alimentos vendidos nas ruas. Para poder curtir todos os dias do Carnaval, é importante seguir alguns cuidados básicos com a alimentação.

“Antes de cair na folia é importante realizar uma refeição completa, que deve incluir carboidratos, proteínas, verduras, legumes e frutas, já o consumo de leguminosas como o feijão podem favorecer o aparecimento de desconforto gástrico (gases) e deve ser evitado”, comenta Elaine Klein.

Antes

A dica para quem vai curtir os blocos no período da manhã é começar o dia com um bom café da manhã. Consumindo pães integrais, tapioca com semente de chia, suco e café sem açúcar e frutas com maior teor de água (laranja, maçã, melão, melancia, abacaxi, kiwi, uva).

Outros alimentos que são uma ótima opção para incluir na alimentação antes da folia são: pães, arroz, macarrão, aipim, inhame, ovos, queijo, frango, peixe, beterraba, cenoura, abóbora, couve, frutas (abacate, banana, uva, melancia, melão, laranja), café e chá verde gelado.

“Hidrate-se com antecedência! Dê preferência a água e sucos naturais, de 2 a 3 litros/dia; Evite frituras e alimentos ricos em gorduras; prefira carnes magras e pratique atividade física, principalmente aeróbica, para aumentar a resistência física”, recomenda Paula Pires.

Durante

É vantajoso contar sempre com alternativas de alimentos práticos que possam ser transportados facilmente em uma pochete ou bolsa a tiracolo. São bem-vindos os “nuts” oleaginosas (castanha de caju e do Pará, amêndoas, nozes, macadâmia, noz-pecã, baru, pistache, avelã), grão de bico, barrinha de proteína e frutas. Uma boa opção líquida são os isotônicos. O pão de queijo, a pipoca e o picolé de fruta podem ser opções para quem não pretende levar nada e precisa comer um lanche rápido na rua.

“Quando a sensação de fome aperta muitos foliões optam por recorrer à comida de rua. Porém, cuidado na hora de escolher a refeição. Evite alimentos gordurosos, frituras e principalmente aqueles que ficam expostos à temperatura inadequada, molhos caseiros, como a maionese e itens que precisam de refrigeração como sanduíche natural. Esses alimentos podem ter risco de contaminação e provocar até uma gastroenterite”, alerta Klein.

Paula Pires também dá suas dicas: “Hidrate-se a todo o momento! A transpiração eletrólitos – sódio, potássio, magnésio e cloro. O consumo de álcool deve ser moderado e nunca em jejum. Consuma alimentos leves e fuja das frituras. Além de alto teor de gordura, dão sensação de estômago pesado e moleza”.

Depois

No dia seguinte da bebedeira, Michael Alexandre, nutricionista e professor da Faculdade Uniguaçu, recomenda garantir o consumo de vegetais, especialmente folhas cruas, vegetais crus e frutas cítricas. A ingestão destes alimentos ajuda a aumentar o consumo de fontes de prebióticos. Inclua no seu dia pelo menos duas frutas diferentes (coma pelo menos uma com a casca) e verduras e legumes em uma das refeições (crua ou cozida no vapor).

“É importante evitar ao máximo alimentos gordurosos, como queijos e carne vermelha durante este período. Dê preferência a carboidratos de qualidade e proteínas magras. Cereais integrais como aveia, linhaça, chia (café́ da manhã e lanches), arroz integral e cevadinha (almoço/ jantar) são muito bem-vindos”, pontua o especialista.

Estou de ressaca. O que fazer?

A médica Paula Pires explica que não há nenhum remédio que a cure nem acelere o metabolismo do etanol.  O que alguns medicamentos fazem é aliviar os sintomas (analgésicos, antiácidos ou anti-histamínicos). Sucos, água-de-coco e isotônicos (sem álcool) repõem água, sais minerais e vitaminas perdidos. O refrigerante não hidrata, mas ajuda contra a queda da glicose. Portanto, tomar medicamentos antirressaca tem pouco fundamento científico.

“São drogas que misturam substâncias contra náuseas, analgésicos e cafeína, tentando amenizar alguns dos sintomas. Seu efeito não perdura muito e alguns contêm anti-inflamatórios ou aspirina, que irritam o estômago. A maioria não age sobre a desidratação, sobre a hipoglicemia, nem sobre a irritação que o acetaldeído provoca nas células. O problema maior é: além de não funcionar bem como prevenção, ainda pode estimular o indivíduo a beber mais, por sentir-se protegido contra os efeitos do consumo exagerado”, frisa a médica.

Para quem exagerou e ficou de ressaca, Paula Pires recomenda: “De nada adianta banho frio, café, chás, produtos com cheiro forte ou qualquer outra medicação caseira. O essencial é hidratação, carboidratos e bastante repouso. Repouse, descanse e relaxe. Habitualmente, a ressaca melhora até o final do dia. A ingestão de água e suco durante todo o dia diminui o tempo da recuperação. Coma leve, frutas e verduras, e prefira sopas e caldos, evitando alimentos gordurosos”.

Em poucas palavras, como prevenir, então?

A médica endocrinologista faz outras recomendações. Confira!

Quanto às bebidas:

1 – Nunca beba com estômago vazio, pois o álcool cai na corrente sanguínea em 30 min;

2 – Tome devagar e sempre depois de ingerir alimentos com proteínas e carboidratos;

3 – Uma alternativa é beliscar durante a festa enquanto bebe, pois ajuda a retardar a absorção;

4 – Beba muita água antes, durante e depois da festa. É a melhor dica;

5 – Toda vez que urinar, beba água, suco, isotônico ou refrigerantes (com açúcar, último caso);

6 – Beba muitos líquidos ao acordar e, se não tomar café sempre, evite-o, pois é diurético.

Quanto à comida:

1 – Coma carboidratos (frutas, cereais, grãos e massas com dê preferência aos integrais);

2 – Tome um café da manhã reforçado (frutas, leite, cereais integrais, iogurte, queijo ou ovo;

3 – Não pule refeições ou fique horas sem comer;

4 – Beba de 2 a 3 litros de água por dia. Se dificuldade, opte por chás gelados e água de coco;

5 – Antes de sair de casa, faça uma boa e saudável refeição para não chegar com muita fome;

6 – Para ter energia, comida leve: salada, proteína, leguminosa e carboidrato (batata doce ou inglesa, macarrão, mandioca e arroz) para aguentar a festa toda!

com Assessorias

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